Prancha de Papelão

 

Depois da prancha feita com rolhas de curtiça, agora a novidade é a prancha feita de papelão. Os gênios criativos da Signal Snowboards desenvolveram uma prancha de papelão com quilha, bloco e longarina feitas com esse material. A prancha fica transparente, porque o bloco de papelão tem furos em forma de favo de mel, com uma camada de poliuretano em torno deles. Para a impermeabilização do bloco usa-se uma fina camada de fibra de vidro, que surpreendentemente funciona bem, além de ser capaz de ver os peixes sob prancha enquanto surfa. Parece muito leve e deve funcionar bem. Vejam o vídeo e tirem suas conclusões.

fonte: http://stoked.com/video/3999/transparent-cardboard-surfboard/

Para onde caminha o nosso esporte?

Por Dada Souza

http://surfonline.com.br/news/mercado/2014/09/para-onde-caminha-o-nosso-esporte/

 

O surf é um dos esportes náuticos mais praticados no Brasil (e no mundo) e um dos esportes radicais de maior visibilidade. Como mercado, o surf movimenta bilhões de dólares e possui circuitos profissionais e amadores e um grande número de atletas amadores e profissionais que vivem exclusivamente desse esporte. São atletas, juízes, fotógrafos, filmmakers, organizadores de eventos, empresários, fabricantes, comerciantes, representantes, todos apaixonados pelo esporte e que fazem parte de uma imensa indústria.

Nunca antes o surf brasileiro esteve tão na moda. Nomes como Adriano de Souza, Gabriel Medina, Miguel Pupo, Filipe Toledo, Alejo Muniz e Raoni Monteiro são destaque no surf mundial e atletas de ponta no WCT.  O Gabriel Medina e o Adriano de Souza são atletas que fazem parte de uma elite dentro da elite do circuito mundial  e são esportistas com grande destaque nas mídias impressas, eletrônicas e televisivas. São atletas que levaram o surf brasileiro a um patamar nunca antes alcançado. Mais do que isso, o brasileiro Gabriel Medina é o líder do ranking mundial e considerado o grande favorito ao título mundial de 2014. Ironicamente, o surf nacional passa por seu pior momento em termos de mercado e de estrutura. Amadorismo na gestão das entidades e dos circuitos, a falta de interesse e de investimento por parte das marcas e muitas pessoas utilizando as federações para uso exclusivo de seus interesses particulares são algumas das principais causas do problema.

Em termos de estrutura competitiva, o Brasil já teve um dos circuitos profissionais mais bem pagos do mundo e etapas com grande público e visibilidade. Hoje, depois de viver o melhor dos mundos em termos de circuito, o surfe brasileiro faliu, morreu. Não temos mais um circuito brasileiro profissional e não temos muitos dos antigos circuitos regionais. Nossos atletas praticamente não tem mais eventos ou premiações que os sustentem, nossa mídia especializada praticamente abandonou o esporte e as marcas e lojas se esquivam dos patrocínios como que o diabo foge da cruz. Sem eventos, sem patrocínio e sem retorno, não há jeito do esporte sobreviver. Hoje falta investimento e patrocínio e falta gente com credibilidade para administrar o esporte. Só falta a pá de cal.

Muita gente que faz parte da história do surf levanta uma questão importante: existem federações que foram transformadas em um negócio privado por seus presidentes. Não existem assembléias, nem prestação de contas, muito menos novas eleições. E isso tem acontecido de norte a sul do país. Sem uma gestão profissional e com dirigentes amadores e gananciosos, que visam somente seus interesses particulares, a maioria dessas entidades se transformou em empresa privada disfarçada de federação. O mesmo parece acontecer com as associações afiliadas. Quem está no poder não faz pelo esporte e nem larga a boquinha. Transparência e prestação de contas são conceitos que alguns dos  cartolas do surf parecem desconhecer.

Para onde vai o dinheiro das inscrições? Porque quase não acontecem novas eleições nas federações e associações? Por que não existem prestações de contas? Por que sempre as mesmas panelinhas controlam o surf nacional há décadas? Não deveria haver uma entidade idônea cobrando resultados e prestações de conta das Federações e Associações de surf? Por quantas vezes um dirigente de federação ou associação pode se reeleger? Quantas entidades de fato respeitam os estatutos vigentes? Quantas entidades dão algum apoio efetivo para seus atletas? De que lado está a imprensa especializada? São muitas as perguntas e poucas as respostas.

O surf, antes um esporte livre, rebelde e de contracultura, parece que vai aos poucos seguindo o modelo tão criticado da CBF: vive mamando nas tetas do governo e muitos de seus dirigentes administram em causa própria. Sem uma fiscalização e sem prestações de contas verdadeiras, a maioria dos “cartolas” do surf nacional usam as  entidades para seu próprio benefício.

Viver de verbas públicas tem sido a principal estratégia das federações. Em vez de conquistar respeito e credibilidade ou de criar parcerias com empresas privadas, hoje os dirigentes querem o caminho fácil das verbas públicas. E verdade seja dita, se não fossem os governos estaduais e municipais, há mais de 10 anos não teríamos um único evento importante em nossas praias. As marcas malandramente se esquivam de patrocinar alegando problemas financeiros e a crise do esporte.

Em um post do Sérgio Gadelha (Head Judge da ASp e diretor de prova) que causou polêmica no facebook, Juca de Barros ainda alertou: Em 2013 foi sancionada uma lei que proíbe a reeleição dos dirigentes de entidades que constituem o sistema nacional de desporto, que só podem ser reconduzidas por mais um período e depois não podem mais ser eleitos, nem seus familiares. Mas será que isso acontece? 

Existe uma necessidade latente de que o surf brasileiro seja reciclado, renovado e profissionalizado. Mas para haver tamanha mudança, é preciso ação e cumprimento das leis. É preciso que as denúncias sejam encaminhadas e que auditorias sejam feitas em todas as entidades. Só com as laranjas podres sendo retiradas do cesto é que o esporte poderá novamente crescer. Só com pessoas comprometidas e preparadas é que o esporte pode mudar e evoluir. Mas para isso, é preciso também que os atletas se unam, que sejam mais inteligentes e que façam valer seus direitos, afinal são eles os primeiros interessados e os primeiros prejudicados com esse atual sistema, viciado em verbas estatais e com muito pouco comprometimento com o esporte e com os atletas. Enquanto continuar essa privatização das entidades esportivas, enquanto dirigentes trabalharem em benefício próprio e não do esporte, enquanto não houver uma renovação de dirigentes, juízes e equipe técnica, enquanto as associações não participarem do conselho das federações, enquanto não houver transparência e prestação de contas, o surf, como esporte, continuará sem credibilidade, sem um retorno justo para com os atletas e caminhando a passos largos para o fundo do poço e rumo à falência do esporte.

Luis ‘Pinga” Campos, empresário de atletas e profissional de marketing, recentemente fez um comentário com um grande conhecimento de causa; “Ao meu ver e uma questão de gestão esportiva, coisa que não vem acontecendo. Estão tratando de forma amadora e pessoal. Devemos reunir um grupo de pessoas que realmente tem o interesse que a coisa melhore em um aspecto geral. Com base no esporte, mas que melhore o mercado em um todo, pois com as entidades estruturadas, seguindo a cadeia de associações fortes, Federações Fortes e Confederação / LIGA forte, todo o mercado se fortalece, passando credibilidade e assim atraindo investimentos do próprio mercado de empresas de grande porte. Temos que ter em mente que estamos passando por um momento de crise de identidade, precisamos resgatar a identidade e colocar a direção do esporte e mercado no trilho novamente, ai sim melhora para todos, mas e preciso realmente vontade entrega e feeling.”

Bira Schauffert, organizador de eventos, empresário de atletas e responsável pelo grupo SalvaSurf, vive do surf há exatos 30 anos. Segundo ele, um dos maiores problemas está exatamente no nível das pessoas que estão envolvidas na direção de algumas entidades que organizam o esporte, que não tem preparo para representar nosso esporte! Ele também cita a falta de transparência, que deixa o surf como um esporte com menos expressão. “Tivemos grandes momentos, períodos muito importantes no surf nacional amador e também profissional e hoje vivemos talvez o pior momento do nosso esporte em nível de Brasil. Vivemos o melhor momento da historia de alguns atletas brasileiros no WCT, mas isso não reflete no surf nacional, essas conquistas da nova geração não geram uma melhor estrutura do surf no Brasil. A base para formar novos talentos está comprometida por conta da desorganização das entidades nacionais”. Ainda segundo Bira Schauffert, “é necessário uma renovação completa de pessoas e uma mudança nos parâmetros até aqui estabelecidos. Mudanças de regras e nos formatos de competições e uma gestão mais profissional, que deixe para trás os vícios do passado, que hoje não se enquadram mais na gestão do esporte.” “Temos totais condições de criar uma nova fase para transpor esse momento delicado que estamos passando. Não tenho dúvida que nossos maiores obstáculos estão na gestão do nosso esporte. A surfwear tornou-se cara e perdeu muitas vendas ao longo dos anos e o consumidor final perdeu o interesse por essas marcas. Talvez a surfwear precise reciclar suas idéias, tendências, valores , etc…” finaliza Bira.

Jordão Bailo Junior, diretor técnico da Confederação Brasileira de Surf e profissional envolvido com grandes eventos nacionais e internacionais, comentou que a atual fase do surf, como esporte, passa por uma conjunção de elementos, que depende da situação política, econômica e social do país e de seus estados e municípios. “Sabemos que a situação no país é a pior possível em termos de investimento do poder publico em qualquer esporte que não seja o futebol. Dependemos de veículos específicos como a TV fechada e de publicações especializadas, mas sabemos que não é daí que vem o dinheiro que financiaria o esporte. E quando o poder publico realmente investe no surf, é com quem já não precisa, ou seja com os profissionais do circuito mundial. Gasta-se alguns milhões de reais para se trazer os gringos para o Brasil (o que é legal), mas não se gasta um décimo disso na formação de atletas na base e nos rankings regionais e nacionais. Também não se admite a valorização das pessoas que dedicam suas vidas a esse esporte. O que geralmente fazemos quando nos tornamos dirigentes de surf é gastar aquilo que não temos procurando ganhar aquilo que os outros pensam que ganhamos. Esses são alguns dos problemas conjunturais e sociais que precisam passar aqueles que vivem (tentam) do surf.”

Outro ponto importante que Jordão Bailo levanta é que a livre iniciativa, que paga impostos altíssimos, não tem excedente para investir no esporte, esse dinheiro se concentra no poder publico que o distribui de acordo com os seus interesses, e o surf não é um deles. “As associações, federações e Confederação não tem como investir em estrutura. Quase nenhuma delas tem dinheiro para simplesmente ter um escritório, com telefone, internet, funcionários (o que é o mínimo para se trabalhar). Quantas associações tem um timer, palanque, computação? Quando tem disponível, é particular. Quem tem dinheiro hoje para viajar o Brasil inteiro com uma equipe de surf com 15, 20 componentes? “ “Solução? Sim, ela existe, mas depende hoje, mais da união das forças daqueles que mais se preocupam em derrubar os outros, do que qualquer outra coisa. Não perceberam que estão todos no mesmo barco, estão todos sem dinheiro, e com a perspectiva de ver seus negócios perecerem. Ou sentam todos a mesa, cada um com suas crenças e convicções do que pode dar certo e se chegar a um acordo que viabilize um futuro para nosso esporte. Ou continuaremos vendo pessoas que poderiam ser bons amigos na vida, se xingando e brigando pelas migalhas, causadas pela divisão que eles mesmo causam.”

Virgílio Panzini de Matos já foi presidente da Federação Gaúcha de Surf, foi diretor da ABRASA e tem décadas de envolvimento direto com o esporte.  Virgílio fez uma abordagem mais histórica e comentou que na época da  ABRASA o surf era apenas diversão no Brasil, não fazia parte do Sistema de Desporto Brasileiro, não tinha regras padronizadas nem número e registro de atletas. Só com o com o título mundial de Fabinho Gouveia, em 1988, depois de pressionar o Conselho Nacional de Desportos é que o surf foi legalizado e o Perdigão, foi o primeiro presidente da Entidade e depois disso o Marcos Conde criou a CBS. “Tudo isso no tal estatuto sem fins lucrativos, uma mentira brasileira. Você e seu grupo trabalhavam que nem cavalo e tinham que inventar despesas, para justificar o pro labore justo (?). No final dos anos 90 surgiu a Lei Pelé, que regulamenta os Clubes de Futebol como Clube Empresa, ou seja, seus Diretores podiam (e deviam) ser remunerados. Só que o surfe ficou a margem disso. Ninguém levantou essa bandeira, nem mudaram o estatuto das entidades. Ficaram todos nessa mentira do sem fins lucrativos, isentos de pagar impostos. Ficou esse vazio administrativo. Quem possuía mais experiência se afastou e a boa gestão se perdeu.. Precisamos mudar as regras das entidades para que estas trabalhem em prol do desenvolvimento do esporte e para que seus dirigentes também tenham a sua fatia do bolo.”

“Nossa base está caótica, discuti isso no FESTIVALMA em São Paulo com o Avelino Bastos e o Neco Carbone. Deveríamos criar um Simpósio para debater tudo isso. Surf, competição, entidades, fabricação de equipamentos, regulamentação das profissões envolvidas, tudo isso. Nos Estados Unidos existe a SIMA, que regulamenta todos os boardsports, na Europa existe a EUROSIMA. Se não formalizar, não há como dar certo. Nossa cadeia produtiva só privilegia as grandes confecções, os tubarões do mercado que sugam a imagem do surf, mas que não pagam nenhum imposto a nenhuma entidade.” comentou Virgílio Matos.

Marcelo Andrade, ex presidente da ABRASP e organizador de diversas etapas do circuito brasileiro de surf profissional, também fez a sua análise. “A estrutura do surf brasileiro não está ruim, de forma nenhuma. Não acho que a divisão do gerenciamento do amador e do profissional também seja ruim, porque facilita no processo de organização de cada categoria. O que muitos questionam é como está sendo administrado cada entidade ( associações, federações ,etc).  As pessoas que fazem parte das entidades tem que cobrar uma administração séria e transparente. Se todas as entidades conseguissem fazer a sua parte de forma correta, ninguém questionaria nada e o esporte estaria em outro patamar. O que falta é uma unidade no pensamento e nas ações. As entidades trabalham como se fossem concorrentes.” Quanto ao futuro do surf e a evolução do esporte, Marcelo Andrade comentou “Primeiros as mídias especializadas deveriam mudar sua forma de cobrir as competições. Nenhum empresário quer apoiar atletas ou eventos porque sabem que terão pouco retorno. Os empresários das revistas e sites acham que o dinheiro que vai para eventos e atletas podem tirar anúncios da empresa e pensam pequeno. Não observam que isso faz parte de uma engrenagem que está parando por falta de lubrificação.  É um processo de médio e longo prazo que não estão enxergando.” “As entidades deveriam se unir para criar um projeto consistente para o surf nacional. Existe um isolamento das entidades que acham que são concorrentes para fechar seus eventos com as marcas do segmento. ASP, ABRASP e CBS tem um distanciamento gigantesco quando deveriam unir forças para seguir em frente neste momento de crise. Porém a forma de trabalho é totalmente separada e concorrente. Penso que os formatos deveriam ser repensados. O produto surf não está agradando e se não fosse o dinheiro público não teríamos nenhum evento de grande porte no Brasil.”

Outras pessoas que fazem parte da gestão do esporte e/ou da história do surf foram convidadas a participar do debate, mas não se manifestaram.

O que pude notar  é que existe uma grande quantidade de pessoas que amam e vivem do surf e que querem mudar essa triste realidade que o nosso esporte atravessa. Por outro lado existe um grupo também grande de pessoas que fecham hermeticamente em suas entidades morrendo de medo de perder a teta onde mamam às custas de todo um esporte. Claro que um possível título mundial do Gabriel Medina pode (pelo menos teoricamente) dar uma bela turbinada em nosso esporte e atrair mais investimentos, aumentar as vendas e fomentar o esporte entre as crianças. A grande quantidade de matérias sobre o Medina na TV e em todas as mídias e o exemplo da carreira bem sucedida dos nossos principais atletas, associados e diversos outros fatores irão de fato contribuir para o crescimento do surf. Mas crescer de um jeito desordenado, perder a alma e a cultura do esporte e continuar dando dinheiro para pessoas sem preparo que mais sugam do que contribuem com o surf, é algo que preocupa muito quem vive do esporte.

Aqui foram publicadas algumas das visões e pontos de vista e algumas opiniões de quem trabalha com o esporte. Quem quiser colaborar enviando críticas, idéias visões ou simplesmente contrapor as visões aqui apresentadas, o espaço está aberto. Se tem uma coisa de que nosso esporte realmente precisa, é de discussões sadias, de novas idéias e de uma gestão mais profissional. O espaço está aberto.

Momentum Generation X Geração Brazilian Storm

Assistindo a etapa de Trestles do WCT, ou WSL (World Slater League? rs), não me canso de pensar em como os brasileiros estão se destacando. A última vez que vi uma mudança tão nítida na forma como alguém pratica o surfe, foi quando assisti ao filme Momentum. Gravado em 1992, foi editado e produzido por um californiano de 20 anos de idade na época, chamado Taylor Steele.  Até então, todos os vídeos retratavam a plasticidade de deslizar sobre as ondas em câmera lenta, ondas perfeitas e trilhas sonoras clássicas do surf music da época. Momentum quebrou todos os paradigmas. Com 40 minutos de duração, o foco nas manobras e as ondas ruins traziam o telespectador mais próximo da realidade dos beachbreaks da sua cidade. A trilha sonora punkrock foi um grito de anarquia na época. O filme tinha como astros um grupo de adolescentes recém profissionais de nomes até então desconhecidos, que incluíam Kelly Slater, Shane Dorian, Ross Williams, Benji Weatherly e Rob Machado. Desde seu lançamento, todos que assistiram se tornaram fãs desse grupo de surfistas como crentes de uma igreja evangélica. Qualquer filme lançado após Momentum com intenção de quebra de formato ou inovação em termos de performance é até hoje comparado com pior ou igual a esse clássico. Conseguir uma sessão no Momentum era estar na crista da onda. E 98% dos surfistas que participaram do filme tiveram uma carreira financeiramente saudável. Tanto que o filme se desdobrou até sua 3ª edição. Desde a década de 90 até hoje esse grupo ditou as regras do surfe moderno, rompeu todas as barreiras do esporte e abriu novos rumos para o surfe explodir pelas praias do mundo.

A geração Momentum reunida depois de 20 anos do lançamento do primeiro filme. Fonte: Surfing

A geração Momentum reunida depois de 20 anos do lançamento do primeiro filme. Fonte: Surfing

Adianto quase 20 anos e vejo uma cena no mínimo curiosa em relação a esse grupo. Único remanescente da geração Momentum em atividade no circuito mundial é o Kelly Slater, um E.T fora da curva que dispensa comentários. O resto da geração inteira não está mais na cena competitiva ou liderando qualquer movimento de vanguarda do esporte. Felizmente e por outro lado, literalmente, vejo o mundo inteiro se impressionando e seguindo um novo grupo de recém profissionais. Os brasileiros que foram denominados pelos estrangeiros como a geração Brazilian Storm são hoje para o mundo o que a geração Momentum foi há duas décadas atrás. Ao contrário dos gringos, o grupo tupiniquim ainda não foi representado em filme (o que estão esperando para lançar esse filme?) mas tem as redes sociais como grande mural de exposição tão ou mais forte que uma fita de videocassete. Essa geração é formada por um pequeno grupo de talentosos surfistas que estão reescrevendo a maneira de surfar e ainda dando o troco no placar de derrotas deixado pelos primeiros surfistas brasileiros no circuito mundial. Por todos esses anos é a primeira vez na vida de um fã do esporte como eu que tenho a sensação real de que podemos dominar as próximas décadas. Os “gringuinhos” no colégio vão crescer vendo Medinas e Toledos vencendo e os Kolohes e Julian Wilsons perdendo, assim como víamos nossos Dornelles e Jojós serem massacrados por americanos e australianos.  A distância no nível de surfe dos nossos dinossauros e os deles eram imensas! Para um fã patriota, não era tão fácil perceber isso e continuavamos cegamente torcendo. Avançar uma bateria era uma glória. Me lembro quando amigo nosso, carioca, batalhador do WQS, venceu uma bateria de 1ª fase do Taylor Knox em uma etapa nas Ilhas Reunião, quase fizeram uma festa para o cara. Diz a lenda que renovou patrocínio por mais um ano só por esse feito. Merecido. Era uma luta vencer um membro da geração Momentum. Enquanto nossos adjetivos eram os cutbacks perfeitos de Fábio Gouveia, a deles eram os aéreos no grab e reverses na espuma do cutback de um adolescente havaiano chamado Kalani Robb. Enquanto nos gabavamos em vencer baterias pontuais, eles perdiam as contas dos títulos mundiais do Kelly Slater. A geração de brasileiros fãs de surfe sofreu durante todos esses anos vendo nossos atletas perderem e serem considerados os patinhos feios do circuito.

 

Gabriel Medina impressiona pelas suas manobras inovadoras e competitividade. Fonte: Surfing

Gabriel Medina impressiona pelas suas manobras inovadoras e competitividade. Fonte: Surfing

Hoje somos a galinha de ouro da história. Em termos de competitividade, Medina é o novo Kelly Slater. Jadson André lembraria um novo Kalani Robb no quesito velocidade e manobras aéreas. Adriano de Souza como novo power surfing de borda seria nosso Taylor Knox. Miguel Pupo com seu estilo leve e fluido traz um quê de Rob Machado. Felipe Toledo traz a ousadia e inovação que Shane Dorian representava na época que surgiu na cena mundial. Alejo Muniz e suas rasgadas fortes completaria o nosso time no lugar do Ross Williams. Usem a criatividade e achem o membro Momentum que mais se adeque a seu ídolo Braziliam Storm. Hoje a diferença do surfe do Felipe Toledo para os demais atletas do tour é gritante. É o novo versus o velho. Dia versus noite. Entretenimento versus emprego. Deephouse versus Sertanejo. Dólar versus peso argentino. A geração Momentum ainda é relevante? Com certeza seu legado sim. Kelly Slater sim. Agora, a geração Brazilian Storm é muito mais. É natural que os demais abram caminho para as melhores performances acontecerem. Foi assim antes e será a partir de hoje também. Apesar de nem sempre o ranking comprovar isso, a esquete canarinho irá trazer um título mundial para nosso lado isso é um fato aceito por todos. Quem viver verá.

Visões distintas

Adoro ler as colunas no Waves do meu camarada Túlio Brandão, o jornalista não especializado (se bem que já o considero especializado) disparado que mais entende de surf (Renato Alexandrino também manda bem mas ainda não tem a bagagem do Túlio, talvez pela idade). Só que nessa última, Mosaico de Trestles, muito bem escrita, para variar, ele tocou num ponto onde discordo veementemente.

Na sua análise sobre o Hurley Pro, em Trestles, ele tocou em alguns pontos e fez uma citação especial a John John Florence: “O havaiano merece uma deferência também porque, nas duas últimas etapas, foi o melhor surfista. A despeito da qualidade de seu surfe – ele era, de fato, o melhor na água em Trestles– o surfe de JJ parece ter, ainda, alguns vícios e limitações, como um arco falho de backside e movimentos que se apoiam excessivamente sobre o fundo da prancha, sem o recursos das bordas… Os arcos de Jordy e de Adriano de Souza, por exemplo, são superiores aos de JJ.”

Bem, para mim, John John é o melhor surfista do planeta, muito a frente de qualquer um. Ninguém domina todas as condicões de ondas como ele, nem Kelly Slater e muito menos Jordy Smith, que realmente tem belas manobras executadas com as bordas, mas basicamente em ondas um pouco maiores. Ah, mas Gabriel Medina é o líder do WCT e já venceu em Snapper, Fiji e Teahupoo? OK, ele é excepcional. Compete como ninguém e tem uma vontade de vencer assustadora. Mas não surfa melhor que JJF. Isso é um fato e sou obrigado a aceitar, como você, porque basta olhar suas atuações em competições e free surf para ver que tem coisas que apenas ele faz.

Posto isso, minha discordância ao texto do meu camarada tem a ver com minha leitura de que um cara que não surfa de borda nunca seria bicampeão da Tríplice Coroa Havaiana. Ou não seria o melhor surfista em Sunset e Pipe onde cravar a borda significa as vezes sobreviver. Comparar então as viradas de Adriano de Souza, um dos surfistas que mais evoluíram neste aspecto, com as do havaiano, ao meu ver é inconcebível. Basta assistir aos aéreos altíssimos alcançados por Florence em ondas de 6 pés, como as que quebraram em Trestles. Sem contar seus carves e lay backs poderosos, lembrando até Gary “Kong” Elkerton pela força ( Pode olhar na postagem 5 notas acima de 9 )  http://surf100comentarios.com.br/5-notas-acima-de-9/. Quanto ao backside, se quiser ter a prova real, assista as baterias de Fiji em 2013, onde ele simplesmente detonou em Restaurants, umas das ondas mais complicadas de surfar por causa da velocidade e da rasa profundidade da bancada.

E ainda coloco Medina neste assunto, pois o garoto também usa bastante as bordas, talvez de forma diferente da linha clássica de Parko, Fanning e o próprio Slater, mas ainda assim com cavadas que geram muita projeção e uma velocidade ímpar rumo ao lip (e grande parte das vezes além dele). Medina e Florence são a redefinição do surf, adaptados as novas manobras, que pedem um approach diferente do que estamos acotumados a ver. Como ambos são leves, apesar de não serem baixos, acabaram criando, cada um num canto do mundo, uma forma similar de executar manobras clássicas e modernas. A vantagem do havaiano obviamente é ser criado nas melhores ondas havaianas, enquanto Gabriel cresceu surfando as ótimas e muitas vezes pesadas ondas de Maresias.

Sei que Túlio vai levar numa boa este texto, até porque vivemos numa democracia e cada um tem direito a sua opinião. Só tinha que escrever sobre o tema, já que não pretendo falar muito sobre o evento na Califa, onde dei meus palpites em relação aos favoritos após o Round 1 (e acertei os finalistas!) pois o próprio Túlio descreveu muitíssimo bem. Duas visões distintas, mas que servem para enriquecer quem gosta de ler sobre o melhor do surf competicão e seus ídolos.

Teahupoo fechado para regravação de filme

Quem não assitiu ao filme Point Break, lançado no Brasil com o título de Caçadores de Emoção, em 1991, poderá ver a nova versão regravada, que vai chegar em breve aos cinemas. Na primeira versão, rodada na Califórnia, um grupo de surfistas assalta bancos para poder financiar suas aventuras e trips pelo mundo. Um policial aprende a surfar e se infriltrar no grupo para impedir os roubos. Patrick Swayze e Keone Reeves foram os protagonistas do filme. Matt Archbold dublava as cenas de surf de Patrick. O filme foi um grande sucesso na época.

Na nova versão, os produtores escolheram as temidas ondas de Teahupoo para gravar as cenas de ação . Fecharam o pico para a gravação num dia clássico. Rolou muita grana para a galera local segurar os mais fissurados. Convidaram alguns surfistas locais, e outros famosos, para fazer as cenas de surf. Bruce Irons, Dylan Longbottom, Matani Drollet, Tahiti Haumani e Laurie Towner, são alguns dos surfistas contratados para desempenhar boas performaces nas ondas do filme. Laurie Towner levou a coisa tão a sério que acabou se contundindo. Vamos aguardar pelo filme, mas vejam as fotos e o vídeo do dia clássico da gravação.

 

Laurie Towner entocado no tubo profundo de Teahupoo.

Laurie Towner entocado no tubo profundo de Teahupoo. Fonte: Magicseaweed.com

Laurie Towner pagou caro por arriscar nos drops de Teahupoo. Fonte: Magicseaweed.com

Laurie Towner pagou caro por arriscar nos drops de Teahupoo. Fonte: Magicseaweed.com

Matahi Drollet fazendo as honras da casa.Fonte: Magicseaweed.com

Matahi Drollet fazendo as honras da casa.Fonte: Magicseaweed.com

Chutômetro das ondas 19-09

Sábado dia 20 – Ondas em torno de um metro, com ondulação de sul/sudeste,com vento terral e maré seca pela manhã. A tarde entra o vento sudoeste e deve estragar a formação das ondas. As melhores opções de manhã são : Macumba, Barra, Reserva e Grumari.
A tarde a boa pode ser o posto 5 de Copacabana, Praia do Diabo, Canto do Recreio e Prainha.

Domingo dia 21- Ondas de 0,5 a 1 metro, com ondulação sul/sudeste, com vento sudoeste e maré seca pela manhã.
As melhores opções devem ser: Praia do Diabo, Copacabana Posto 5, Canto do Recreio e Prainha.

sup-bez
Foto: Minduim

5 notas acima de 9

Depois de destruir as esquerdas de Teahupoo, John John Florence escabufou as direitas de Trestles. Na bateria 3, do round 4,contra Adriano de Souza e Kelly Slater, o havaiano fez a melhor exibição de todo o evento, tirando 5 notas acimas de 9. Será que ele estava inspirado ?

NOTA 9,63

NOTA 9.10

NOTA 9.23

NOTA 9.93

NOTA 9.80