De Olho no Tour – Os brasileiros são favoritos em Trestles?

O 40º episódio do programa “De Olho no Tour” tem como tema a etapa de Trestles do CT 2016. Os brasileiros são favoritos na competição?
Essa e outras questões são debatidas pelos especialistas Marcelo Andrade e Marcelo Boscoli, que será comentarista da WSL na transmissão ao vivo desta prova via internet.
Vale lembrar que em 2015 Adriano foi vice e Medina e Filipe ficaram em terceiro.

Assista:
Imagens: WSL e De Olho no Tour.
Edição: Carlos Matias.
Música: Pennywise – As Long As We Can.

De Olho no Tour – Polêmicas a parte, Slater sobrou

As apresentações surreais do maior nome do surf de todos os tempos Kelly Slater em Teahupoo, a bateria espetacular e polêmica entre Medina e John John na semifinal do Billabong Pro Tahiti e como vai ser a briga pelo título mundial até o fim da temporada são os principais assuntos do 39º episódio do programa “De Olho no Tour”.

A apresentação é Carlos Matias e os comentários são dos especialistas Marcelo Andrade e Marcelo Boscoli.

Assista:

Imagens: WSL e De Olho no Tour.
Edição: Carlos Matias.
Música: Pennywise – As Long As We Can.

Palmas, de pé, para ele!

Depois de duas semanas de momentos inesquecíveis durante a Rio 2016, quando eu pensava que nada mais me faria empolgar diante da TV, eis que ressurge das cinzas, Robert Kelly Slater, aos 44 anos, tendo uma das performances mais perfeitas da história do surf competitivo num dia final de evento. Foram quatro baterias, 77,34 pontos em 80 possíveis, o que dá uma média de 19,335 por bateria ou duas notas 9,66 por disputa. Não me lembro de algum surfista ter números destes no último dia de uma etapa do Circuito Mundial.

O que Slater fez em cima de sua prancha triquilha cheia de envergadura (que mostrou-se ideal para os drops rápidos, estoladas e controle no foam ball) foi uma das maiores performances que tive o privilégio de assistir. E dessa vez, na minha TV de led, no escurinho, em casa, coisa de cinema.

Sei que estamos diante de uma mais que provável disputa entre os dois melhores surfistas do planeta atualmente – Gabriel Medina e John John Florence – pelo título mundial da temporada. Mas a cada saída mágica de algum tubo, Kelly simplesmente me fez esquecer o ranking e me lembrar da qualidade, da genialidade, do prazer de apreciar gente como Michael Jordan, Pelé, Federer, Phelps, Bolt… Não soa exagero, mas Slater, para mim, está no mesmo patamar deste caras, com um adendo, nenhum destes citados acima manteve o nível apurado durante mais de 25 anos.

O maior nome do surf mundial deu show em Teahupoo.

O maior nome do surf mundial deu show em Teahupoo. Foto: WSL – Cestari

Penso que o universo conspira a favor de certas pessoas. E tanta harmonia. aliada ao mínimo detalhe dentro de uma onda, tornaram Kelly hoje (quando escrevo) numa obra prima da natureza, parte do mar, como se fosse um golfinho pulando e mergulhando em sua dança frenética e linda, sabendo que toda aquela movimentação e energia quebrando numa bancada rasa de coral a 1500 metros da costa fosse um palco preparado para o maior espetáculo da Terra. Kelly não é bailarino, mas ele dançou nas ondas de forma tão perfeita que até uma sereia seria capaz de jurar que ele mora lá.

Por alguns momentos, deveríamos deixar de falar sobre juízes e suas opiniões, de garfos, rodeios ou assaltos. Vamos dar destaque a perfeição “Do Surfista”, no seu segundo habitat, o mar. A vitória no Tahiti deu um pouco mais de emoção e quem sabe o toque final, demonstrado pelo choro copioso de Slater, como uma criança, na premiação. Se fossem outros tempos, talvez a cara arrogante estaria ali. Mas não agora. O maduro Freak, ET ou seja lá como você o define, voltou a ser de carne e osso, apesar de vestir a lycra dos deuses.

Abençoados somos nós, que podemos ver, ao vivo e a cores, a genialidade de um mito. Desculpem-me Medina e John John, mas hoje os louros reaparecem na cabeça lisa e oval dele. A coroa é velha, mas tem dono. Aos outros restam admirá-lo e quem sabe aprender: A saber ganhar, a se motivar, a surfar. A nós, cabe agradecer por fazer parte de uma geração que viveu na mesma época. Daqui há 20 anos, certamente vou poder dizer: “Eu vi Kelly Slater!”

Quatro notas 10 e várias notas próximas desse patamar. Um verdadeiro ET. Foto: WSL - Cestari

Quatro notas 10 e várias notas próximas desse patamar. Um verdadeiro ET. Foto: WSL – Cestari

Do sertão para Tóquio

Estava há bastante tempo preparando este texto, afinal de contas, para mim é um assunto importante e precisa ser debatido com equilíbrio. Mas uma série de depoimentos num post criado por Roberto Perdigão concluiu meu raciocínio. Vamos em partes.

Há alguns dias, o COI (Comitê Olímpico Internacional) informou que o surf, dentre outros esportes, faria parte do programa dos Jogos de Tóquio, em 2020. Ao meu ver, uma decisão atrasada, pelo menos 4 anos, pois com as excelentes ondas que quebraram no Rio durante nossa Olimpíada a disputa por medalhas em águas cariocas seria sensacional.

Sempre rolou muita discussão sobre o surf entrar para os Jogos Olímpicos, só que uma vez definido, pouco li ou escutei sobre o assunto. Muita gente acha que o crowd vai aumentar, outros que daria um novo boom no mercado, mas na verdade é que, ao menos no Brasil, do jeito que as coisas vão, nada parece que vai mudar.

Sou contra o formato escolhido pelo Brasil para fomentar o esporte em geral. Temos inúmeros exemplos mundo afora, em particular nos Estados Unidos, onde o esporte anda junto da educação, num modelo que forma mentes capacitadas e grandes campeões. Alguns países, como a Rússia e China, preferem usar o esporte como propaganda política e, ao que parece, inclusive se utilizaram de doping para mascarar performances.

Por aqui, nem isso estamos fazendo. Um trabalho tímido revela alguns talentos, mas a realidade é que os atletas brasileiros dependem basicamente de suas famílias e de uma gigantesca determinação para conseguirem vencer. E isso até certo momento, pois depois, relegados ao ostracismo, muitos (os que não vencem) sucumbem à falta de preparo e educação, vivendo na miséria e esquecidos no tempo, sempre cruel.

O surf brasileiro atual, vive uma crise de identidade grave, que aflige todos os setores, desde os clubes de surf ou associações até o próprio mercado de surfwear, baleado pela crise econômica. Não ache que por termos os dois últimos campeões mundiais profissionais somos ouro em organização e administração. Ao contrário, estamos divididos em duas regiões, a Norte e Sul, numa briga que só nos leva ao buraco.

A CBS (Confederação Brasileira de Surf) simplesmente não consegue unir o país. E para, em 4 anos, formarmos uma equipe para o Japão, é necessário muito trabalho em conjunto e harmonia, o que é impossível atualmente. Acho que esta oportunidade deveria ser aproveitada para organizar nossa base e tentar, neste curto espaço de tempo, colher algum fruto nem que seja apenas para ter o Circuito Brasileiro novamente. Sei que é muito mais fácil chamar o Medina, o Toledo ou o Mineiro para disputarem no Japão. Mas do que isso nos ajudaria concretamente além de uma chance maior de ganhar simples medalhas?

Gabriel Medina entrando no clima olímpico.

Gabriel Medina entrando no clima olímpico.

O Brasil, através de cabeças bem intencionadas e com profundo amor ao esporte, foi um exemplo de formação de atletas e seres humanos durante muitos anos. Poderia ficar aqui até amanhã escrevendo os nomes de diversos surfistas que se tornaram pessoas de bem devido ao preparo que tiveram durante sua adolescência, viajando e conhecendo novos horizontes, com disciplina e responsabilidade. Mas parece que nenhum deles herdou o dom ou a vontade de se tornar um dirigente (que no fundo são políticos), palavra tão esculhambada para grande parte do nosso povo, mas que é fundamental para que as engrenagens funcionem e a máquina possa produzir Gouveias e Padaratz aos montes.

Equipe brasileira no ISA Games de 2011. Foto: ISA/ Divulgação

Equipe brasileira no ISA Games de 2011. Foto: ISA/ Divulgação

Chegamos a um impasse, onde é necessário sangue novo cercado de experiência. Não dá para olhar mais para as figuras de sempre dirigindo o nosso esporte. Todos são bemvindos, mas como conselheiros e não como líderes. E também chega deste papo de surf amador. Isso é balela. Quem trabalha tem que ser muito bem remunerado e com transparência. Um salário fixo ou bônus por produção são fundamentais para que alguém tenha a motivação de se jogar de corpo e alma neste desafio. Que se contrate um CEO. Que a diretoria fiscalize. Que os conselheiros fiscalizem. Que os atletas participem de tudo e não apenas na hora de vestir uma lycra. Tá na hora de se sentarem e conversarem para chegar a algum lugar. Que se engulam os egos, a inveja, a cobiça. Vamos pensar num bem maior.

Aposto que os EUA e Austrália, dominados por nós há algum tempo, vão se organizar e tentar retomar a hegemonia que perderam no Tour. E não se engane, isso começa na base, nos bairros, praias, clubes com garotos e garotas de pouca idade. Hoje temos alguns fenômenos, mas assim como no futebol, em algum momento a fábrica para e ficaremos pra trás.

O surf pode crescer muito com a inclusão nos jogos olímpicos. Foto: ISA/Divulgação

O surf pode crescer muito com a inclusão nos jogos olímpicos. Foto: ISA/Divulgação

Não interessa se o futuro vem do Oiapoque ou Chuí. O que importa é que nossos filhos consigam reviver aquilo que eu vivi quando era moleque. Uma aura de competição que me deu amigos de uma vida. E concordo com Perdigão numa coisa: o diálogo sempre é fundamental, mas a falta de ação é mortal. Não podemos pecar pela intransigência, nem pela falta de atos. Que todos sejam sábios e consigamos retomar o rumo.

De Olho no Tour – Medina e John John na caça de Wilko

No 38º episódio do programa “De Olho no Tour” Marcelo Andrade e Marcelo Boscoli falam sobre a etapa taitiana do CT 2016, que acontece entre os próximos dias 19 e 30 de agosto, na bancada sinistra de Teahupoo.

O reforço brasileiro Bruno Santos que venceu a triagem, quem vai fazer mais barulho entre os atletas tupiniquins e a liderança ameaçada de Matt Wilkinson por Gabriel Medina e John John Florence, são alguns dos assuntos do novo episódio que tem apresentação de Carlos Matias.