Quem não assistiu Surf Adventures, o filme, certamente não viu Danilo Grilo, um dos melhores tuberiders que já conheci, falar que nós surfistas vivemos na Terra do Nunca. Para quem não sabe, Terra do Nunca é a moradia do Peter Pan e seus amigos, todos sem vontade nenhuma de crescer. Realmente o surf tem essa característica de rejuvenecer seus praticantes. O frequente contato com a natureza, além de melhorar a cabeça, diminui o stresse do dia a dia. Fora isso, todos tem seus brinquedinhos para surfar suas ondas preferidas.
Cheguei aos 50 anos no meio desse mês e fui com amigos para El Salvador comemorar a data. Todos usaram meu aniversário como uma forma de dar uma escapulida de seus compromissos e descansar num dos países mais acolhedores da América Central. Comida boa, povo simpático e amistoso, com onda praticamente todos os dias, e o melhor, a água é quente e as ondas são alucinantes. Acabou que o crowd se tornou grande, pois fomos em 10 cabeças e ainda encontramos com o vice-campeão mundial de SUP Caio Vaz. A vontade de surfar de todos era enorme e alguns membros da trip esqueceram de ligar o desconfiômetro. Quase ficou desagradável a disputa pelas ondas. Onde chegávamos os locais logo diziam que não gostavam de brasileiros porque andamos em bandos. Nisso garanto que estão certos. Não somos um povo muito educado na água. Acho que só perdemos para os israelenses, que tive o desprazer de tentar compartilhar o outside dos picos das Maldivas. Como tenho 8 temporadas no local, mantive a paciência na zona da hiena, local que batizamos como o pico das sobras. Garanto que minha escolha foi a certa, pois disputar onda com fominhas com alguns anos a menos é derrota garantida, ainda mais com nossos compatriotas.
Nunca tinha ido em novembro, mas todos me afirmavam que era uma época de pouco crowd de brasileiros, com muito sol, pouco vento e ondas de aproximadamente 1 metro. Para um grupo, que na sua maioria tinha mais de 40, parecia tudo perfeito. Porém, o muito sol não era exagero. Protetor 50, hipoglós e protetor labial eram fundamentais para aguentar o maçarico que começava as 7:00 da manhã. Contratamos um guia local, que tirava fotos e levava para os picos, para melhorar nossa mobilidade e segurança. Chamba Guardado, uma figura extremamente profissional e atenciosa, procurou nos levar para os melhores lugares, nas condições que se apresentava. Iamos confortavelmente na sua van em busca das olas. Foi uma grande descoberta esse guia local.
A cada dia a mais de surf o esqueleto ia soltando, que sinceramente estava bem enferrujado. Guto Carvalho e Alexandre Guaraná, que foram profissionais na década de 80, mostravam que o rip estava voltando a cada caída. Nos últimos dias ví momentos deles que me lembraram bons tempos dos dois. Rafael Melin, diretor de Brazilian Storm e Diários da Ilhas, do Canal Off, mostrou que suas viagens constantes tem melhorado muito o nível do seu surf. João Villela e Bruno Marinho , nossos faixas pretas de jiu jtsu, também mostraram muita habilidade no surf. Rocco Maranhão, filho do lendário Maraca, tem o DNA do pai, surfa muito. Caio Vaz não preciso nem comentar, é surfista de primeira linha. O resto se esforçou para fazer um bonito, como diz meu amigo Henrique Cesar.
Foram apenas 7 dias, mas tenho certeza que aproveitamos da melhor maneira possível. Momentos de descontração, com muitas piadas, zoações, e risadas. Talvez tenha sido a melhor viagem que fiz nos últimos anos. Se não fosse a mancada que a Avianca nos colocou na ida, com direito a terremoto no Peru, tenho certeza que seria uma trip perfeita.