Nordeste anos 80 – Minhas lembranças

Nordeste anos 80.

O programa 80 e Tal, do canal Off, trouxe lembranças maravilhosas para quem viveu naquela época. Fui convidado para ser um dos entrevistados e me senti honrado em contribuir com minhas lembranças para esse projeto. Meu pai era militar, e boa parte dessa década morei em Recife, onde fiz grandes amigos. Com certeza foram os melhores anos da minha vida.

Semana passada fui para Pernambuco relembrar os bons tempos, e cada amigo que encontrava me falava do programa. Perguntavam porque A, B ou C não haviam sido citados no episódio do nordeste. Expliquei que é impossível mostrar em 25 minutos dez anos de história de uma região. Que o intuito do programa é contar um pouco do momento do esporte durante aquela década.

Fiquei pensando nisso por um tempo, imaginando que poderia fazer um texto para falar de figuras e fatos que me marcaram naquele período. Por isso estou aqui rabiscando alguns pensamentos. Claro que fica mais fácil falar de Pernambuco porque foi onde morei.

Algo de extrema importância para o desenvolvimento do esporte no nordeste, foram as fábricas de pranchas. O trabalho realizado por seus donos ajudaram a formar grandes atletas do surf nordestino e brasileiro. Eles patrocinavam e apoiavam os surfistas de seus estados e da região.Posso citar algumas que tiveram grande relevância no cenário nordestino dos anos 80. A Nortão, de Odalto Castro do Ceará; A Radical, de Ronaldo Barreto, do Rio Grande do Norte; A Realce Nordeste, de Rogério e Romulo Bastos; A Magia, de Ricardo Marroquim; E a Arrecifes de Ary e Yalor Araújo, as três últimas de Pernambuco.

Eraldo Gueiros, Carlos Burle, Romulo e Rogério Bastos em cima da van da equipe Realce Nordeste. Foto Instagram Realce

Eraldo Gueiros, Carlos Burle, Rômulo e Rogério Bastos em cima da van da equipe Realce Nordeste. Foto Instagram Realce

Odalto era um dos nomes fortes do Ceará. Foi o primeiro brasileiro a sair em uma capa da Surfing Magazine, surfando em Pipeline, no Havai. Patrocinava os melhores atletas do seu estado. Cesar Picureia, na minha opinião o melhor surfista competitivo do Ceará dos anos 80, era atleta Nortão. Ronaldo Barreto tinha uma equipe de respeito. Suas pranchas eram consideradas mágicas por muitos que usaram. Felipe Dantas, Sérgio Testinha, e Joca Junior devem ter sido seus melhores pilotos de teste da época. Rogério e Romulo tinham muita visão de mercado. Assumiram o posto de prancha líder de vendas no nordeste. A equipe da Realce era muito forte. Só para ter uma ideia dos atletas que usaram suas pranchas na segunda metade da década, Fabio Gouveia, Joca Junior, Sérgio Testinha, Zé Radiola, Eduardo Fernandes, Hilton do Valle, Fred Barros, Carlos Burle, Carlos Pereira, Jojó de Olivença e outros que me fogem a memória. Conseguiram formar um dream team nordestino. Ricardo Marroquim, o Marroca, é um shaper muito bom até hoje. As melhores pranchas que tive na época foram dele. Uma adaptação de uma prancha de Joey Buran foi uma grande evolução para a galera de Pernambuco. Seu irmão Claudio Marroquim, Eraldo Gueiros, Carlos Burle ( antes de sair para a Realce ), Sandro Black, Helio Coutinho, Rogério Soares, Rodrigo Trajano e o próprio Ricardo, arrepiavam por todo o litoral. Ary e Yalor também tinham uma bela equipe. Antônio Carlos, Fabio El Loco, Xuca, Marcelo Loureiro, Ratinho, e Ary, davam um gás nas competições. As pranchas eram shapeadas por Ary e Yalor cuidava do negócio. Encontrei com Ary semana passada e sua prancha me chamou bastante atenção pelo refinamento do seu shape, principalmente nas bordas.

Ricardo Marroquim continua shapeando em alto nível.

Ricardo Marroquim continua shapeando em alto nível.

Um shaper que não posso deixar de falar é Piet Snel. De família holandesa, Piet teve uma importância enorme para a evolução do esporte em Pernambuco. Seu conhecimento e experiência, trazidas de suas viagens pelo mundo, foram de suma importância para a galera local. Foi um dos descobridores de alguns dos picos de fundo de pedra que fazem a diferença hoje em dia. Sua prancha, a Concha Surfboards, sempre foi feita de forma artesanal. Paulo Cristo, André Albuquerque da Universo,  João da Argo,  Júlio Marques da JM , Anderson Ginani da Alamoa, e Suíno, também faziam boas pranchas para a galera.

Mudando de assunto para eventos, três foram de grande importância para o intercâmbio entre o sudeste e o nordeste. O Arrecifes Pro, realizado em Gaibú; O Circuito Realce, que começou com uma triagem no Acaiaca, em Boa Viagem, e terminou em Maracaípe; E o Match Balin, também realizado em Maracaípe . Os dois primeiros trouxeram grandes nomes do Rio de Janeiro para concorrer a pranchas e passagens para o exterior. Em Gaibú, no Arrecifes Pro, Marcelo Bôscoli, do Rio de Janeiro, venceu na Pro, e seu conterrâneo Sergio Noronha no amador. A etapa do Realce foi vencida por Zezito Barbosa, com Daniel Friedmman em segundo, Cauli Rodrigues em terceiro, e Sérgio Testinha em quarto.

Marcelo Bôscoli levantando o troféu do Arrecifes Pro.

Marcelo Bôscoli levantando o troféu do Arrecifes Pro.

 

O Match Balin, em fevereiro de 86, foi um evento grandioso. Talvez o maior realizado antes do Fico, em Salvador, no ano seguinte. A premiação foi muito boa, e surfistas do Rio e São Paulo prestigiaram a competição. Maracaípe foi invadida por uma legião de jovens querendo curtir a semana perto dos grandes nomes nomes do surf nacional. Tinguinha Lima, de São Paulo, venceu na Pro, e Coquinho, do Rio de Janeiro, no amador. Uma semana de competições e festas. Geraldo Cavalcanti, que organiza os eventos até hoje, junto com Ernani Bergamo da Match e Serginho da Bali, foram os responsáveis pelo sucesso do campeonato.

Muitos me perguntam porque os nordestinos são tão talentosos. Acho que a reposta está na água quente que permite ficar horas dentro d’água treinando suas manobras sem ser incomodados por roupas de borracha ou frio. Fora isso, surfam em fundos de pedra, tem Noronha do lado, e  beach breaks que permitem fazer diversos tipos de manobras. O que mais me impressiona é a velocidade que imprimem em suas pranchas.

Paulinho Porrete foi um dos melhores surfistas de Pernambuco nos anos 80.

Paulinho Porrete foi um dos melhores surfistas de Pernambuco nos anos 80.

Nos anos 80 muitos arrepiavam. Vou começar por Pernambuco porque foram caras que acompanhei mais de perto. Tenho que iniciar minha lista por Paulinho Porrete. Extremamente talentoso, tinha uma linha de surf muito bonita. Tanto de front quanto de back, sua maneira de surfar era impecável. Junto com seu companheiro, e amigo, Zezito Barbosa, faziam uma dupla vencedora em competições pernambucanas e nordestinas. Zezito era uma máquina de competição. Rápido e habilidoso, foi o vencedor da final memorável do Circuito Realce. Era um competidor que arriscava muito e errava pouco. Claudio Marroquim também fazia parte desse seleto grupo de vencedores. Surfava com muita pressão e versatilidade. Suas manobras me impressionavam muito. Continua em forma, sendo campeão brasileiro master da sua categoria. Peguei umas ondas com ele na Pedra Preta, semana passada, e pude constatar que ainda está arrebentando.

Claudio Marroquim em ação no brasileiro master da CBS. Foto: Divulgação

Claudio Marroquim em ação no brasileiro master da CBS. Foto: Divulgação

Zezito Barbosa surfando no Boldró, Fernando de Noronha em 80 e Tal. Foto: Nelson Veiga

Zezito Barbosa surfando no Boldró, Fernando de Noronha, em 80 e Tal. Foto: Nelson Veiga

Continuando a lista de grandes nomes do surf pernambucano, Fábio Quencas era um monstro. Habilidoso nas marolas, quebrava nas ondas grandes. Foi um dos surfistas mais completos que já conheci. Talvez o surfista com o maior potencial da época. Venceu uma etapa organizada para brasileiros no Havai. Seu amigo de Candeias,  Zé Radiola, também tinha muito prestigio.  Quebrava muito de backside. Seu pico preferido era um fundo de pedra para esquerda impossível de ser surfado hoje em dia. Os tubarões tomaram conta da bancada . Mudou para o Guarujá para representar muito bem o estado nos eventos da ABRASP. Outro que arrepiava muito para a esquerda era Hilton do Valle. Tinha um estilo muito bonito. Suas rasgadas eram algo de empolgar. Um competidor feroz, que não se entregava.

Fabio quencas Brasileiro master 2012.foto fabriciano jr Related images: Related image Related image Related image Related image Related image Related image Related image Related imageView more Images may be subject to copyright.Send feedback Fábio Quencas campeão da 1ª etapa do Circuito Pernambucano de Surf ... www.surfguru.com.br630 × 422Search by image O master Fabio Quencas surfou muito e ganhou a master na 1ª etapa do Pernambucano 2011 de Surf em Maracaípe - foto: Fabiana Mourato

Fabio Quencas é um dos maiores nomes da história do surf pernambucano. Um surfista completo.   foto: fabriciano jr

Eraldo Gueiros e Carlos Burle, meus amigos e companheiros nesta década, foram referência do nordeste no Circuito Brasileiro da ABRASP. Fizeram parte dos Top 16 por alguns anos. Tive o prazer de ser técnico dos dois por um bom tempo. Surfavam qualquer tipo de onda com a mesma maestria. Eraldo tinha um pouco mais de pressão, mas menos competitividade. Mudaram seus rumos e se tornaram dois surfistas internacionais em ondas grandes. Fizeram uma dupla de sucesso no Tow In, quebrando recordes e alcançando o pódio em várias competições. Burle ainda está representando o Brasil em competições da WSL Big Waves. Acabou de ficar em quarto lugar na etapa do México, com ondas de 15 a 18 pés.

Eraldo Gueiros e Carlos Burle fizeram seus nomes surfando ondas grandes, na remada ou no Tow In. Foto: Globo.com

Eraldo Gueiros e Carlos Burle fizeram seus nomes surfando ondas grandes, na remada ou no Tow In. Foto: Globo.com

Além dos nomes citados, posso dizer que já bati palmas para atletas que se destacaram em competições locais e nacionais levando a bandeira de PE. Walter Coelho, Napinho, Marcelo Jacques, Sávio Carneiro, Deca, Alexandre Martins, Paulinho do Derbi, Bráulio, José Antônio, José Tavares, Sergio Buarque, Marcelo Cutback, Sandro Black, Hélio Coutinho, Gerson Bambam, Clemente Coutinho, Antônio Carlos, Fabio El Loco, Xuca, Marcelo Loureiro, Ratinho, Fernando Cruel, Eduardo Fernandes, Rogerinho, Paique, Fred Barney, os irmãos Rodrigo e Diego Trajano, Kaká Campos ,Guga Roque, Luizito Almeida, Mario Neto,Paulo Smurf, Romerinho, Gustavo Aguiar, Bolinho, Paulo Tampinha, Marinho e outros que me fogem a lembrança.  Também tenho que citar alguns surfistas de alma que sempre estavam presentes nas sessões de surf. Guilherme Coutinho, Manolo, Duda e Henrique Dick, Paulo Roma, Adolfo, Luiz Godoy, Augusto Godoy, Kang, Rubro, Zé Henrique, Caverna, Alexandre Vovô, Alvaro, Guga Babu, Mauricio da Fonte, Olímpio, Chico Calango, Topó, Artur Tavares, Caneta, Albino Malta, Marlon, Beja, Bruno Pig, Rui Chapéu, Sergio Murilo, Edgar Negão, Fernando Guilherme, Fernando Murrinha, Trapa, Alexandre Gueiros,  Giorgito, Flavio Melo, Balaco, Nem Batatinha, Suíno, Biu Rodinha, Airton PB Almeida, Hiltinho, Júlio Marques, Ivan, Tenente, Caneca, Alex, Poica, Mocorongo, Ney , Edinho, Panterinha, Paulo Charuto, Baiano, Leopoldo, André Maia, Zelo, Nildinho, Lucídio, Robinho, Marcio e André Quebra Coco, Coveiro, Neno, Renato Mazzini e alguns que me fogem da memória.

Em minhas viagens para campeonatos pela região pude acompanhar de perto outros surfistas de grande qualidade. Felipe Dantas e Sergio Testinha eram os dois maiores nomes do surf potiguar e nordestino. Felipe era um competidor nato. Talvez o maior tuberider do nordeste naquela época. Já conhecia vários fundos de pedra, e suas viagens para Noronha eram constantes. Na minha opinião o primeiro surfista profissional do nordeste. Testinha era talento puro. Muita velocidade e criatividade nas manobras. Uma maquina de competição. Ganhar dele era foda. Fabio Gouveia teve muita influência desses dois atletas. Outro que pode ter influenciado Fabinho foi João Maria, da Baia Formosa. Muito humilde, e com poucas viagens, não conseguiu mostrar todo seu potencial a nível nacional. Quem o viu surfar no nordeste ficou de queixo caído. O Rio Grande do Norte tinha outros nomes de peso, mas a década foi de Felipe e Testinha. No final dos anos 80, Joca Junior e Hemerson Marinho apareceram como a renovação do surf potiguar. Os dois foram atletas do WCT e isso basta para dizer a grandeza desses atletas.

Felipe Dantas uns dos maiores tuberiders do nordeste de todos os tempos. Lagundri Bay, Nias, Indonésia. Foto: Santos Wau..

Felipe Dantas uns dos maiores tuberiders do nordeste de todos os tempos. Lagundri Bay, Nias, Indonésia. Foto: Santos Wau..

No Ceará tinham muito bons surfistas. Zorrinho, Odalto, Sarará, Picolé, e David mandavam bala na primeira metade da década. Depois Cesar Picureia foi o grande nome do estado em competições nacionais e regionais. Estilo polido, de manobras bem executadas, era um competidor frio, de muitos recursos. Em Alagoas, Carlos Pereira era o cara a ser batido. Tinha bastante versatilidade e força nas manobras. Estava sempre em Pernambuco, fazendo intercâmbio com a galera. Na Paraíba os dois atletas que me impressionavam eram amadores. Fabio Gouveia e Brainer Brito, o Mocó, destruíam nas competições de sua categoria. Em Sergipe, Saulinho estava sempre presente nas competições. Na Bahia, o número de atletas bons era muito grande. Jojó de Olivença foi o primeiro campeão brasileiro nordestino depois do surgimento da ABRASP. Porém, no começo da década Hilton Issa era O cara. Depois vieram Olimpinho, os irmão Argolo, Ricardo BC, Marcos Boi, e o próprio Jojó, que faziam a frente baiana no circuito brasileiro.

Jojó de Olivença foi o primeiro nordestino a ser campeão brasileiro de um circuito da ABRASP. Foto: Domingos Jr

Jojó de Olivença foi o primeiro nordestino a ser campeão brasileiro de um circuito da ABRASP. Foto: Domingos Jr

Gostava muito de ler a Visual Esportiva. Achava a revista a cara do começo da década. Depois veio a Fluir e fez uma frente a Visual. Era mais voltada para o surf. As duas mostravam muito do eixo Rio – SP, deixando a galera do nordeste com pouca visibilidade. Com a criação da Surf Nordeste, por Regi Galvão, os momentos dos atletas, e as competições nordestinas, passaram a ter seu espaço próprio. Até hoje Regi faz um bom trabalho de divulgação do surf da região. O Matador, jornal de surf, que trabalhei com Hélio Coutinho e Clemente Coutinho, foi outro veiculo que divulgou bem a galera de Pernambuco. Mais tarde Helinho, Clemente, Bia, e Marcelo Cartaxo, fariam o Surf Press, lider de mercado por anos em todo o nordeste. Helinho é extremamente criativo e inteligente. Ele e Regi são figuras importantíssimas na história do surf pernambucano e nordestino.

Revista Surf Nordeste em nova versão.

Revista Surf Nordeste em nova versão.

Se esqueci de alguém, ou de algum fato, me perdoem ou me ajudem lembrando de alguém ou de algo que não falei.  Meu intuito é lembrar os bons tempos que passei no nordeste, nos 80 e Tal.

Que tal?

Em Fiji, Medina deu aula de competicão, Slater de conhecimento e técnica para entubar, Taj de como se deve encarar a aposentadoria, mas o que ficou na minha cabeça nestas duas semanas foi como o episódio de estréia do “80 e Tal”, exibido no último dia 14 de junho e que irá passar às terças no canal Off, mexeram com os sentimentos dos quarentões, cinquentões e até sessentões que viveram dias de ouro nos anos 80. Éramos felizes e sabíamos!

Rafael Mellin nasceu naquela década mas com sua sensibilidade e ajuda de quem viveu intensamente aqueles anos, montou uma série de 13 episódios que contará muitas histórias divertidas e saudosas de gente que cimentou de vez a base do surf brasileiro. É óbvio que muita coisa boa e pessoas importantes ficaram de fora pois é impossível colocar todos. E que me desculpem os egocêntricos, o inportante aqui não é quem está na telinha, mas as lembranças representadas por uma grande turma que desfilou pelas praias país afora sonhando em viver do surf e para o surf.

As mensagens das meninas, agoras mães, dos gatões, alguns avôs, todos se referindo a uma época inesquecível, de muitas descobertas e aprendizado, me emocionou profundamente, me fazendo sonhar de novo com as viagens para a praia da Joaquina, palco principal do surf nacional naquela época. Também das esquerdas da Guarda e das direitas da Silveira com pouca gente (comparado a hoje) e muita estrada de barro. Das idas para Maracaípe e Stella Maris, com a galera sempre divertida e acolhedora do Nordeste. Das horas sem fim de surf no Meio da Barra recortado de valas, com minha CG e meus amigos farofados nas areias brancas ou batendo um rango no trailer Pureza.

Sinto saudade da rivalidade entre a Cristal Graffite, Hotstick e Hidrojets no Rio. Da idolatria pelo Cauli. De ver de perto o surgimento do fenômeno Dadá. Dos sábados com o Realce. Das gatinhas da Zona Sul. Da empatia com a turma de Nikiti (Dodô, Porquinho, Gilmar, Tatuí, Dico, Duca…). Dos foguetes do Beto, dos papos com Roberto (Valério), das risadas com Fedelho, Guto e Casquinha, da amizade pueril com Dudu e Guga. De Ubatuba. Guarujá. De descobrir o que eu queria fazer da vida ao conhecer Fafau e ele me fazer escrever meu primeiro texto pro jornal Staff.

Lembro de viajar de avião sem meus pais, da primeira trip de carro, de ter fã clube, de descobrir que em São Paulo tinha muita gente boa como a galera da Ripwave: Renan, Chulé, Pen, Zé Paulo. Das zoações no Joaquina Beach com Duca e Beto Cavalero. Das gaúchas, lindas de morrer. De passar o mês de julho em Garopaba num frio do cão. Do Mistura Fina na Barra, do Adrenalina do Xu. Dos tubos do Postinho. De ver o Brasa, Valdir e o Zulu destruindo no Quebra Mar. De apreciar meu camarada Xandinho desafiando as cracas no seu bodyboard. De ter conhecido Stephany, Mariana, Belinha, Tatiana e Glenda, as verdadeiras sereias dos sete mares.

Nunca vou esquecer do que assisti no Waimea 5000, com Fred X Cauli num Arpoador de gala. Nem de ver o Picuruta na Barra, com roupa de borracha verde e laranja surfando que nem gringo (nesses tempos isso era um baita elogio). De apreciar os estilos de Muga, Teté e Betinho Maluco na valinha do 3100 ou escutar o mestre Meco sobre a arte de esperar a onda certa. De ter meu walkman e escutar sem parar U2, Iron Maiden, INXS, The Cure e Fleetwood Mac. De ir morar no Barramares e conhecer as pessoas que fazem parte de cada pedaço de minha alma, com risos e lágrimas, típicas de uma grande família.

Os anos 80 foram coloridos, criativos, desbravadores. Foi quando vi Free Ride. Quando tive meu calcão Sundek original. Quando tive minha primeira prancha (uma Dick Brewer 5’7″). Quando encomendei minha primeira triquilha com o Roberto Bataglin, irmão do Pedro. Quando tive minha primeira CG a preço de custo. Quando ganhei do meu pai o primeiro colete de neoprene da O’Neill. Quando a menina que fazia a inscrição do Circuito Company/Cyclone ficou com preguiça de escrever meu nome e botou Alex Guaraná, o que acabou virando meu nome de guerra no surf e no jornalismo (eu odiava que me chamassem de Alex).

Recordo também de ficar boquiaberto ao ver Teco surfando e mais ainda ao descobrir que Neco, um pingo de gente, podia ser melhor. De ver Dedé e Jesus crescerem e se tornarem grandes caras. De ver Léo Trigo, Cadu e Marcelus arrepiarem com as pranchas do Pastor. De não acreditar nas ressacas que Rodrigo (Resende) se metia surfando morras impensáveis com apenas 17 anos. De usar os calções Flake dos Marcelos Burla e Magrão (este com papai do céu). De conhecer Wanderley Carbone, um gênio das artes e Marcelo Andrade, um dos meus maiores amigos. Tantas memórias…

O que é a vida sem olhar as páginas viradas? Somos o somatório delas e cada uma tem suma importância em quem você é. Lembrar de ontem é compreender o hoje.

Obrigado “Kid” Rafa pela busca do passado, importante na história de qualquer sociedade.

 

 

 

De Olho no Tour – Medina atropelou em Fiji

“Medina atropelou em Fiji” é o 35º episódio do programa “De Olho no Tour” e tem como assunto a expressiva vitória de Gabriel Medina no Fiji Pro 2016.
Análises sobre o ranking, o julgamento, quem do Brasil – além de Medina – fez bonito em Cloudbreak, quem decepcionou e muito mais você pode conferir no vídeo acima que tem os comentários de Marcelo Andrade e Marcelo Boscoli e apresentação de Carlos Matias.