Explicando o inexplicável

Enquanto o mundo inteiro está vidrado na tempestade brasileira, um surfista havaiano conseguiu um feito nunca antes realizado, nem mesmo por um integrante da saga tupiniquim. Matt Meola realizou a mais incrível manobra aérea da história do surfe mundial no dia 28 de abril de 2015 em um pico secreto na ilha de Maui, estado do Havaí, nos Estados Unidos da América. Só quem chegou perto do feito e detinha a menção honrosa foi o Maomé das ondas, Mr. Kelly Slater, com seu aéreo reverse 540 graus, dependendo da sua corrente de pensamento quanto a aéreos.

O feito foi batizado por Meola de “Spindle flip 540″ que como nome diz é uma rotação de 540 graus no eixo. Na prática é uma mistura de alley oop com rodeio, numa incrível rotação de 540 graus para 2 eixos diferentes, um com a prancha na vertical e outra na horizontal com as duas mãos na borda. Ou seja, revolucionário!

Como ele fez isso? Intencional ou instinto? Todos nós sabemos que surfe começou antes do skate e do snowboard, mas nossos primos do esporte estão a mil passos a nossa frente em termos de aéreos, não só pelo terreno imóvel que praticam seus truques como pela quantidade de praticantes tentando manobras em ambientes controláveis possibilitando a repetição em menos tempo. Porém é impossível ver um aéreo desse e não comparar a nossos parceiros de quatro rodinhas ou das montanhas de neve. Mas a grande comparação está sendo feito com o aéreo do Kelly Slater em Portugal, durante um freesurfe da etapa do WCT ano passado. Na ocasião KS executou um aéreo reverse com rotação de 540 graus. O do Matt Meolla a principio o aéreo parece um rodeo flip de snowboard mas colocando em contexto de um half pipe de skate, o qual considera-se o aéreo pelas rotações acima do coping, lip no caso, foi um 540 com uma inversão de eixo no final. Em entrevista a revista Surfing Matt Meola explica: “ Foi intencional porque pensei que era possível, mas esse particularmente foi instinto. Não tinha plano de mandar esse aéreo naquela seção. Eu estava querendo mandar um backflip mas quando eu decolei a rotação saiu de uma forma diferente eu tive de me adaptar e o vento me jogou alto suficiente para eu completar”. Uma inovação digna de gênio que ainda deixa todos nós especialistas confusos.

Mas o que interessa é que manobras como essa não só elevam o nível como dizem por aí, elas criam novas metas de alcance para os demais surfistas e até outros esportistas de boardsports. Desenvolver o esporte parte de ações como essa do Mat Meolla. É claro que não duvido que Filipe Toledo, Gabriel Medina, John John Florence, Noa Deane ou Dane Reynolds conseguirão igualar o feito em breve numa bateria do WSL ou em algum filme a ser lançado em um cinema próximo de você, mas a verdade que hoje, esse foi o aéreo mais inovador da historia do surfe.

Depois de detalhar como foi, contextualizar no mundo dos boardsports, ponto seguinte da minha avaliação foi a finalização da manobra. Ele completou? Na minha opinião sim. Uma aterrisagem dura no finalzinho da espuma, porém em cima da prancha com os 2 pés colados e todo equilíbrio (até porque estava segurando com as duas mãos na borda) desvirando a bico da prancha na direção da praia. Ele ainda fica uns 2 segundos sobre a prancha até ser derrubado pela espuma da onda. Comparo isso ao skatista que completa a manobra mas tem que sair do skate quando tem um obstáculo a frente, um gramado ou coisa que o valha. Ele ainda teve tempo de comemorar levantando os 2 braços para o alto enfatizando o término da manobra. Já o aéreo do Kelly Slater foi uma aterrisagem bem mais macia em cima espuma e que ele consegue controlar a prancha por mais tempo até chuta-la para finalizar a onda.

E por final para fecharmos o raio- x, comparemos a condição da pista, digo do mar. A onda que Matt Meola executa é uma bomba de pelo menos 1m de face, fundo de coral com muita força (vide a bomba atrás já estourada no 2nd reef) overhead para ele, a qual cria uma rampa que o faz voar mais de 1m de altura em comparação com o lip e mais de 3m se compararmos a base da onda. O vento ladal contrário a direção da onda é perfeito para execução do feito deixando a onda com lip esfarelando e criando a superfície perfeita para voo e aterrisagem sem grandes traumas. Já no caso do Kelly Slater, a onda de meio metro e o vento terral frontal forte só o arremessa a meio metro de altura em comparação com lip, até porque ele se projeta para frente e não tão para o alto como Meola. Duas técnicas diferentes para aéreos diferentes.

Tentar explicar o inexplicável para os amantes do surfe moderno é muito difícil e sei que ainda estou longe de decifrar a técnica de grandes talentos como esses dois surfistas e traduzir o dom que receberam. O que importa é ver a evolução do surfe e passar a informação para o máximo de pessoas possível para que assim o esporte cresça e se desenvolva gerando força para mais Meolas, Slaters e Toledos continuem quebrando todos os parâmetros desse esporte radical.

 

1 Response

  1. Ciclotron 19 de maio de 2015 / 15:59

    Alucinante o aéreo de Meola, ficamos de CARA….. Principalmente ele (heheheh). Penso que Slater quando criança teve acesso as revistas de skate que noticiaram os “Reis de Dogtown” e a medida que seu surf foi evoluindo ele passou a imprimir os movimentos executados nas piscinas dentro d’água, proporcionando mais impulsão para os aéreos tendo o “reverse” como primeiro estágio das “rotações” progressivas que hoje vemos revolucionando o surf mundo a fora.

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