Hors Concours

“1: adjetivo e substantivo de dois gêneros e dois números relativo a ou pessoa que não pode participar de um concurso por já ter sido laureada, por ser membro do júri ou por ser tida como muito superior aos demais competidores.” Esta é a definição do título deste texto e que serve para descrever John John Florence no evento de Margaret River, em ondas que alguns julgam chatas mas que foram palco, nos últimos 3 anos, de uma dos melhores sessões de surf competicão do Circuito Mundial. Ondas pesadas, selvagens, de juice havaiano onde brilharam os três vencedores e surfistas do power surf: Michel Bourez, Sebastien Zietz e Florence.

Acompanho o surf competição internacional desde 1982, quando assisti no Arpoador, o Waimea 5000. De lá para cá, foram muitas viagens, fitas de VHS para decupar, milhares de horas na internet e não me lembro de ver alguém tão acima dos outros como o havaiano esteve semana passada. Mesmo o nosso esporte dependendo da natureza, o que torna alguns resultados improváveis, dessa vez nada parecia deter (e não deteu) o ímpeto e talento do atual campeão do mundo. Sua superioridade beirou o ridículo, nesse caso para os outros competidores. Jordy Smith e Bourez, conhecidos pela facilidade em lidar com ondas maiores, pareciam grommets perto da velocidade e controle de JJF. Desde o momento em que os Top desfilaram pelo Main Break em vagas de até 15 pés, ficou claro que a galera brigaria pelo vice.

Impressionante a forma como John John Florence atacaou a onda de Margaret River. Foto : WSL/ Matt Dunbar

Impressionante a forma como John John Florence atacou a onda de Margaret River. Foto : WSL/ Matt Dunbar

Isso não se explica apenas pelo talento e experiência do jovem havaiano, mas sim por um conjunto de fatores que o diferencia neste início de temporada. A chegada à Australia quase um mês antes do Quik Pro para testar seus modelos de prancha, a recém parceria com Ross Williams, que realmente não foi um grande competidor mas é dono de uma inteligência acima da média para os padrões do Tour e a confiança em alta, já demonstrada no Volcom Pro, em Pipe, quando apesar de ser parado nas semis (em ondas manobráveis para o Backdoor), mostrou um surf de muita potência e solidez. Tenho uma “maluca” absoluta certeza de que se ele não tivesse sido mal julgado na semi de Snapper contra Wilko, ele estaria agora com duas vitórias e um caminhão de pontos na frente do segundo colocado no ranking. Em seu melhor começo de temporada, JJF sobra na turma e tem outra etapa em seguida onde pode estender seu domínio, ainda mais se as ondas estiverem acima dos 6 pés, onde cá para nós, ele é barbada.

Pra finalizar, Filipe Toledo surpreendeu positivamente e apagou, ao menos pra mim, a péssima estréia na Gold Coast. Sem medo de atacar as bombas do West Australia, o filho de Ricardinho surfou muito bem e podia ter feito a final se tivesse um pouquinho mais de sorte no duelo contra Kolohe Andino. O garoto vai longe, basta apenas encontrar seu ritmo e continuar a evolução.

Filipe Toledo calou os críticos, surfando muito bem em ondas grandes e volumosas. Foto: WSL/ Matt Dunbar

Filipe Toledo calou os críticos, surfando muito bem em ondas grandes e volumosas. Foto: WSL/ Matt Dunbar

De olho em Bell’s, é bom a turma começar a caça ao simpático lourinho, pois do jeito que as coisas estão indo, tá arriscado não ter nem segundo semestre. Pra quem achava que 2017 seria um dos anos mais equilibrados do Circuito, o que de fato acontece é a supremacia de um único surfista, que nem é em baterias, mas até o momento em performance. John John está Hors Concours!