A volta do Super Surf acabou acontecendo na mesma data da etapa do CT de J Bay, dividindo a atenção dos internautas interessados nas duas competições. Fui convidado para fazer a transmissão da web do Super Surf e as mensagens de alguns internautas nos informavam sobre o desenrolar do evento na África do Sul. Confesso que a notícia do ataque de tubarão, ao surfista Mick Fanning, foi o momento mais tenso que já passei dentro de um estúdio de transmissão. Mensagens em sequência alertavam sobre o ataque sem informar se o australiano tinha saído ileso desse momento aterrorizante. Fiquei meio fora do foco do meu trabalho imaginando o pior. Só consegui voltar a tranquilidade com a informação que tudo não passou de um grande susto.
Mick Fanning aterrorizado pelo tubarão branco que o atacou. Foto: WSL / KC
A volta do Super Surf foi um momento de grande emoção para todos os envolvidos no seu recomeço. Parecia uma festa de confraternização do surf brasileiro nas areias de Maresias, local escolhido para começar o circuito. Nem mesmo a falta de ondas boas mudou o astral dos 160 atletas inscritos, orgulhosos de participar de uma evento de tanta tradição. A mistura de sentimentos era visível nas diferentes gerações que se confrontavam dentro da competição. A nova geração estava bem representada por surfistas que vão dar o que falar. Samuel Pupo, filho do lendário Wagner Pupo, e irmão de Miguel Pupo, puxava a fila da renovação. Com 14 anos, e muitos títulos amadores, o local de Maresias já mostra surf de gente grande. Ao mesmo tempo, os atletas remanescentes do primeiro ano de Super Surf, em 2000, ainda mostravam muito gás para arrebentar as marolas que rabiscavam o outside da bela praia do litoral norte de São Paulo. Ao contrário do que alguns colocaram nas redes sociais, dizendo que o circuito era um encontro da velha geração, o Super Surf deve ser o melhor caminho para a renovação do surf nacional. O Circuito Brasileiro Amador está passando por um momento delicado, deixando uma lacuna para o desenvolvimento das novas gerações. O duelo entre os jovens e os mais experientes, que pude assistir ao vivo, pode ser o caminho para a garotada pegar mais bagagem na busca por um lugar ao sol.
A volta do Super Surf foi motivo de orgulho para toda a comunidade do surf brasileiro. Foto: Pedro Monteiro
Do outro lado do Atlântico, nossos representantes da elite mundial mostravam muita confiança em bons resultados na sexta etapa do circuito. J Bay tem um histórico de favorecer os atletas regulares nos seus últimos 30 anos. Depois da vitória de Mark Ochillupo, em 1994, nenhum goofy levantou mais o caneco de campeão desta etapa. Isso aumentou mais o desafio de 5 de nossos atletas, todos com esse posicionamento na prancha. Apenas Gabriel Medina e Wiggoly Dantas conseguiram bons resultados, ficando respectivamente na quinta e nona colocação. Os outros ficaram pelo caminho, tornando a próxima etapa, em Teahuppo, muito importante para suas pretensões em 2015. Medina voltou a mostrar surf de campeão mundial, perdendo apenas para um inspirado e mordido Kelly Slater. Espero que ele faça um segundo semestre forte e volte com tudo em 2016. Filipe Toledo, uma de nossas esperanças na corrida ao título 2015, perdeu para seu grande amigo e compatriota Alejo Muniz. A amizade é tão grande que Filipe estava usando uma prancha de Alejo. Depois de conquistar sua classificação pelo QS, Alejo esbanja confiança, demonstrando ser um adversário perigoso para todos os competidores do tour. Tomas Hermes, convidado para o lugar de John John Florence, ainda contundido, mostrou muita desenvoltura nas longas direitas de J Bay. Foi barrado por um Owen Wright recém vitorioso em Fiji. Adriano de Souza conquistou a quinta colocação, mas poderia ter ido mais longe. Arriscou muito contra Julian Wilson e por pouco não leva a melhor sobre o australiano.
Quem não estava no CT estava em Maresias. William Cardoso, Messias Felix, David do Carmo, Igor Gouveia, Thiago Camarão, Alex Ribeiro, Raoni Monteiro, Heitor Alves e o próprio Tomas Hermes, que voltou de J Bay a tempo de participar da etapa, mostravam nível de atletas que participam com frequência de grandes eventos do circuito mundial. Com tantos atletas bons, e tantas baterias disputadas, ninguém conseguia apontar um favorito. Os internautas bem que tentaram acertar quem venceria, mas tudo com muita paixão e torcida. Fiquei impressionado com a quantidade de cearenses acompanhando a competição pelo site do evento. Todos ligados nas baterias dos seus conterrâneos, chamados carinhosamente de Rapadura Storm. A galera da Praia Grande, do litoral sul de SP, também mandava mensagens de incentivo aos seus surfistas locais. Vendo que valia muito assistir ao vivo, muitos se deslocaram para Mareisas, no fim de semana. Bandeiras e gritos incetivaram seus atletas durante as baterias. Uma torcida atuante.
O último dia de competição, no Super Surf começou com 8 candidatos ao título, divididos em 4 baterias homem x homem. Achava que o paulista David Silva estava ditando o ritmo mais forte entre os atletas, mas como dizer que venceria se Icaro Rodrigues mostrava uma facilidade enorme para dar aéreos gigantes. Poderia ter dado Hizunome Bettero ou Tomas Hermes, dois atletas experientes, com boas performances até o dia final do evento. Ou Alandresson Martins, que tinha os aéreos como sua manobra vencedora. Thiago Camarão também estava muito bem, e por ser local era um dos favoritos. Porém, depois tantos duelos, e 82 baterias, a final ficou entre o paulista voador Flavio Nakagima e o cearense Charlie Brown. Nakagima foi crescendo na competição e no último dia não deu chances a nenhum adversário. Mesmo Charlie Brown tendo vindo do primeiro round, e tendo feito grandes apresentações, não conseguiu levar a melhor sobre o paulista. O título ficou em boas mãos. A torcida da Praia Grande estava presente e a festa foi completa.
O cearense Charlie Brown foi um dos destaques da primeira etapa do Super Surf. Foto: Pedro Monteiro
Em J Bay, como vocês sabem, não teve final. O tubarão que atacou Mick Fanning acabou com a conclusão do evento. Melhor para Adriano de Souza, que ficou com a liderança do ranking, pois o vitorioso entre Julian Wilson e Mick Fanning ultrapassaria o Mineiro. Com certeza o grande vencedor foi Mick, que saiu sem nenhum arranhão do ataque. E mais, a WSL também foi vencedora por não ter acontecido nada com Mick. Seria um final muito triste para toda a comunidade do surf e um abalo na credibilidade do esporte.
Adriano de Souza continua com a liderança do ranking do CT. Foto: WSL /KC