Uma luz no fim do túnel

Parece que o Supersurf voltou! Bem, o contrato não foi assinado, mas a parte que vai bancar garante que está tudo certo! Deixando o lado São Tomé para trás, o retorno de um verdadeiro Circuito Brasileiro Profisisonal, nos moldes justos, com etapas espalhadas pelo Brasil (na real, num primeiro momento no eixo Sul-Sudeste), ilumina um ano que tinha tudo para ser sombrio para os surfistas profissionais que não tem condicões de correr o WQS e WCT.

O dono da bola será a Editora Três, que tem uma dezena de títulos impressos, com destaque para a revista Isto É, com seu homem de frente, Caco Alzugaray, de quebra sendo dono da Editora Rocky Mountain, que publica a Hardcore. Uma bela aposta de um cara que adora esportes radicais e viu uma ótima oportunidade, mesmo com valores menores, de juntar comercial com eventos esportivos.

A Editora Abril, dona da marca Supersurf, que hoje está nas mãos do competentíssino Evandro Abreu, ficou quase uma década com uma operação muito similar e dá para dizer que foi um sucesso. Unindo um forte departamento comercial, com entrega de publicidades num rol grande de produtos de mídia, o evento esportivo em si acaba virando um tremendo bônus para os anunciantes/patrocinadores. Um exemplo simples: a Gillette compra uma cota do evento por X e ganha N páginas em Z veículos, além da exposicão no próprio campeonato. Ou vice versa! O único porém, seria vender estas cotas em abril, quando basicamente todo o planejamento das marcas para o primeiro semestre já está comprometido. Será um desafio e tanto, mas parece que o super Caco “Kent” está confiante! Ótimo para o surf!

Os valores seriam em torno de 1 milhão de reais na primeira temporada num possível contrato de três anos (meio lógico, pelo nome do dono da bola). Seriam quatro etapas (Ubatuba, Maresias, Floripa e Rio), iniciando em junho, dando uma premiacão de 60 mil reais por evento. As más notícias são que o Nordeste foi alijado do Circuito em 2015 (logicamente pelo alto custo) e a categoria feminina não terá disputas (não existe ainda um orçamento para as meninas, talvez até pelo baixo número de competidoras). Mas creio que vale o esforço, quem sabe já em 2016 a região NE possa fazer parte do Tour e a gatas tenham seu espaço? Os valores parecem muito menores do Supersurf anterior (que beiravam 100 mil dólares em prêmios), mas chegam num momento onde os surfistas estavam quase se afogando diante da inércia e mediocridade em correr atrás para resolver seus próprios problemas.

Mesmo com alguns limites, Pedro Falcão, diretor executivo da ABRASP não desistiu e junto com Evandro, trouxe como resultado essa notícia que em breve deve ser amarrada na assinatura do contrato entre as partes. Não escondo que estou curioso para ver como os surfistas reclamões vão se portar diante do novo Circuito Brasileiro. Tomara que sejam sensatos desta vez. E também como vai se comportar a cobertura da Revista Fluir, concorrente direta da Hardcore, que agora certamente terá inúmeras vantagens na “brincadeira”. É a vida dando voltas… Que todos enxerguem este grande momento, deixando de lado as diferenças e se unindo para fortalecer a base do surf profissional no país. Precisamos de união, mais do que nunca!

O Circuito Super Surf, que foi o brasileiro de surf por 10 anos, está de volta

O Circuito Super Surf, que foi o brasileiro de surf por 10 anos, está de volta

Chutômetro das ondas 27-03

Sábado dia 28 – Meio metro series maiores na parte da manhã, com ondulação de sudeste, passando para sul, subindo um pouco na parte da tarde.Vento leste fraco pela manhã e maral moderado a tarde. Melhores condições: Macumba CCB, Prainha e Grumari.

Domingo dia 29 – Um metro e meio a dois , com ondulação de sul, virando para sudeste. Vento leste fraco pela manhã, aumentando a tarde. Melhores condições : Grumari e Pontão do Leblon.

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Foto:Minduim

Recordar é viver

Se o surf brasileiro chegou ao patamar de potência mundial, temos que agradecer a muitos que trabalharam para isso acontecer. Muito se falou sobre esse assunto quando Medina recebeu o troféu de campeão, mas no momento seguinte todos esqueceram. Foi uma hora de exaltação, que trouxe a lembrança de grandes nomes que fizeram a história do esporte nas últimas cinco décadas. Confesso que fiquei extremamente feliz com o “recordar é viver”, afinal, não teríamos chegado ao tão sonhado título sem o caminho percorrido pelos ícones do surf nacional. O que me deixou pensativo foi o porquê de exaltá-los somente em ocasiões como essa. Entendo que a mídia especializada não tem muito espaço para lembrar daqueles que fizeram tanto pelo nosso esporte, mas é de uma importância tão grande, que poderiam arrumar uma forma de solucionar essa equação. E mais, precisamos deixar algum espaço para os futuros atletas que vão nos representar em breve. Parece que só temos os surfistas do tour, que estão em evidência, e alguns free surfers, que botam pra baixo nas ondas grandes e tubulares. Alguns podem discordar, mas não conheço nenhum esporte em evidência que não reverencie os seus ídolos. É uma forma de fortalecer e perpetuar a imagem do esporte através dos anos. Em novembro passado comecei a postar na página do Surf 100 Comentários, no Facebook, algumas pequenas homenagens aos fotógrafos brasileiros que fazem um trabalho artístico muito importante para as revistas e mídias do surf nacional. Senti que era uma chance de dar um pouco mais de visibilidade a esses profissionais que fazem tanto pelo esporte, mas que não recebem o destaque que seria merecido pela sua importância. Percebi que nossos seguidores ficaram impressionados com a qualidade dos trabalhos, das fotos.

Dadá era um dos grandes nomes do surf brasileiro, dos anos 80.

Dadá era um dos grandes nomes do surf brasileiro, dos anos 80.

Com a conquista de Gabriel Medina e a exaltação dos ídolos do passado, também resolvi falar um pouco sobre eles no Face. Para a minha grata surpresa, constatei que a aceitação foi bem grande. Isso mostra que eles nunca sairão das nossas melhores lembranças. Tenho 50 anos de idade com 38 de surf, e muitos dos garotos que hoje acompanham o esporte não viram aquilo que tive o prazer de acompanhar. Tenho certeza que eles ficariam fascinados com as histórias de Dadá Figueiredo, Pepê Lopes, Rossini Maranhão ou Rico de Souza, apenas para citar alguns exemplos. Poderiam entender a importância de ser TOP 16 da ABRASP nos anos 80; aprenderiam o que representou o fenômeno Fabio Gouveia para o surf nacional; e como Teco Padaratz teve a primeira carreira planejada para levar um surfista brasileiro ao topo do ranking mundial. Reconheceriam os irmãos Paulo, Neno e Amaro do Tombo; conheceriam a ginga do surf brazuca nos pés de Tinguinha Lima e de Jojó de Olivença; saberiam um pouco do que representaram Cauli Rodrigues, Daniel Friedmann, Ricardo Bocão, Otávio Pacheco, Roberto Valério e Valdir Vargas para o surf profissional. Ficariam chocados com a quantidade de títulos que Picuruta Salazar conquistou; com a garra de Sergio Noronha, Peterson Rosa e Neco Padaratz; com a determinação dos baianos Armando Daltro e Christiano Spirro; com o talento de Fred D’orey,Victor Ribas e Renato Wanderley; com a consistência e a frieza de Pedro Muller, Ricardo Tatuí, e Wagner Pupo, em suas baterias. Aprenderiam muito com a volta por cima de Andréa Lopes, e com as dificuldades que Tita Tavares e Fabinho Silva tiveram no circuito mundial. Entenderiam o que representou o tubo nota 10 de Renan Rocha em Pipeline e a importância das performances de Guilherme Herdy e Binho Nunes em ondas tubulares. Apreciariam a beleza do estilo de Rodrigo Dornelles. Veriam como Carlos Burle, Eraldo Gueiros e Rodrigo Resende tiveram resultados expressivos em eventos de ondas grandes. Aplaudiriam a vitória de Bruno Santos em Teahupoo. Poderiam sentir a mesma admiração que tenho por Pepê Cesar, Ricardo Toledo, Piu Pereira, Joca Junior, Nelson Ferreira, Rodolfo Lima, Paulo Kid, Almir Salazar, Luis Neguinho, Saulo Lira, Julio Adler, Bilo, Bita, Hemerson Marinho, Paulo Rabelo, Renato Phebo, Marcelo Bôscoli, Guto Carvalho, Sávio Carneiro, Cesar Ferrugem Baltazar, Fernando Bittencourt, Sergio Testinha, Aldemir Calunga, Mica, Paulo Motta, Marcos Brasa, Roberto Casquinha, Alexandre Herdy, Felipe Dantas, David Husadel, Claudio Marroquim, Rodrigo Osborne, Fabio Quencas, Beto Cavalero, Paulo Zulu, Leo Chinês, Tadeu Pereira, Icaro Cavaleiro, Alex e Fred Guaraná, Jair de Oliveira, Eduardo Coutinho, os irmãos Argolo, Olimpinho, Guilherme Gross, Eduardo Fernandes, Taiu, e muitos outros grandes nomes do surf brasileiro, que presenciei dando espetáculo, nos primórdios do circuito brasileiro. Enfim, uma enorme quantidade de fatos e lembranças que nós não podemos esquecer. Quem fez muito pelo nosso esporte tem que ser lembrado, sempre.
Continuarei com as minhas postagens tentando passar um pouco do que pude presenciar. Sei que não falei de todos, mas lembrem-me, por favor. Afinal, cada um tem suas próprias memórias.

Fred D'orey, Roberto Valério, Rico de Souza e Valdir Vargas, todos legends do surf brasileiro.

Fred D’orey, Roberto Valério, Rico de Souza e Valdir Vargas, todos legends do surf brasileiro.

Daniel Friedmann é um dos grandes nomes da história do surf brasileiro. Foto ; Arquivo Alma Surf

Daniel Friedmann é um dos grandes nomes da história do surf brasileiro. Foto ; Arquivo Alma Surf

O mau jornalismo

Foi anunciada a punição a Gabriel Medina. Uma multa! De quanto? Ninguém sabe! Porque? Talvez por ter sido um valor irrisório, o que acarretaria uma gritaria enorme por parte da mídia especializada internacional. O que faz um grupo de jornalistas se meter num assunto de pouca utilidade pública envolvendo um atleta campeão do mundo jovem, de um país em desenvolvimento? Só penso em preocupação.

Sim, o lado conservador anglo-saxônico, meio racista, meio falso superior, não está aceitando bem a série de bons resultados dos brasileiros, principalmente em seus domínios (duas vitórias seguidas na capital do surf aussie, em plena Gold Coast) soa como um cataclisma sem proporções, tipo a seleção brasileira de futebol perder para a Argentina duas vezes seguida por 7 x 1, em pleno Maracanã.

Logicamente, existe o outro lado da moeda, onde gente sensata, por exemplo da Austrália, não só aceita esta nova força no surf, como enxerga isso como um desafio positivo na busca de retomar um amplo domínio atrapalhado por três americanos fora de série: Tom Curren, Andy Irons e Kelly Slater. Para os aussies, que já tiveram Mark Richards, Damien Hardman e ainda conta com Parko e Mick, o futuro não parece tão promissor, e talvez por isso tanto pavor do surf brasileiro como atestam alguns leitores exaltados por matérias mais incisivas sobre a possível troca de guarda no surf.

O interessante é que os americanos, até então o “Eixo do Mal”, não parecem se importar com tanto barulho, como estivessem saciados de tantos títulos mundiais. Nem os fãs do WSL nem a mídia ianque de peso, notadamente a mais influente e tradicional do esporte com a Surfer e Surfing se mostram aterrorizados com tantas promessas e até realidade como Gabriel Medina.

Atualmente dirigida por americanos, é inegável que a nova entidade que rege o surf profissional já mudou os rumos de seu negócio, com atitudes que atestam que a filosofia foi mudada. Pode se discutir tudo sobre o EUA, mas é inquestionável a capacidade deles de fazer eventos. E o Tour está bem melhor do que há dois anos, seja na parte de divulgação com a ótima cobertura pela internet ou pelas inovações tentando aumentar a audiência e angariar mais fãs (apesar de eu ter achado meio sem efeito colocar números aleatórios nas lycras do atletas, quando me parece mais razoável usar a numeração para mostrar a posicão no ranking, com seu nome).

Voltando ao assunto da multa imposta a Medina, acho que foi interferência (o padastro do campeão chegou a dizer que “teria sido como pênalti cavado”, que no final das contas é infração) e logicamente tenho certeza de que a entrevista infeliz logo após a bateria contra Hall foi a gota d’água para o Comitê Disciplinar, pois no atual momento da liga, não fica nada bem o seu surfista número um soltar um palavrão ou ser agressivo, em transmissão ao vivo para milhares de pessoas ao redor do mundo. Óbvio que merecia um punição. Que também foi aplacada devido ao pedido de desculpas, para mim extremamente sincero, feito ao próprio irlândes no dia seguinte ao episódio.

O meu amigo e excelente jornalista Steven Allain, acabou de divulgar que “o The Inertia abriu uma petição e está juntando assinaturas que pedem, acreditem, a suspensão de Gabriel Medina do Tour http://www.theinertia.com/surf/medina-samsung-the-axis-of-evil/. O BeachGrit, de Derek Rielly e Chas Smith, rebateu sensacionalmente, fazendo sua própria petição, pelo fim do ódio e preconceito promovido pelo The Inertia http://beachgrit.com/the-inertia-tries-to-get-gabs-suspended-fined/.” Pois bem, com tantas guerras e mortes, todos relativos a religião, cor da pela e opções sexuais, fico chocado que seres humanos usem do âmbito esportivo para propagar tamanho preconceito exagerando um fato isolado sem consequência alguma.

O surf é um esporte individual. Não existe país X país. Ninguém deveria estar preocupado com hegemonia disso ou daquilo. O importante, ao meu ver, é o desenvolvimento do esporte, dos equipamentos, a busca por novas manobras, a evolução dos praticantes, que por ironia, brigam por uma onda nos dias de hoje, quando antigamente deixavam a onda para o próximo. Utopia? Pode ser, mas não deixa de ser um belo desejo. Menos mal que enquanto alguns jornalistas disseminam o negativo, figuras como o aussie Mick Fanning (um exemplo de competidor e rival) dão belos exemplos de respeito com o próximo, esbanjando humildade e sabedoria, demonstrados no Hawaii, quando disputou o título com Medina e Slater. Infelizmente, neste caso, a arte (jornalismo) não imita a vida!

O momento da interferência que gerou toda a polêmica. Foto:WSL

O momento da interferência que gerou toda a polêmica. Foto:WSL

 

Chutômetro das ondas 20-03

Sábado dia 21 – Meio metro, com series maiores na praias que recebem melhor ondulação de sudeste/leste. Vento norte fraco pela manhã e sul a tarde. Melhores condições : São Conrado, Canto do Recreio, Macumba CCB e Prainha.

Domingo dia 22 – Meio metro, com ondulação de sudeste/leste. Vento sudoeste fraco pela manhã e mais forte a tarde. Melhores condições : Canto do Recreio e Prainha.


Foto:Minduim

O suvaco de Medina

Realmente existem coisas que custo a acreditar serem possíveis. Uma delas vi nesta semana, quando o grupo Mesa Surfocrática, do Facebook, postou um vídeo com Gabriel Medina raspando sua axila com o Gillette Body, raspador de pelos para homens lançado pela marca da gigante Procter & Gamble. Este clip faz parte de uma mídia da Gillette Brasil no You Tube: https://www.youtube.com/user/gillettebrasil. Nesta página, Medina ensina como se usa o produto na hora de raspar o peito, abdômen e axila.

Não sou preconceituoso! Cada um faz o que quer de sua vida. Este tipo de produto, típico dos homens metrossexuais, pode agradar a quem tem muitos pelos e se incomoda com isso mas no caso, achei de extremo mau gosto a forma de divulgação. Me soou vulgar e apelativo. Sem falar que visivelmente Gabriel não estava à vontade fazendo aquilo. É óbvio que está na hora do staff do jovem de 21 anos faturar com a imagem vencedora e de bom menino de Gabriel, mas tudo tem um limite. E pior do que o mau gosto, foi a enorme bola fora perante as pessoas que comentaram tal vídeo. Afirmo que a repercussão, ao menos no meio do surf, foi bem negativa. Para ilustrar o que digo, você já viu algum anúncio de depilador feminino sendo usado na virilha por uma mulher de pernas abertas? Não! Sabe porque, é de mau gosto e agressivo! Ou seja desnecessário! Existem outras formas de mostrar o uso de um produto.

Gabriel está abrindo um novo caminho ante a grande mídia brasileira. Seus feitos e até passos estão sendo exibidos em rede nacional para milhões de pessoas e cada acerto ou erro repercutirá bastante. Por isso, penso eu, ele necessita de gente capacitada para poder tocar sua imagem perante os possíveis patrocinadores e mídia. Vender a cara de um garoto campeão no auge é mole, quero ver manter isso dando tiro no pé e parando de vencer. Sim, porque no esporte em geral, não é todo dia que surgem Federer, Tiger, Rossi, mesmo Slater, verdadeiros multicampeões. Gabriel é um excepcional surfista, mas ainda está anos luz atrás deste rol de ídolos. Não digo que seja incapaz de no futuro cravar seu nome na lista, mas vivo o presente, e agora ele não faz parte disso.

O surfista sempre foi um ótimo estereótipo para vender saúde, beleza, culto a natureza. E continua assim. Existem diversas formas de utilizar a imagem de uma celebridade, seja esportiva ou não, na divulgação de um produto polêmico (sim, porque não conheço nenhum homem que raspa as axilas, bem talvez um…). E o fato de se submeter, mesmo que seja por inteira vontade, demonstra que talvez  tenha faltado bom senso ao surfista (continuo a bater na tecla de que Gabriel é muito novo e sem a maturidade necessária para tomar decisões que certamente o afetarão) e visão de marketing a quem comanda o destino de sua imagem.

Cansei de frequentar o ambiente publicitário e conheci muita gente genial, da mesma forma que um monte de incompetente, puxa-saco, que não conseguia ter nenhuma idéia razoável. Não conheço o responsável, ou responsáveis, pela idéia de jerico de pôr o campeão mundial de surf raspando seu suvaco, mas realmente torço para que tenham um mínimo de humildade e reconheçam o passo em falso, para que possam entender que nem sempre o dinheiro vale a pena. Nesta mesma página do You Tube, vemos o time de estrelas da Gillette como Lionel Messi, Vitor Belfort, Roger Federer e nenhum deles usa o lançamento da marca se raspando. Será que a empresa achou que eles não seriam bons garotos propaganda ou o staff dos ídolos mundiais vetou uma ação deste tipo? A resposta parece ser óbvia.

Muitos podem até falar que este assunto não é da minha conta. Discordo! A partir do momento que uma ação de marketing chega a meu computador, TV ou meio impresso, passa a ser de minha conta também. E tenho total direito de achar bom ou ruim. No caso, vou além, digo que foi péssimo e chego a acreditar que Gabriel está arrependido de ter feito isso. Afinal, se neguinho tá zoando ele nas redes sociais, imagine quem tem mais intimidade.

Aproveitando o texto, vou cravar outra medida que julgo ser emergencial para o sucesso a longo prazo de Medina. Precisa melhorar o seu inglês, e muito! Uma coisa é saber se comunicar com a galera, outra é se comunicar com a mídia. Fazer-se entender é um dos principais conceitos para se tornar uma boa imagem. E se você não sabe se comunicar, certamente falará bobagens, como no caso da entrevista à Peter Mel após a derrota para Glen Hall no Quiksilver Pro. Ver Gabriel brigando para se expressar passa uma imagem de ignorante (não adianta os pseudo-patriotas falarem que saber inglês não é importante, pois é, afinal a língua universal é o inglês) que não condiz com um exímio competidor de raro talento. Ao invés de pensar no agora, o staff de menino precisa se lembrar de que existe futuro. E por favor, sem mais raspadas!

O ídolo Dadá Figueiredo

Era mais ou menos 16:30 h de um dia da semana, em meados de setembro de 1986. Minutos após a entrega da premiação do campeonato de surf do colégio São Vicente de Paulo, alguém grita, na areia do meio da Barra: “olha o Dadá na vala ali do lado…” Surfava há menos de um ano e não conhecia quase nenhum dos principais surfistas da época. Mas para não passar por um completo iniciante, apenas perguntei “Cadê?”.

“Ali na direita…. O estilo dele é irado…. Ele surfa com os antebraços arqueados em cima da prancha…” Identifiquei na hora. A onda que ele surfava tinha 1,5 mt e a figura dele composta em cima da prancha, bem como a leveza com que ele trocava de borda de backside, harmonizava com a perfeição da onda. Um belo por do sol emoldurava o momento.

Passado pouco mais de três anos, em algum dia de fevereiro de 1990, marco com o meu camarada de surf, Cristiano, de irmos surfar no meio da Barra, na altura do 3100. Sabíamos que o fundo estava excelente por lá. No auge dos meus 15 anos, surf é o único esporte que me interessa. E nessa mesma época Dadá é “o” surfista do RJ e certamente o surfista brasileiro mais talentoso.

Após a nossa terceira caída, eis que aparece do nosso lado a figura do cabeludo Dadá. Naquele momento, só havia 3 pessoas no line up: eu, meu amigo Cristiano e o Dadá. Lembro que o Dadá havia acabado de sagrar-se campeão carioca (antiga OSP), um ano antes, em 1989, com performances memoráveis. E, subitamente, surge uma onda excelente para a esquerda, com cerca de um metro.

No temor de não fazer feio perto do ídolo, nem percebo que a onda é para o lado em que ele está posicionado: faço a boia no mito e me posiciono mais a esquerda para dropá-la. Dadá rema para onda e toda aquela fama de ‘bad boy’ desaparece: sem reclamar que eu fiz a boia, nem simplesmente rabear, Dadá dropa e faz um movimento com a prancha, pisando forte na rabeta, como quem fosse entubar, para frear a sua prancha e permitir que eu passasse por ele.

Dadá fazia manobras inovadoras nos anos 80.

Dadá fazia manobras inovadoras nos anos 80.

Percebendo a atitude do mestre, bem como a minha indelicadeza em fazer a boia, o ultrapasso por baixo da onda, com todo o cuidado para não chocar as pranchas, e saio imediatamente da onda permitindo que ele a surfasse até areia.

Há três dias atrás, vi um post no Facebook homenageando os 50 anos do Dadá. Pensei, imediatamente, em quantas vezes fui surfar arqueando os antebraços, tentando rodar a rabeta na junção, ou tentando conectar as ondas do outside para o inside, com a mesma fluidez com que ele fazia. Em outras palavras, o quanto Dadá me inspirou durante esses 30 anos que eu pratico o esporte.

E, aproveitando a vitória do Filipinho Toledo em Snapper Rocks, penso o quanto importante foram as performances do Dadá ao longo de sua carreira, para ajudar a formatar essa geração Brazilian Storm, mesmo que indiretamente.

Pois bem, há 25 anos atrás, Dadá “plantou a semente” do Brazilian Storm com performances jamais vistas no Brasil ou mesmo no mundo. Destaco aquela batida na junção/layback, na final da etapa da OSP no Arpoador em 88; ou a memorável bateria em que ele perdeu para o sempre inspirado Ricardo Toledo no OP Pro de 88, no Quebra Mar; ou a velocidade que ele imprimiu durante o Tribuna Niasi, também em 88, no Canto do Maluf; ou a devastadora atuação durante o TDK Gotcha Pro, na praia de Sandy Beach, em 89. E muito mais…

A verdade é que o Dadá talvez nunca tenha sido um atleta profissional, obcecado por resultados. Acredito que ele foi um artista do esporte. Com toda a genialidade, peculiaridade e excentricialidade que qualquer grande artista possui.

Minha sincera homenagem. Parabéns e vida longa.

Com certeza um dos maiores ídolos do surf brasileiro de todos os tempos.

Com certeza um dos maiores ídolos do surf brasileiro de todos os tempos.

Chutômetro das Ondas 15-03

Sábado – Meio metro, com series maiores em algumas praias. ondulação de sudoeste/sul e vento fraco de oeste na parte da manhã e sul moderado na parte da tarde. Melhores condições: Grumari e Reserva.

Domingo – Meio metro com series maiores, podendo chegar a um metro em algumas praias. ondulação de sul e vento fraco de oeste na parte da manhã e sudeste moderado na parte da tarde. Melhores condições: Grumari e Reserva.


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