Chutômetro das ondas 29-05

Sábado dia 30 – Aproximadamente um metro e meio, com ondulação de sul/sudoeste, e vento oeste fraco pela manhã, passando a tarde para sudeste. Melhores condições: Macumba, Grumari e Pontão do Leblon.

Domingo dia 31 – Um metro a um metro e meio, com ondulação de sul, e vento nordeste fraco pela manhã e moderado a tarde. Melhores condições: Macumba e Grumari.

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Foto Minduim

Fabio Fabuloso

Minha admiração por Fabio Gouveia começou muito antes dele ser um ídolo nacional. Foi nas competições em águas nordestinas, onde já era destaque. Ele e seu companheiro, o paraibano Brayner Brito, o Mocó, já faziam um estrago danado nos eventos amadores do nordeste. Fabinho era apontado por Walter Porpino, seu patrocinador local, como o futuro melhor surfista do nordeste. Não sabia que sua visão era curta e Fabinho seria um dos melhores do Brasil, e do mundo, em pouco tempo.  O garoto que surfava com uma base esquisita, tinha um potencial enorme, que não tínhamos como perceber naquele momento. Sua admiração por Tom Curren, e suas viagens para surfar ondas boas, corrigiram sua base. Seu estilo passou a ser muito polido e apreciado por todos.

Fabio Gouveia apurou seu estilo pegando ondas boas e observando seu ídolo Tom Curren. Foto: Pierre Tostie

Fabio Gouveia apurou seu estilo pegando ondas boas e observando seu ídolo Tom Curren.
Foto: Pierre Tostie

Era um garoto simples que gostava de frequentar as longas direitas da Baia Formosa, talvez o seu local de treinos favorito. Mas o Dique de Cabedelo, o Bessa, ou a Praia do Macacos podem ter tido muita influência na sua formação como atleta.  João Pessoa, sua cidade natal, é um lugar calmo, com astral de cidade pequena. As pessoas que surfam praticamente se conhecem. Nesse clima tranquilo Fabinho desenvolveu suas primeiras manobras. Certamente sabia que não seria um lugar para viver a vida toda, pois a qualidade e a consistência das ondas não eram as melhores para desenvolver seu surf. Teria que ir para locais com condições mais consistentes de treino, para se tornar um atleta de ponta.

Sempre foi um cara humilde, de muitos amigos. Me pedia para participar dos treinos do meu clube de surf, em Porto de Galinhas, mas a rapaziada não queria competir com surfistas que não fossem do grupo. Garanto que elevaria o nível de todos, mas como convenser os membros que isso seria benéfico a todos? Os surfistas de fora não tinham espaço, principalmente pela forte rivalidade que existia entre os nordestinos. Não tínhamos circuitos estaduais fortes, e corríamos atrás de eventos nordestinos, realizados por toda a região. Os paraibanos eram bem vistos, mas mesmo assim existia um certa rixa da galera. Pelo fato de treinarem bastante em Marcaipe e no Cupe, tinham algumas regalias que cearenses e potiguares jamais teriam. E nessa de surfar bastante em Pernambuco, Fabinho conheceu sua mulher Elka, que na época era bodyboarder.  O casamento deles deixou Fabinho bem inserido no surf pernambucano, ainda mais porque seus três filhos nasceram ali. Passou a ser visto como um membro local, o mais importante do estado.

Vice campeão master da ASP. Foto: ASP/ Dvulgação

Vice campeão mundial master da ASP.
Foto: ASP/ Dvulgação

O começo de 86 foi o marco da história de Fabio Gouveia no surf brasileiro. O segundo no Op da Joaquina, em janeiro, e o terceiro no Match Balin de Maracaipe, em fevereiro, mostraram ao Brasil quem era o cabra paraibano que chegava para ser uma das grandes estrelas do nosso esporte. Em 87 foi campeão brasileiro amador. Em 88 campeão mundial amador, em Porto Rico. Depois disso, todos sabem, saiu pelo mundo com o Teco, abrindo as portas para os brasileiros no circuito mundial. Minha intenção não é relembrar de todos os seus feitos, mas refletir a importância dele neste momento em que estamos assumindo um novo patamar como potência do surf mundial. Com certeza, ele e os brasileiros que seguiram no WCT, já tinham aumentado nosso espaço dentro do tour, mas o Fabinho foi o maior exemplo de que podíamos chegar onde chegamos. Essa molecada que está ai deve ter visto seu último título brasileiro em 2006. Bem como, o melhor vídeo já feito, na minha humilde opinião, da trajetória de um surfista brasileiro, Fabio Fabuloso. Sua maneira de se portar como atleta profissional também serviu de exemplo para muitos outros.

Hoje, Fabinho trabalha como shaper, continua viajando atrás das ondas boas e participa dos eventos master pelo Brasil. Em junho terá um  master em Saquarema e certamente pegarei meu carro para conferir mais uma performance de Fabinho, nas ondas perfeitas de Itaúna. Um ídolo que tenho uma admiração profunda, muito mais pela pessoa que é, do que por suas atuações e títulos. Se temos a melhor geração brasileira de todos os tempos (Brazilian Storm) podem ter certeza que o Fabinho ajudou muito nessa caminhada. Por isso o reverencio sempre que o vejo.

Exímio Tuberider, Fabinho adora se entocar nos tubos. Foto: Marcio Davi

Exímio tuberider, Fabinho adora se entocar nos tubos.
Foto: Marcio Davi

Chutômetro das Ondas 22-05

Sábado dia 23 – Meio metrinho, ondulação de leste e vento nordeste moderado, passando para leste na parte da tarde. Fracas condições. Melhores lugares : Canto do Recreio, Prainha canto esquerdo.

Domingo dia 24 – Menos de meio metrinho, ondulação de leste e vento norte moderado, passando para leste na parte da tarde. Fracas condições,quase flat.

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foto: Minduim

FILIPE TOLEDO FEZ O SURFE DECOLAR

Por Pedro Falcão

 

Nem o mais otimista poderia prever um público tão ávido pelo surfe e um surfista tão determinado e preparado. Filipe Toledo ditou o ritmo, levantou a galera que entupiu a praia da Barra da Tijuca e transformou o esporte. A partir desse evento uma nova história começa a ser contada. Alguém já imaginou como conter a multidão em 2016? Pelo jeito que os brasileiros saíram do Rio, com a liderança e a vice-liderança do ranking mundial, vem coisa boa por aí.

Mas o que está na cabeça é a etapa da WSL desse ano. Quem fez parte não pode reclamar. Os patrocinadores saíram da praia em êxtase. Oi, Jeep, Corona, Guaraná Antarctica, Copertone, Samsung, (se esqueci alguém desculpe!) tinha marca dos mais diferentes segmentos, para todos os gostos. Só não tinha marca de surfwear…

E o mercado realmente fica um pouco de lado nesse momento. Na batalha para agradar patrocinadores e o poder público, o espaço e a atenção para a comunidade do esporte ficam reduzidas. Não que assistir da areia seja desmerecimento. Mas tem gente que merece estar em um plano acima, para assistir uma festa em que têm alguma responsabilidade nessa história.

A estrutura estava equilibrada, confortável para os convidados, competidores, imprensa e comissão técnica. Fora, uma área de ativação dos patrocinadores, com muitas atividades, cumprindo o papel. Alguns pequenos problemas com o sinal de internet alardeada pela imprensa e o credenciamento… Mas isso faz parte do jogo. Os organizadores estão de parabéns. Não é nem um pouco fácil fazer um evento desse tamanho, com um público dessa dimensão, em um espaço aberto.

O local do evento é um dos mais propícios da Barra da Tijuca. Mas realmente tenho dúvida se a Barra é o lugar único para abrigar um evento com atletas desse talento. Uma Fórmula 1 andando em uma estrada esburacada. Filipe Toledo ignorou as condições com atuações perfeitas. Local de Ubatuba, Filipinho dominou os adversários com um arsenal de manobras incríveis, com destaque para os aéreos.

Em condições difíceis os brasileiros dominaram as ações. O potiguar Ítalo Ferreira, o também potiguar Jadson André, o paulista Adriano de Souza, o também paulista Gabriel Medina. Todos levantaram o público nas vitórias e derrotas. Ainda está faltando a estrela dos paulistas Miguel Pupo e Wiggoly Dantas brilhar. Ainda tiveram a experiência única de competir na elite mundial os paulistas Alex Ribeiro e David do Carmo, em sua segunda participação.

Não sei se repararam, mas no Rio de Janeiro, na principal etapa do Circuito Mundial em toda a América do Sul não há a participação de um competidor do Rio. Não seria surpresa, se a história não escrevesse o contrário até pouco tempo. Nos anos 70, quando começaram os Festivais o domínio do surfe era do Rio de Janeiro. E foi assim nos anos 80. Foi assim nos anos 90. Já nesse século o estado foi perdendo força na formação de novos talentos. Hoje a situação é complicada. Nenhum representante entre os 100 primeiros do mundo. Nenhum representante entre os 20 primeiros colocados no circuito nacional em 2014. Como a cidade que é sede do maior evento de surfe do país não tem um surfista capaz de representá-la? Alguma coisa está errada.

De volta à Barra da Tijuca ficou um gosto de quero mais. A mídia colocou o surfe em um patamar nunca antes visto. Filipinho saiu da praia para o programa da Ana Maria Braga, onde o Mineirinho esteve enquanto se preparava para o evento. O caminho para o esporte está realmente aberto para todo o Brasil em rede nacional. Jovens e velhos, donas de casa… Todo mundo fala de surfe. Resultado de uma geração sem medo, que não amarela diante de qualquer que seja o adversário. Todos agora esperam Fiji, a próxima parada do Tour WSL. Vamos assistir a cobertura no Jornal Nacional. Fala Bonner!

Filipe Toledo fazendo a torcida delirar nas areias da Barra. Foto: WSL

Filipe Toledo fazendo a torcida delirar nas areias da Barra. Foto: WSL

Explicando o inexplicável

Enquanto o mundo inteiro está vidrado na tempestade brasileira, um surfista havaiano conseguiu um feito nunca antes realizado, nem mesmo por um integrante da saga tupiniquim. Matt Meola realizou a mais incrível manobra aérea da história do surfe mundial no dia 28 de abril de 2015 em um pico secreto na ilha de Maui, estado do Havaí, nos Estados Unidos da América. Só quem chegou perto do feito e detinha a menção honrosa foi o Maomé das ondas, Mr. Kelly Slater, com seu aéreo reverse 540 graus, dependendo da sua corrente de pensamento quanto a aéreos.

O feito foi batizado por Meola de “Spindle flip 540″ que como nome diz é uma rotação de 540 graus no eixo. Na prática é uma mistura de alley oop com rodeio, numa incrível rotação de 540 graus para 2 eixos diferentes, um com a prancha na vertical e outra na horizontal com as duas mãos na borda. Ou seja, revolucionário!

Como ele fez isso? Intencional ou instinto? Todos nós sabemos que surfe começou antes do skate e do snowboard, mas nossos primos do esporte estão a mil passos a nossa frente em termos de aéreos, não só pelo terreno imóvel que praticam seus truques como pela quantidade de praticantes tentando manobras em ambientes controláveis possibilitando a repetição em menos tempo. Porém é impossível ver um aéreo desse e não comparar a nossos parceiros de quatro rodinhas ou das montanhas de neve. Mas a grande comparação está sendo feito com o aéreo do Kelly Slater em Portugal, durante um freesurfe da etapa do WCT ano passado. Na ocasião KS executou um aéreo reverse com rotação de 540 graus. O do Matt Meolla a principio o aéreo parece um rodeo flip de snowboard mas colocando em contexto de um half pipe de skate, o qual considera-se o aéreo pelas rotações acima do coping, lip no caso, foi um 540 com uma inversão de eixo no final. Em entrevista a revista Surfing Matt Meola explica: “ Foi intencional porque pensei que era possível, mas esse particularmente foi instinto. Não tinha plano de mandar esse aéreo naquela seção. Eu estava querendo mandar um backflip mas quando eu decolei a rotação saiu de uma forma diferente eu tive de me adaptar e o vento me jogou alto suficiente para eu completar”. Uma inovação digna de gênio que ainda deixa todos nós especialistas confusos.

Mas o que interessa é que manobras como essa não só elevam o nível como dizem por aí, elas criam novas metas de alcance para os demais surfistas e até outros esportistas de boardsports. Desenvolver o esporte parte de ações como essa do Mat Meolla. É claro que não duvido que Filipe Toledo, Gabriel Medina, John John Florence, Noa Deane ou Dane Reynolds conseguirão igualar o feito em breve numa bateria do WSL ou em algum filme a ser lançado em um cinema próximo de você, mas a verdade que hoje, esse foi o aéreo mais inovador da historia do surfe.

Depois de detalhar como foi, contextualizar no mundo dos boardsports, ponto seguinte da minha avaliação foi a finalização da manobra. Ele completou? Na minha opinião sim. Uma aterrisagem dura no finalzinho da espuma, porém em cima da prancha com os 2 pés colados e todo equilíbrio (até porque estava segurando com as duas mãos na borda) desvirando a bico da prancha na direção da praia. Ele ainda fica uns 2 segundos sobre a prancha até ser derrubado pela espuma da onda. Comparo isso ao skatista que completa a manobra mas tem que sair do skate quando tem um obstáculo a frente, um gramado ou coisa que o valha. Ele ainda teve tempo de comemorar levantando os 2 braços para o alto enfatizando o término da manobra. Já o aéreo do Kelly Slater foi uma aterrisagem bem mais macia em cima espuma e que ele consegue controlar a prancha por mais tempo até chuta-la para finalizar a onda.

E por final para fecharmos o raio- x, comparemos a condição da pista, digo do mar. A onda que Matt Meola executa é uma bomba de pelo menos 1m de face, fundo de coral com muita força (vide a bomba atrás já estourada no 2nd reef) overhead para ele, a qual cria uma rampa que o faz voar mais de 1m de altura em comparação com o lip e mais de 3m se compararmos a base da onda. O vento ladal contrário a direção da onda é perfeito para execução do feito deixando a onda com lip esfarelando e criando a superfície perfeita para voo e aterrisagem sem grandes traumas. Já no caso do Kelly Slater, a onda de meio metro e o vento terral frontal forte só o arremessa a meio metro de altura em comparação com lip, até porque ele se projeta para frente e não tão para o alto como Meola. Duas técnicas diferentes para aéreos diferentes.

Tentar explicar o inexplicável para os amantes do surfe moderno é muito difícil e sei que ainda estou longe de decifrar a técnica de grandes talentos como esses dois surfistas e traduzir o dom que receberam. O que importa é ver a evolução do surfe e passar a informação para o máximo de pessoas possível para que assim o esporte cresça e se desenvolva gerando força para mais Meolas, Slaters e Toledos continuem quebrando todos os parâmetros desse esporte radical.

 

A grande festa

 

O efeito Medina foi mais devastor do que imaginava. A grande festa do CT, nas areias da Barra, foi algo jamais visto. Não falo isso apenas pelo enorme público que invadiu o Postinho, mas pelos patrocinadores que abraçaram o evento. Com certeza foi o ano que mais se arrecadou com verbas de patrocínio de marcas de fora do surf. Parece que o mercado está abrindo os olhos para o nosso esporte, mesmo em um momento tão delicado da nossa economia.  A vinda da etapa para o Rio, em 2011, foi motivada por essa possibilidade, que só se concretizou agora, muito pela exposição do título de Gabriel Medina. Ainda temos que contar com verbas públicas, pelo alto orçamento do evento, mas acredito que é questão de tempo para isso se modificar. A prefeitura do Rio coloca R$ 5.000.000,00 e o Governo do Rio incentiva algo parecido em impostos. A única crítica que tenho a toda essa verba , é que a prefeitura poderia investir um pouco desse dinheiro na base do surf carioca, que está passando um momento delicado. Com 200 mil garanto que a Feserj faria um excelente trabalho. Não adianta de ter essa grande festa sem uma contra partida a base local. Afinal, quem paga os impostos são aqueles que moram na cidade.

Estamos no melhor momento da história do surf brasileiro,  com a primeira e o segunda colocações do ranking do CT 2015, Adriano de Souza e Filipe Toledo respectivamente, e o campeão mundial de 2014, Gabriel Medina. Nossa torcida está cada vez mais entusiasmada e por isso invadiu Pipeline, estava forte em Snapper Rocks, e agora lotou as areias da Barra como se estivesse no Maracanã. Isso demonstra a confiança que temos nessa geração demolidora, que nos colocou no topo do mundo. Não estou afirmando que somos a maior potência do surf mundial, mas que nosso espaço está se ampliando. Se seguirmos esse rumo podemos chegar lá.

A performance de Filipe Toledo mostra isso. Foi uma vez mais um nível acima dos outros atletas da competição. Não ví nenhuma bateria que ele tenha passado qualquer sufoco. Muito pelo contrário, foi impondo seu ritmo sem se preocupar com seus oponentes. No último dia de evento, com um multidão enlouquecida por suas manobras aéreas, Filipinho apenas concretizou o que todos esperavam. Assim foi na Gold Coast, em Trestles, e agora no Brasil. Vendo a final com amigos, já imaginava que venceria com facilidade o australiano Bede Durbidge. Conquistou o melhor somatório do ano, com 19,87 em 20 pontos possíveis. Realmente assustador.

Filipe Toledo fazendo a torcida delirar nas areias da Barra. Foto: WSL

Filipe Toledo fazendo a torcida delirar nas areias da Barra. Foto: WSL

Adriano de Souza continua na liderança, mas era visível a frustação com sua derrota precoce. Perder no round 3 não estava nem nos seus piores pensamentos.  Estava surfando muito bem e foi uma surpresa para todos que acompanhavam a competição. Acredito muito nele, e acho que os resultados o deixaram, de certa forma, numa situação confortável. Fora o Filipinho, que chegou junto, todos que estavam no seu cangote também não tiveram resultados expressivos. A disputa está entre os dois, mas teremos Fiji e Teahuppo pela frente para confirmarmos se será isso até o fim, ou se aparecerão intrusos nessa corrida pelo caneco. Particularmente, acredito que John John, Mick Fanning, Kelly Slater e Gabriel Medina podem chegar junto, mas vamos aguardar.

Italo Ferreira e Jadson André mostraram muita vontade e talento nesta etapa. Italo foi barrado pelo campeão, na semi, conquistando seu segundo bom resultado em 2015. Para um novato, acredito que tenhamos que tirar o chapéu para o começo de tour do potiguar. Seu surf é moderno e tem muito a evoluir. Pode ser o grande Rookie de 2015. Seu conterrâneo Jadson já tem bagagem no tour e sabe que cada batalha tem que ser com sangue nos olhos. Não possui o talento de outros brasileiros, mas tem a garra e a vontade que poucos tem. Miguel Pupo e Wiggolly Dantas que começaram arrebentando na primeira etapa, não conseguiram mais ter bons resultados. Estão surfando muito bem, mas ficando nas fases iniciais. Silvana Lima é outra que tem dar um gás. Ainda não teve um grande resultado e isso é preocupante.

A festa das areias da Barra terminou mas é importante olharmos para a proporção que o evento tomou. Não gostaria de ser organizador desse evento, que cada vez tem mais espaço no palanque, mas que tem uma procura descomunal por pulseiras de acesso. Ficou nítido que o esporte explodiu e que teremos que saber cuidar daqueles que realmente trabalham e fazem muito pelo surf, pois essas pessoas não podem ficar de fora por falta de espaço. Compreendo a situação da organização, mas temos que valorizar os nossos, como  em todos os esportes. Ví muitas crianças nas áreas vips e senti falta dos grandes legends. Da mesma forma, penso que sites e blogs nacionais poderiam ser credenciados para trabalhar na estrutura. São instrumentos de divulgação do esporte que merecem respeito por seus trabalhos. Não é uma crítica, apenas um toque.

Filipe Toledo carregado pela torcida brasileira. Foto: WSL

Filipe Toledo carregado pela torcida brasileira. Foto: WSL

Chutômetro das ondas 15-05

Sábado dia 16 – Um metro, series maiores, com ondulação de sudeste/leste e vento nordeste fraco pela manhã, aumentando a tarde. Melhores condições : Arpoador, São Conrado canto esquerdo e Macumba Curvão.

Domingo dia 17 – Meio a um metro, com ondulação de sudeste/leste e vento nordeste fraco pela manhã, passando a leste a tarde. Melhores condições : São Conrado canto esquerdo, meio da Barra.

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Foto: Minduim

Viva os ídolos!

Há uns bons 10 anos, quando ainda era editor chefe da revista Fluir, tive um encontro com alguns surfistas profissionais num campeonato e eles, como sempre, me cobraram espaço nas páginas da revista. Diziam que a mídia especializada era a responsável por formar ídolos. Além de dizer que infelizmente nós tínhamos um limitador chamado número de páginas editoriais (obviamente não dava para colocar todos sempre), eu discordava, afirmando que os ídolos não são produzidos apenas pela imprensa e sim criados pelos próprios surfistas, com seu carisma e resultados, seja em competições ou em performances no free surf. E também, que a única mídia capaz de lançar um provável ídolo seria a TV, que atinge uma massa maior de pessoas. Pois bem, hoje, posso dizer que o surf tem ídolos de verdade. Sejam eles do seu gosto ou não, alguns surfistas se transformaram em semi-deuses para um enorme contingente de crianças e adolescentes, o que me soa extremamente ÓTIMO!

Com a exibição maciça de Gabriel Medina na mídias da Globo, logicamente ele é o precursor disso. Só que com os resultados apenas medianos neste início de temporada, ele acabou abrindo espaço para Filipe Toledo e Adriano de Souza, que não são desconhecidos do público, mas que agora, como vencedores e líderes do Circuito, chegam ao Brasil como estrelas de primeira grandeza. Gabriel e Toledo, por serem mais novos, acabam atraindo a atenção da galera mais jovem que não mede esforços para conseguir um autógrafo. Neste fim de semana, aqui na Barra, uma penca de garotos e garotas marcaram presença no gigantesco palanque do Oi Rio Pro à procura dos Top 32, de preferência os citados acima. O brilho nos olhos desta molecada ao falar dos momentos passados com seus ídolos, me fez lembrar da minha época de grommet, onde qualquer ação de um Tom Carroll, Occy ou Curren, o ídolo máximo, me faziam perder o sono. Me atrevo a dizer que o único estrangeiro capaz de igualar a procura seja John John Florence, que assim como os brasileiros, esbanja simpatia e um gigantesco talento.

Isto é muito saudável para o esporte, já que o surf vem dando sinais de esgotamento através dos anos, sendo ultrapassado no gosto da juventude brasileira pelo skate e sua geração de campeões como Bob Burnquist, Sandro Dias e o fenômeno Pedro Barros. Mas parece que a hora da virada chegou, pois além de ter uma geração vencedora, os surfistas tupiniquins no WSL são educados, com uma boa imagem e muito talentosos. E a cada evento no Rio, sinto que conseguem agregar mais fãs. Vejo inúmeras reclamações sobre as condições ruins de ondas, dificuldades de logística e agora a falta de limpeza das praias cariocas (realmente vergonhoso) porém é de suma importância este movimento na maior cidade litorânea do país (número de habitantes) e uma das maiores do mundo. O Rio, com seus prós e contras, sempre foi palco das novidades na cultura do Brasil e o surf está na raiz destas inovações. A região Sul e Nordeste, além é claro de São Paulo, são importantíssimas no nosso mercado e esporte, mas é no Rio onde muita coisa começa. E penso que estes anos em que o evento do WCT retornou a Cidade Maravilhosa, algo mudou, se transformou. Não é visível ainda, não atingiu talvez o mercado nem os promotores de Circuitos, mas existe, e está no sorriso de cada menino e menina de 10 anos correndo atrás dos seus ídolos.

Talvez a mídia não especializada escreva e produza muita besteira. Fato! Talvez estejam de olho neste momento de algumas marcas que estão investindo pesado aproveitando Medina e Cia. Fato! Mas o que importa são os frutos desta exposição e o uso disso em prol de nós mesmos. O SuperSurf voltou. O mercado, mesmo numa crise insana, continua vivo, não da maneira com que os atletas gostariam em relação a apoio, mas existe. As revistas especializadas, importantíssimas na credibilidade e termômetro do que rola, parecem estar melhor das pernas do que em 2014. Enfim, apesar de tudo, vejo uma luz no fim do túnel, iluminada por estes novos ídolos da juventude brasileira, que agora, mais do que nunca, tem o peso de não desapontar sua legião de seguidores, menos nos resultados e mais em suas atitudes. Ganhar é bom, ser um vencedor no sentido literal da palavra é ainda mais fundamental. Hoje, o surf tem ídolos de verdade, não menosprezando os nomes do passado, mas enaltecendo as consequências de um longo caminho que se iniciou na década de 70 e vive seu auge em 2015. De Cauli a Picuruta, de Teco a Fabinho, de Burle a Maya, agora é a vez dos “brazilian storm”.