Vou aproveitar o título de Lucas Silveira para retormar meus textos no blog, parados após a conquista de Adriano de Souza e do recesso de fim de ano.
Confesso que não acompanhei na integra o sub 20 da WSL, principalmente o começo do evento, quando as condições do mar estavam sofríveis. Depois da nota 10 de Lucas Silveira, no round 3, comecei a desconfiar que o garoto iria longe no evento. As ondas da praia de Ericeira, nos seus dias bons, tem características que se encaixam bem ao surf do brasileiro. Talvez por isso que tenha engatado uma sequência de performances super convincentes que o levaram ao título. No round 4 derrotou Noe Mar Mc Gonagle, da Costa Rica, nome forte do QS, que impressionou na etapa do QS 10 mil de Saquarema. Na fase seguinte derrubou Kanoa Igarashi, atleta classificado para o CT de 2016, sensação da nova geração americana. Na semi atropelou o Italiano Leonardo Fioravanti, e na final fez o mesmo com Timothee Bisso, das Ilhas Guadalupe. Foi mais um título mundial de um brasileiro, o sétimo nessa categoria. Está tudo dominado, como diz o ditado popular.
Lucas Silveira em ação.
Foto: WSL Poullenot Aquashot
Dou os parabéns para Leandro Dora, o Grilo, pelos resultados de seu trabalho. Técnico de Adriano de Souza e Lucas Silveira, em menos de um mês ajudou seus atletas a conquistarem dois títulos mundiais. O trabalho de técnico de surf é pouco valorizado, mas de fundamental importância. Acredito que seu trabalho com seu filho, Yago Dora, também renderá bons frutos em breve. Leandro foi surfista profissional e sabe tudo de surf. Yago tem um potencial enorme e tudo para ser um atleta de elite.
Leandro Dora e Lucas Silveira com o caneco de campeão mundial sub 20 da WSL . Foto : Globo.com
Também aproveito o feito de Lucas para voltar a uma polêmica levantada novamente pelo Jornal o Globo, sobre a terrível fase do surf carioca. O autor, Renato Alexandrino, aponta o título do carioca como um dos poucos resultados expressivos de uma atleta do estado em anos. Porém, é sempre bom lembrar que Lucas foi para Santa Catarina ainda com 14 anos, e desenvolveu seu surf em ondas e competições catarinenses. Pensar que a última geração de destaque competitivo foi a de Leo Neves, Raoni Monteiro, Marcelo Trekinho, Pedro Henrique, e outros da chamada geração Lombrô, mostra que o trabalho parou em algum lugar. No CT não tem nenhum atleta do estado e as perspectivas não são boas. O que houve ?
Na minha opinião, o surf do Rio fez grandes surfistas depois da geração Lombrô, mas a opção deles foi pelo freesurf . Não sei se foi falta de apoio ou de competições, mas vão me dizer que Erick de Souza, Gabriel Pastore, Stanley Cieslik, Ian Consenza, Felipe Cesarano, Pedro Scooby e Jerônimo Vargas, não são surfistas de alto nível ? Vejam o programa Fugindo do Crowd, do Canal Woohoo, e me digam se eles não estão no mesmo patamar dos melhores brasileiros no quesito tubo . Bruno Santos, um pouco mais velho, e diria que o líder desse grupo, puxa o nível dessa rapaziada. Em Desert Point os caras surfam no limite da bancada mais rasa do pico, coisa para muito poucos. Todos foram competidores, mas por algum motivo seguiram outro caminho, talvez pelo prazer de pagar ondas boas.
Erick de Souza é considerado um dos melhores free surfers do Brasil. Foto : Tojal/ SURFAR
O trabalho bem feito por São Paulo, Santa Catarina e Ceará, tem gerado bons surfistas competitivos. As categorias de base são valorizadas e a profissional tem um circuito super competitivo. O Rio também faz um trabalho de base, mas sem um circuito profissional forte, a alguns anos. Em quem o amador vai se espelhar para buscar o profissionalismo ? Falta continuidade no caminho que o atleta deve seguir. Como pode a prefeitura do Rio gastar 5 milhões em um evento mundial e não colocar NADA para o surf carioca ? Como disse o presidente da FESERJ, Abílio Fernandez, com 500 mil daria para fazer tudo que o surf do Rio precisa para voltar a ser uma potência, como sempre foi. Talentos a cidade produz, mas precisa de investimento para gerar grandes campeões.