O havaiano já está com sua lycra. As ondas estão com 10 a 12 pés bem ocas, não tem vento. Seu adversário acabou de chegar, com o sorriso estampado no rosto, feliz por poder surfar com seu ídolo. Ele é brasileiro, um apaixonado pela adrenalina. E pega sua camisa, juntando-se ao rival, para finalmente fazer o que sabe melhor.
As trombetas soam e a disputa tem início. O local do Hawaii, alto e louro, lembra a maioria dos aficcionados que estão ali, plainando, assistindo a exibição do dom divino cedido ao ser humano. O brazuca, menor, mas carismático, parece um guerreiro, como Miguel, e mesmo sabendo que aquilo tudo no fundo é uma brincadeira, quer fazer o melhor e se possível vencer.
Ondas vem e ambos surfam sem parar.
Até que uma enorme, azul, perfeita se aproxima e o havaiano exerce sua prioridade remando com autoridade, se posicionando para o drop. A queda é íngreme, mas com as costas e a mão esquerda, consegue encaixar no trilho e desaparece por alguns segundos para sair cuspido pelo spray, sendo ovacionado. Uma outra vaga, tão grande quanto a anterior, também azul e perfeita, vem para o brasileiro, que com remadas rápidas e um jogo de corpo, desce a ladeira, encostando o peito na parede, controlando a velocidade e sumindo no turbilhão líquido, para surgir, ileso, com os braços erguidos vibrando com o presente concedido.
Os juízes, Gabriel, Rafael e Uriel, não escondem a satisfação e digitam a nota 10 para ambos surfistas. Deu empate!
O havaiano, mesmo tão competitivo, abre os braços e chama o rival para um forte abraço. O brasileiro sorri e abraça seu ídolo, sentindo um pouco de saudade de casa. Mais velho, o havaiano olha para o mais jovem e diz: “Não fique assim! Você foi muito amado. Deu muitas alegrias ao seu povo e acima de tudo a sua família. A dor passa e as boas lembranças ficam para sempre!”
O brasileiro, olha para o horizonte, depois para baixo, e com um suspiro fala: “Eu sei! Mas é que eu queria fazer tantas coisas…”
O havaiano, há mais tempo afastado de casa, o olha com ternura e declara: “Você já fez! Olhe para eles! Olhe quanto amor! Não é para isso que vamos para lá? Para amar! Pois você amou e foi amado por muitos!”
Segurando suas pranchas, deram uma última espiadinha dos céus e foram andando, entre as nuvens, cercados pelos anjos, em festa, pois amanhã teriam mais uma exibição.
“Amanhã eu ganho de você Andy”, soltou o brasileiro.
“Acho que não Ricardo!”
Andy Irons. Foto: Flindt
Ricardo do Santos Foto: Joli