A Invasão

São pouco mais de 21h30 do dia 19 de dezembro. E estou assistindo uma coisa que nunca imaginei que veria em minha vida: brasileiros dominando as areias de Pipeline. São dezenas de bandeiras, cantos de torcida e um garoto iluminado sendo ovacionado. O lugar onde os brazucas já foram agredidos, perseguidos, intimidados, virou arquibancada do Maraca. Gabriel Medina, como se imaginava, sagrou-se o primeiro campeão mundial de surf profissional brasileiro.

Photo: @kc80

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A tensão vista no seu semblante não foi suficiente para atrapalhá-lo. O exército de jornalistas, fãs, puxa-sacos, não foi capaz de tirá-lo do seu objetivo desde a surpreendente vitória em Snapper Rocks, na Austrália. Quem tremeu, foram Kelly e Mick, ambos múltiplos campeões do mundo, que foram despachados pelo Lancelot do Rei Gabriel, Alejo Muniz.

Foi um ano de sonhos, com um primeiro semestre espetacular, responsável por lhe dar tamanha vantagem no Hawaii, sempre complicado. Além do inegável talento, contou com uma série de acontecimentos a seu favor, desde a incrível não classificação de Jamie O’Brien no trials, que poderia ser um pé no saco em possíveis confrontos nos Rounds iniciais, até a performance inspirada de Muniz vencendo seus rivais na disputa pelo caneco.

Photo: @kirstinscholtz

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Mas o que valeu mesmo foram seus três belos tubos para o Backdoor, que mesmo pequeno, exigiu uma técnica apurada, digna de um tube rider nato, sem tempo para treinar in loco, mas com a ousadia de alguém que não desiste. Apesar de Pipe não quebrar no dia final do jeito que todos gostariam (parecia o melhor dia da Cacimba do Padre em todos os tempos), Gabriel usou e abusou do faro para tubos, construído nas boas ondas de Maresias e aprimorado nas bancadas de corais mundo afora.

Uma festa coroada com a atuação soberba no último evento da temporada, onde os Top tiveram que encarar as versões Netuno 8 ou 80, com ondas dos 3 aos 15 pés fechando. Coragem, inteligência, obstinação e sobretudo um suporte da família, principalmente do padrasto, que mostrou muito equilíbrio, tranquilidade e instinto paterno, tomando cuidado para que seu enteado pudesse sentir-se amparado no meio de um turbilhão inimaginável para um jovem de apenas 20 anos.

Dizem que mais difícil que chegar no topo, é manter-se nele. Pois Medina terá que encarar mais este desafio. Mostrar ao mundo que 2014 não foi um conto de fadas, mas sim o início da supremacia de uma geração, obviamente liderada por ele, que pretende tirar de vez o cetro de Slater, Mick e Cia.

É hora de Gabriel festejar, de aproveitar sua boa energia, de ter orgulho de conquistar os sete mares, mesmo sem as mesmas oportunidades que australianos e americanos tem. Não me iludo com este papo de que o título é nosso. Este título é de Gabriel Medina, de sua família, do CEO da Rip Curl brasileira Felipe Silveira, que acreditaram e apoiaram um projeto, há alguns anos, e viram as sementes da fé tornarem-se um belo fruto. Nós, meros mortais, podemos até nos sentir vingados do tal preconceito ou do tal complexo de vira-latas, mas o fato é que podemos ter orgulho do sucesso de um brasileiro e seu staff alcançando suas metas de vida, honestamente e com muita trabalho, o que é raro num país onde a patifaria e desrespeito ao próximo estão tão latentes.

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Foto: Instagram Laura Azevedo

Que venha 2015, que Gabriel curta seu momento, porque em fevereiro a batalha continua, e agora serão todos contra ele, o número um, o campeão mundial.

- ASP / Kirstin Scholtz

– ASP / Kirstin Scholtz

- ASP / Laurent Masurel

– ASP / Laurent Masurel

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