Chutômetro das Ondas 31-07

– Sábado dia 1 de agosto – Aproximadamente meio metro, ondulação de leste e vento nordeste fraco pela manhã, passando a leste moderado a tarde. Melhores condições : Prainha, São Conrado canto esquerdo e Reserva.

Domingo dia 2 de agosto – Aproximadamente meio metro, ondulação de leste e vento nordeste fraco pela manhã, passando a leste moderado a tarde. Melhores condições : Prainha, São Conrado canto esquerdo e Reserva.


Video: Ezalx

Palavras de campeão

Meu camarada e grande jornalista Tulio Brandão lançou na semana passada, em São Paulo e no Rio, a biografia autorizada de Gabriel Medina, o atual campeão mundial de surf profissional. O livro, editado pelo selo Primeira Pessoa, da Editora Sextante, foi escrito depois de muitas idas a Maresias, além de entrevistas com amigos, rivais e familiares. Um boa leitura para qualquer surfista e para quem curte a narrativa de superação de um garoto que tinha tudo para ser mais um surfista esquecido do nosso litoral mas que tornou-se um dos maiores nomes do esporte brasileiro em todos os tempos.

Túlio, pra quem não sabe, é um ótimo surfista e jornalista de primeira, ganhador inclusive do Prêmio Esso (maior prêmio da imprensa brasileira) em 2004 com uma reportagem sobre a agonia do rio Paraíba do Sul. Tive o prazer de conhecer Túlio durante o Kaiser Summer Festival, em 1997, na Barra (aquele do floater quilométrico do Kelly Slater). Eu era assessor de imprensa do evento e ele foi enviado pelo saudoso Jornal do Brasil para cobrir a etapa do Circuito Mundial. Ainda novato, ele já mostrava o faro para pautas originais, tentando fugir do be-a-bá que a grande maioria da imprensa não especializada queria. Sempre puxado pelo Fernando Duarte, seu rival do O Globo, conseguiu excelentes matérias e chamou minha atenção pela intimidade com o surf. Apenas depois descobri que Túlio era local do Leblon e bom nas ondas.

Anos mais tarde, acabou se transferindo para O Globo onde passou a trabalhar na editoria do Rio, fazendo uma ou outra matéria para Esportes, quase sempre sobre surf. Tentou durante um período fazer textos para o site Waves mas a indisponibilidade para escrever acabou contribuindo para a falta de sequência. Porém, como tudo vem ao seu tempo, novamente ocupa um espaço no Waves e na minha opinião, faz uma das melhores colunas dentro da mídia especializada. Apesar de termos opiniões e idéias sobre o surf bem distintas, nos respeitamos e estamos há alguns anos marcando um chopp para colocá-las na mesa.

Por isso, a escolha de Túlio para escrever sobre uma figura tão rica em conteúdo, mesmo com pouca idade, como Gabriel, para mim é garantia de uma excepcional leitura. Óbvio que por ser uma biografia autorizada, talvez não tenhamos muita polêmica, mas o que importa é o espaço dado por uma grande editora, no caso a Sextante, para um surfista brasileiro, algo impensável até então.

Ainda não comprei o livro, mas o farei. E vou ler! Aconselho você a fazer o mesmo. Num país onde temos tanta gente suja e safada, exemplo de vida como o de Gabriel merece ser passado adiante. Afinal, ele é o herói de um segmento, de uma geração. Um colírio para os olhos desta juventude que só escuta falar de corrupção. Vá a livraria e exercite sua mente! Vale a pena!

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, esteve presente no lançamento do livro em SP.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, esteve presente no lançamento do livro em SP.

Chutômetro das ondas 24-07


Sábado 26 – Aproximadamente 1 metro, ondulação de leste/sudeste e vento oeste moderado pela manhã, passando a sudoeste moderado a tarde. Melhores condições : Prainha, Canto do Recreio e Praia do Diabo.

Domingo 27 – Sábado 0,5 a 1 metro, ondulação de sul e vento sudoeste moderado pela manhã, passando a sudoeste forte a tarde. Melhores condições : Grumari canto direito, Canto direito de São Conrado e Pontão do Leblon.

Obs : A previsão mudou no tamanho das ondas. Sábado 0,5 a 1 metro e domingo meio metro, com séries maiores em algumas praias que recebem bem a ondulação de sul. Já tinhamos gravado, mas estamos avisando.
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Lá e aqui

A volta do Super Surf acabou acontecendo na mesma data da etapa do CT de J Bay,  dividindo a atenção dos internautas interessados nas duas competições. Fui convidado para fazer a transmissão da web do Super Surf e as mensagens de alguns internautas nos informavam sobre o desenrolar do evento na África do Sul. Confesso que a notícia do ataque de tubarão, ao surfista Mick Fanning, foi o momento mais tenso que já passei dentro de um estúdio de transmissão. Mensagens em sequência alertavam sobre o ataque sem informar se o australiano tinha saído ileso desse momento aterrorizante. Fiquei meio fora do foco do meu trabalho imaginando o pior. Só consegui voltar a tranquilidade com a informação que tudo não passou de um grande susto. 

Mick Fanning aterrorizado pelo tubarão branco que o atacou. Foto: WSL / KC

Mick Fanning aterrorizado pelo tubarão branco que o atacou. Foto: WSL / KC



A volta do Super Surf foi um momento de grande emoção para todos os envolvidos no seu recomeço. Parecia uma festa de confraternização do surf brasileiro nas areias de Maresias, local escolhido para começar o circuito. Nem mesmo a falta de ondas boas mudou o astral dos 160 atletas inscritos, orgulhosos de participar de uma evento de tanta tradição. A mistura de sentimentos era visível nas diferentes gerações que se confrontavam dentro da competição. A nova geração estava bem representada por surfistas que vão dar o que falar.  Samuel Pupo, filho do lendário Wagner Pupo, e irmão de Miguel Pupo, puxava a fila da renovação. Com 14 anos, e muitos títulos amadores, o local de Maresias já mostra surf de gente grande.  Ao mesmo tempo, os atletas remanescentes do primeiro ano de Super Surf, em 2000, ainda mostravam muito gás para arrebentar as marolas que rabiscavam o outside da bela praia do litoral norte de São Paulo. Ao contrário do que alguns colocaram nas redes sociais, dizendo que o circuito era um encontro da velha geração, o Super Surf deve ser o melhor caminho para a renovação do surf nacional. O Circuito Brasileiro Amador está passando por um momento delicado, deixando uma lacuna para o desenvolvimento das novas gerações. O duelo entre os jovens e os mais experientes, que pude assistir  ao vivo, pode ser o caminho para a garotada pegar mais bagagem na busca por um lugar ao sol. 

A volta do Super Surf foi motivo de orgulho para toda a comunidade do surf brasileiro. Foto: Pedro Monteiro

A volta do Super Surf foi motivo de orgulho para toda a comunidade do surf brasileiro. Foto: Pedro Monteiro



Do outro lado do Atlântico, nossos representantes da elite mundial mostravam muita confiança em bons resultados na sexta etapa do circuito. J Bay tem um histórico de favorecer os atletas regulares nos seus últimos 30 anos. Depois da vitória de Mark Ochillupo, em 1994, nenhum goofy levantou mais o caneco de campeão desta etapa. Isso aumentou mais o desafio de 5 de nossos atletas, todos com esse posicionamento na prancha. Apenas Gabriel Medina e Wiggoly Dantas conseguiram bons resultados, ficando respectivamente na quinta e nona colocação. Os outros ficaram pelo caminho, tornando a próxima etapa, em Teahuppo, muito importante para suas pretensões em 2015. Medina voltou a mostrar surf de campeão mundial, perdendo apenas para um inspirado e mordido Kelly Slater. Espero que ele faça um segundo semestre forte e volte com tudo em 2016. Filipe Toledo, uma de nossas esperanças na corrida ao título 2015, perdeu para seu grande amigo e compatriota Alejo Muniz. A amizade é tão grande que Filipe estava usando uma prancha de Alejo. Depois de conquistar sua classificação pelo QS, Alejo esbanja confiança, demonstrando ser um adversário perigoso para todos os competidores do tour. Tomas Hermes, convidado para o lugar de John John Florence, ainda contundido, mostrou muita desenvoltura nas longas direitas de J Bay. Foi barrado por um Owen Wright recém vitorioso em Fiji. Adriano de Souza conquistou a quinta colocação, mas poderia ter ido mais longe. Arriscou muito contra Julian Wilson e por pouco não leva a melhor sobre o australiano.


Quem não estava no CT estava em Maresias. William Cardoso, Messias Felix, David do Carmo, Igor Gouveia, Thiago Camarão, Alex Ribeiro, Raoni Monteiro, Heitor Alves e o próprio Tomas Hermes, que voltou de J Bay a tempo de participar da etapa, mostravam nível de atletas que participam com frequência de grandes eventos do circuito mundial. Com tantos atletas bons, e tantas baterias disputadas, ninguém conseguia apontar um favorito. Os internautas bem que tentaram acertar quem venceria, mas tudo com muita paixão e torcida. Fiquei impressionado com a quantidade de cearenses acompanhando a competição pelo site do evento. Todos ligados nas baterias dos seus conterrâneos, chamados carinhosamente de Rapadura Storm. A galera da Praia Grande, do litoral sul de SP, também mandava mensagens de incentivo aos seus surfistas locais. Vendo que valia muito assistir ao vivo, muitos se deslocaram para Mareisas, no fim de semana. Bandeiras e gritos incetivaram seus atletas durante as baterias. Uma torcida atuante. 

O último dia de competição, no Super Surf começou com 8 candidatos ao título, divididos em 4 baterias homem x homem.  Achava que o paulista David Silva estava ditando o ritmo mais forte entre os atletas, mas como dizer que venceria se Icaro Rodrigues mostrava uma facilidade enorme para dar aéreos gigantes. Poderia ter dado Hizunome Bettero ou Tomas Hermes, dois atletas experientes, com boas performances até o dia final do evento. Ou Alandresson Martins, que tinha os aéreos como sua manobra vencedora. Thiago Camarão também estava muito bem, e por ser local era um dos favoritos. Porém, depois tantos duelos, e 82 baterias,  a final ficou entre o paulista voador Flavio Nakagima e o cearense Charlie Brown. Nakagima foi crescendo na competição e no último dia não deu chances a nenhum adversário. Mesmo Charlie Brown tendo vindo do primeiro round, e tendo feito grandes apresentações, não conseguiu levar a melhor sobre o paulista. O título ficou em boas mãos. A torcida da Praia Grande estava presente e a festa foi completa. 

O cearense Charlie Brown foi um dos destaques da primeira etapa do Super Surf. Foto: Pedro Monteiro

O cearense Charlie Brown foi um dos destaques da primeira etapa do Super Surf. Foto: Pedro Monteiro




Em J Bay, como vocês sabem, não teve final. O tubarão que atacou Mick Fanning acabou com a conclusão do evento. Melhor para Adriano de Souza, que ficou com a liderança do ranking, pois o vitorioso entre Julian Wilson e Mick Fanning ultrapassaria o Mineiro. Com certeza o grande vencedor foi Mick, que saiu sem nenhum arranhão do ataque. E mais, a WSL também foi vencedora por não ter acontecido nada com Mick. Seria um final muito triste para toda a comunidade do surf e um abalo na credibilidade do esporte. 

Adriano de Souza continua com a liderança do ranking do CT. Foto: WSL /KC

Adriano de Souza continua com a liderança do ranking do CT. Foto: WSL /KC

 

Vamos ao que interessa! J-Bay Open!

Julian Wilson está forte na disputa do título. Foto : WSL/ Divulgação

Julian Wilson está forte na disputa do título. Foto : WSL/ Divulgação


Passado o susto e o alívio de todos com Mick Fanning embarcando ileso para casa, vamos ao que interessa, ao menos para quem quer saber minha opinião sobre a 6a etapa do Circuito Mundial que acabou com ambos finalistas dividindo os pontos pelo segundo lugar. De quebra, achei esta resolução da WSL absurda. Talvez esteja escrito no livro de regras, mas para mim seria esta uma regra bem tola, pois ou os dois levariam a pontuação de campeão e dividiriam o somatório dos prêmios do primeiro e segundo lugares ou então pegaria a soma dos pontos – 18000 e dividiria por dois, 9000 para cada. Ambos em segundo lugar deve ser inédito no esporte mundial.

Mas voltando ao surf, diria que este evento foi o renascimento, ao menos na temporada, para dois baitas surfistas: Gabriel Medina e Kelly Slater. Tanto o brasileiro quanto o americano não estavam numa maré muito boa. Medina, visivelmente incomodado com a enorme pressão pelo título mundial ganho e Kelly cometendo erros infantis que não condizem com um atleta multicampeão de 43 anos. Pois em J-Bay eles voltaram aos bons tempos, inclusive fazendo uma das melhores baterias do ano.

Não me incluo no rol de especialistas de surf ufanistas, por isso concordei com o resultado da vitória de Slater sobre Medina nas quartas pelo simples motivo de que enquanto o americano usou de extrema velocidade, variando as manobras, fazendo base/lip e escolhendo ondas melhores, o atual campeão mundial teve que quicar sua prancha para pegar embalo em alguns momentos mostrando perda de “time”, sendo obrigado a usar os floaters nas partes mais cheias da onda para passar pelas seções. Mesmo desferindo algumas belas batidas de back, o brasileiro ainda não tem um drive vertical como Owen Wright ou Ace Buchan, utilizando-se de um truque bem comum aos surfistas acostumados a beach breaks que consiste no famoso pêndulo (faz uma cavada com menos ângulo e pisa na rabeta para jogar a prancha contra o lip). Em picos como Jeffrey´s Bay o truque é saber usar a velocidade da onda para fazer a linha ideal. De frontside é mais fácil e o grau de dificuldade de harmonizar tantos movimentos poderosos sem perder o gás é altíssimo. A derrota não diminuiu a performance de Gabriel, que voltou a ter sangue nos olhos e deu um upgrade sólido em seu surf de costas para a onda. Creio que mais um ou dois anos ali e vão ter que ralar coco para vencê-lo. Já Kelly, esteve solto, executou os movimentos mais potentes do evento, curtiu uma de suas ondas prediletas e mostrou que vai incomodar mais um pouquinho a nova geração.

Outro que demoliu tudo ao seu redor, principalmente no último dia, foi Fanning. É notório que seu surf de arcos longos e extrema rapidez casam perfeitamente com a locomotiva gelada que é J-Bay. Mas em sua vitória na semi contra Kelly, foi taticamente perfeito, ainda mais no meio da bateria, quando Kelly ameaçou ir numa onda intermediária e Mick o bloqueou, trocando sua segunda nota que era um 8,20 por 8,23, não deixando a porta aberta para uma provável virada de Slater, que necessitava de apenas 7,27 e voltaria para o outside na liderança e com uma pressão enorme para cima do aussie. Um belo trabalho tático que culminou com uma onda da série surfada no final onde praticamente nocauteou seu maior rival até então.

O último surfista que destaco é Julian Wilson, um competidor demasiadamente inteligente, que sabe disputar uma bateria como se fosse mestre de xadrez. Não abusa da sorte, faz o feijão com arroz com estilo e competência e quando se sente seguro é capaz de tirar da cartola manobras incríveis. Não chegou a sua terceira final a tôa este ano e é para mim o cara a ser batido. Sem contar que sua atitude de prestar socorro a Fanning quando o companheiro largou sua prancha e nadou fugindo mostra o quanto este rapaz tem bom caráter, pois são em situações como essa que vemos o melhor das pessoas. Muitos brasileiros detestam Julian por causa das cagadas que os juízes fizeram no passado. Ele e qualquer outro Top da WSL não tem nada a ver com erros dos outros. Sua atitude foi bonita, corajosa e heróica, digna de um surfista companheiro de profissão.

Quando aos outros brasileiros, quem realmente encheu meus olhos foi Wigolly Dantas. Nem parece que é seu primeiro ano de Tour. Com um backside forte e limpo, ele chegou ao 9o lugar e mostrou surf de ponta. Alejo Muniz mandou bem quando o mar esteve mais para Brasil do que para África do Sul. Não sei se usou a prancha indevida para as condições do último dia, mas o que ficou na minha cabeça foi como ele não soube surfar as perfeitas direitas de 6 pés de Jeffrey’s. Já Adriano de Souza pecou com erros tolos de prioridade e não soube executar as manobras certas sucumbindo nas quartas para Wilson numa bateria que esteve equilibrada nos primeiros 20 minutos. Ainda é líder, mas não está surfando como tal. É visível a queda de rendimento. Menos mal que esta 5a colocação mantém uma boa média e entrará em seu somatório. Mas com a chegada de Julian e principalmente Fanning em seus calcanhares, não será surpresa se perder a posição em Teahupoo. A volta de John John, o crescimento de Kelly e o apetite de Mick tornam o Circuito perigoso para as chances de um repeteco do título para o Brasil em 2015. Faltam mais cinco etapas e tudo está aberto nesta que promete ser uma das temporadas mais acirradas do Circuito Mundial.

O milagre

Nestes 35 anos em que surfo, nestes 25 anos em que trabalho na mídia, nunca tinha visto algo tão aterrorizante quando o que aconteceu na final do J-Bay Open hoje, 19 de julho de 2015. Um ataque de tubarão, ao vivo para milhares de pessoas, talvez milhões, deixou os fãs do surf profissional em profunda agonia durante 20 “intermináveis” segundos. Mick Fanning tricampeão mundial, um dos maiores nomes do surf em todos os tempos, além de ser uma das pessoas mais amáveis e simpáticas do Tour, renasceu.

Não sei se outra pessoa teria tido a sorte de Mick. A mordida em sua rabeta, que arrebentou seu estrepe, o mergulho, sumido na água gelada por alguns segundos, o nado para a praia… Tudo digno do grande filme de Steven Spielberg – Tubarão, só que na realidade. Talvez o animal só quisesse saber que corpo estranho estava invadindo seu home break. Talvez estivesse com fome. Quem vai saber? O que importa é que o australiano saiu ileso, para o alívio de sua mãe Elizabeth e da esposa Karissa.

É sabido que a África do Sul tem tubarões agressivos em toda a sua costa. E na direita considerada por muitos a melhor do planeta, não é diferente. Taj Burrow já abandonou uma bateria ali alegando ter visto um enorme tubarão. A cerca de 2 anos, um mergulhador foi atacado e morto por um tubarão de aproximadamente 4 metros bem próximo dali. Ou seja, o pico tem um índice alto de probabilidade de um ataque durante um evento de 4 dias com baterias ao longo de 8 horas.

Não cabe a mim ficar discutindo se é válido ou não fazer campeonato em lugares assim. O surf é um dos poucos esportes onde a interacão passa-se totalmente num habitat estranho ao homem. Na água, somos intrusos. Ali, os peixes, pequenos e grandes, são os moradores. Sou contra qualquer caça a tubarão por simples esporte ou para deixar algum lugar menos traiçoeiro para o ser humano. Temos que respeitar, na medida do possível, o meio ambiente com sua fauna e flora. E J-Bay não foge disso.

Na Austrália, em Snapper Rocks por exemplo, existem redes ao longo da praia. Nos primeiros raios de sol, uma lancha da guarda costeira checa estas redes, para ver se existe algum animal por lá. Apesar de existirem nesta região uma infinidade de tubarões de todos tamanhos e espécies, é mais fácil você morrer por causa de um ataque de água viva. Ali, o governo foi precavido evitando ataques num pico onde muita gente surfa.

Já na região de Bell’s, no sul da Austrália, há menos precaução e o perigo é maior, com dezenas de quilômetros de ondas perfeitas sem um mísero surfista na água apenas pelo fato de que uma placa avisa da presença do verdadeiro black trunk da região, o temido tubarão branco. No Hawaii, onde existem muitos ataques de tubarão tigre, também não há uma ação enérgica visando a proteção dos banhistas e surfistas. Resumindo, o surf profissional tem em seu calendário alguns locais extremente perigosos, e não são apenas por causa de uma rasa bancada ou pelo lip assustador, mas sim porque no oceano qualquer surfista se torna presa fácil para qualquer predador.

Ainda bem que fora o susto, Mick esteja ok. Mas se a WSL quiser realmente mudar o rumo do esporte, terá que repensar a forma com que vai lidar com a segurança de suas estrelas maiores, pois não pegaria nada bem ver qualquer Top sendo devorado ao vivo, em imagens que irão circular certamente para todas as grandes emissoras de TV do mundo, noticiando o milagre que assistimos atônitos. Não tenho a menor idéia do que pode ser feito, mas apenas o pensamento de que algo precisa ser feito já é um início. Vamos torcer para que eles façam algo de concreto, ou não teremos J-Bay no Circuito em 2016? E não me venham com um animal morto porque isto definitivamente não é o certo nem o que resolverá a questão. Aconteceu? Uma pena! Agora vamos evitar que aconteça novamente!!!!

Segue o chutômetro das ondas

Sábado dia 17 ondas com aproximadamente meio metro. Ondulação de leste/ sudeste e vento fraco de norte, passando a sul fraco a tarde. Melhores condições ; Prainha e Reserva

Domingo dia 18 ondas com aproximadamente meio metro, ondulação de sudeste/leste e vento nordeste na parte da manhã, passando a leste forte a tar de. Melhores condições : Prainha e Reserva.

Foto Minduim

Porque você surfa ? O que move você ?

Acordei às 3h da matina, tomei um café reforçado e esperei meu primo e amigo de longas datas para pegar a estrada. Swell de sul 180 graus com 14 segundos, terral prometia o gráfico do surfguru.com.br . Na lata.

Era quarta feira. Adiei a minha reunião pra quinta e já tinha deixado tudo organizado e programado . Essa é a grande vantagem de se trabalhar com a internet, pensei enquanto o som do Rush tocava no carro.

Estar em qualquer lugar com acesso a net me permite surfar sem me preocupar com horário dia da semana e tempo.

Perto de completar 49 anos fiquei refletindo o que me fazia acordar tão cedo com o maior sorriso no rosto e dirigir por quase 2 horas amanhecendo na beira da praia pra pegar umas ondas. Faço isso desde os 9 anos de idade.

Até pra mim pareceu estranho…

Fiquei me perguntando até onde eu iria? Com que idade eu toparia continuar fazendo isso?

Para Marcelo Andrade, somos surfistas com a Síndrome de Peter Pan. É a mais pura verdade.

O mais incrível é que quando cheguei em casa de noite e coloquei a cabeça no travesseiro, eu só pensava naquelas ondas. Na primeira, na segunda ,na terceira…..Que dia !

Duas caídas de 3 horas de alta intensidade, nada mal pensei. Tô vivo!!!

Fiquei pensando nos mares que peguei desde moleque. Pensei naquele tubo seco num terral matinal.Nas batidas de back side no Abreus em uma tarde de quarta feira onde sai escuro de

dentro da água. Pensei nos ônibus que pegava com prancha e as caminhadas por horas pra surfar em Paiva num dia ruim.

Pensei no surf que fazia em Huntington Beach após a aula todos os dias.

Esses momentos é que sempre me motivaram e sempre fizeram com que eu nunca deixasse de buscar o real espírito do surf.

Tudo passava como um filme em câmera lenta.

O que me move é saber que cada onda é diferente. E que a felicidade nesses momentos jamais será esquecida.

Sim começamos a perceber que recordar é realmente viver.

Alguns são movidos pela fé. Outros por razões práticas como dinheiro, ambição. Muitos pela vaidade.Outros pela busca da felicidade.

Eu queria saber o que move você enfrentar uma água fria, um vento de sudoeste e mar agitado.O que te move levantar cedo e deixar a cama quente ? O que move ser muitas vezes “irresponsável” e ficar mais tempo dentro d’água quando você já era pra estar no trabalho?

Por que você surfa ? Gostaria de seus comentários .Me diz aqui embaixo,sua percepção do que te faz surfar?

Uma coisa eu sei.. Quando entra o swell certo e as condições estão clássicas, a síndrome de Peter Pan acontece. Dispara o gatilho da infância. Vamos ser felizes.Eu quero surfar.

Porque você surfa ? O que te motiva ?

Porque você surfa ? O que te motiva ?