Por Henrique Cesar Tupper
A ansiedade pelo término do WCT desse ano de 2014 me lembrou a de uma torcida de um time de futebol ao virar do primeiro para o segundo tempo vencendo por um a zero. Faltava pouco, mas nos últimos 45 minutos tudo podia acontecer.
Independentemente da atuação de Alejo, que foi fundamental para a coroação brasileira ao vencer Fanning, Medina foi brilhante mais uma vez durante a etapa de Pipe. Chegou a final e fez aquela final.
Vale ressaltar sim o mérito do Alejo ao vencer Slater. Mas que fique claro que essa vitória, em nada ajudou ao Medina, pois o Slater já não poderia ultrapassar o brasileiro no ranking final.
No tocante a bateria final, acredito que o Medina só não foi campeão do Pipe Master por erro dos juízes: ao dar 9,93 para a primeira onda do Julian Wilson, os juízes não tinham como dar uma nota maior que 10 para o tubo deep do Medina para direita de backdoor. Assim, ao juízes overscored a primeira onda do australiano, não havia nota diferencial que avaliasse de forma adequada a primeira onda do brasileiro.
De qualquer forma, Medina fez história também em Pipe, alcançando a melhor posição de um brasileiro. Aliás, que história: ser vice campeão em Pipe alcançando 19,20, em uma final até a última onda.
Algumas análises podem ser feitas das etapas realizadas ao longo do ano de 2014:
Medina é um monstro de habilidade. Sabe realizar durante as baterias todas as manobras aéreas, entubar e demais manobras clássicas
Medina é um monstro tático nas baterias: o que ele fez na final de Fiji, e o nervosismo de Slater na final de Teahoopo são sinais de maturidade competitiva;
Medina surfa e entuba muito bem para direita: eu mesmo tinha dúvidas se a ondulação fosse para backdoor (direitas) ele performaria bem. Bobagem. Tirou um 10 na final e arrebentou de backside contra o Filipinho e Josh Kerr, no Round 4 do Pipe master. Não podemos esquecer que ele estraçalhou em Snapper rocks no início do ano, local em que um goofie footer estrangeiro não vencia há mais de uma década;
Felipe Toledo parece que vai dar trabalho para os concorrentes no próximo ano;
Algumas dúvidas temos para o próximo ano:
- Se o John John Florence aprender a competir da mesma forma que ele surfa? Seria ele imbatível? Na minha opinião ele é o surfista mais completo e o que mais empolga. Mas taticamente ele não consegue reverter o surf dele em bons resultados;
- Slater continuará a competir no WCT ou se dedicará ao sua empresa? Essa é minha dúvida;
- Até quando Charles continuará acompanhando Medina de perto? E se deixar de acompanhar, Medina continuará sendo um monstro tático nas baterias? Lembro da relação Larry e Guga no Tenis. Me parece natural haver uma maior independência atleta-técnico com o passar dos anos;
- O feito do Medina atrairá patrocinadores para o campeonato brasileiro de surf profissional? Pergunto isso pelo fato de que hoje me parece que há um apagão de campeonatos no Brasil. Sem campeonatos não há renovação e sem renovação não haverá novos Medinas;
Muitas dúvidas para um novo ano que vem.
Por fim, gostaria de registrar o meu agradecimento aos nossos editores do Surf 100 Comentários que, na minha opinião, estão recompensados com esse título mundial do Medina: Alexandre Guaraná e Marcelo Andrade.
Ambos labutam no surf há décadas. Guaraná durante anos foi a minha fonte de leitura mensal através dos seus textos nas mais diversas mídias especializadas. E tenho certeza que o seus textos foram inspiração para diversos novos surfistas que queriam aprender um pouco mais do esporte.
Marcelo, por sua vez, ao invés de investir em uma carreira de economista, optou por dedicar toda a sua energia na organização do circuito brasileiro de surf profissional durante 10 anos. Um circuito com altos e baixos, mas que formou diversos surfistas que hoje estão aí.
Imagino a emoção dessa dupla ao ver um surfista brasileiro ser campeão mundial. Parabéns Medina, parabéns Guaraná, parabéns Marcelo e parabéns família ‘du surf”.