A grande festa

 

O efeito Medina foi mais devastor do que imaginava. A grande festa do CT, nas areias da Barra, foi algo jamais visto. Não falo isso apenas pelo enorme público que invadiu o Postinho, mas pelos patrocinadores que abraçaram o evento. Com certeza foi o ano que mais se arrecadou com verbas de patrocínio de marcas de fora do surf. Parece que o mercado está abrindo os olhos para o nosso esporte, mesmo em um momento tão delicado da nossa economia.  A vinda da etapa para o Rio, em 2011, foi motivada por essa possibilidade, que só se concretizou agora, muito pela exposição do título de Gabriel Medina. Ainda temos que contar com verbas públicas, pelo alto orçamento do evento, mas acredito que é questão de tempo para isso se modificar. A prefeitura do Rio coloca R$ 5.000.000,00 e o Governo do Rio incentiva algo parecido em impostos. A única crítica que tenho a toda essa verba , é que a prefeitura poderia investir um pouco desse dinheiro na base do surf carioca, que está passando um momento delicado. Com 200 mil garanto que a Feserj faria um excelente trabalho. Não adianta de ter essa grande festa sem uma contra partida a base local. Afinal, quem paga os impostos são aqueles que moram na cidade.

Estamos no melhor momento da história do surf brasileiro,  com a primeira e o segunda colocações do ranking do CT 2015, Adriano de Souza e Filipe Toledo respectivamente, e o campeão mundial de 2014, Gabriel Medina. Nossa torcida está cada vez mais entusiasmada e por isso invadiu Pipeline, estava forte em Snapper Rocks, e agora lotou as areias da Barra como se estivesse no Maracanã. Isso demonstra a confiança que temos nessa geração demolidora, que nos colocou no topo do mundo. Não estou afirmando que somos a maior potência do surf mundial, mas que nosso espaço está se ampliando. Se seguirmos esse rumo podemos chegar lá.

A performance de Filipe Toledo mostra isso. Foi uma vez mais um nível acima dos outros atletas da competição. Não ví nenhuma bateria que ele tenha passado qualquer sufoco. Muito pelo contrário, foi impondo seu ritmo sem se preocupar com seus oponentes. No último dia de evento, com um multidão enlouquecida por suas manobras aéreas, Filipinho apenas concretizou o que todos esperavam. Assim foi na Gold Coast, em Trestles, e agora no Brasil. Vendo a final com amigos, já imaginava que venceria com facilidade o australiano Bede Durbidge. Conquistou o melhor somatório do ano, com 19,87 em 20 pontos possíveis. Realmente assustador.

Filipe Toledo fazendo a torcida delirar nas areias da Barra. Foto: WSL

Filipe Toledo fazendo a torcida delirar nas areias da Barra. Foto: WSL

Adriano de Souza continua na liderança, mas era visível a frustação com sua derrota precoce. Perder no round 3 não estava nem nos seus piores pensamentos.  Estava surfando muito bem e foi uma surpresa para todos que acompanhavam a competição. Acredito muito nele, e acho que os resultados o deixaram, de certa forma, numa situação confortável. Fora o Filipinho, que chegou junto, todos que estavam no seu cangote também não tiveram resultados expressivos. A disputa está entre os dois, mas teremos Fiji e Teahuppo pela frente para confirmarmos se será isso até o fim, ou se aparecerão intrusos nessa corrida pelo caneco. Particularmente, acredito que John John, Mick Fanning, Kelly Slater e Gabriel Medina podem chegar junto, mas vamos aguardar.

Italo Ferreira e Jadson André mostraram muita vontade e talento nesta etapa. Italo foi barrado pelo campeão, na semi, conquistando seu segundo bom resultado em 2015. Para um novato, acredito que tenhamos que tirar o chapéu para o começo de tour do potiguar. Seu surf é moderno e tem muito a evoluir. Pode ser o grande Rookie de 2015. Seu conterrâneo Jadson já tem bagagem no tour e sabe que cada batalha tem que ser com sangue nos olhos. Não possui o talento de outros brasileiros, mas tem a garra e a vontade que poucos tem. Miguel Pupo e Wiggolly Dantas que começaram arrebentando na primeira etapa, não conseguiram mais ter bons resultados. Estão surfando muito bem, mas ficando nas fases iniciais. Silvana Lima é outra que tem dar um gás. Ainda não teve um grande resultado e isso é preocupante.

A festa das areias da Barra terminou mas é importante olharmos para a proporção que o evento tomou. Não gostaria de ser organizador desse evento, que cada vez tem mais espaço no palanque, mas que tem uma procura descomunal por pulseiras de acesso. Ficou nítido que o esporte explodiu e que teremos que saber cuidar daqueles que realmente trabalham e fazem muito pelo surf, pois essas pessoas não podem ficar de fora por falta de espaço. Compreendo a situação da organização, mas temos que valorizar os nossos, como  em todos os esportes. Ví muitas crianças nas áreas vips e senti falta dos grandes legends. Da mesma forma, penso que sites e blogs nacionais poderiam ser credenciados para trabalhar na estrutura. São instrumentos de divulgação do esporte que merecem respeito por seus trabalhos. Não é uma crítica, apenas um toque.

Filipe Toledo carregado pela torcida brasileira. Foto: WSL

Filipe Toledo carregado pela torcida brasileira. Foto: WSL

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