Vamos ao que interessa! J-Bay Open!

Julian Wilson está forte na disputa do título. Foto : WSL/ Divulgação

Julian Wilson está forte na disputa do título. Foto : WSL/ Divulgação


Passado o susto e o alívio de todos com Mick Fanning embarcando ileso para casa, vamos ao que interessa, ao menos para quem quer saber minha opinião sobre a 6a etapa do Circuito Mundial que acabou com ambos finalistas dividindo os pontos pelo segundo lugar. De quebra, achei esta resolução da WSL absurda. Talvez esteja escrito no livro de regras, mas para mim seria esta uma regra bem tola, pois ou os dois levariam a pontuação de campeão e dividiriam o somatório dos prêmios do primeiro e segundo lugares ou então pegaria a soma dos pontos – 18000 e dividiria por dois, 9000 para cada. Ambos em segundo lugar deve ser inédito no esporte mundial.

Mas voltando ao surf, diria que este evento foi o renascimento, ao menos na temporada, para dois baitas surfistas: Gabriel Medina e Kelly Slater. Tanto o brasileiro quanto o americano não estavam numa maré muito boa. Medina, visivelmente incomodado com a enorme pressão pelo título mundial ganho e Kelly cometendo erros infantis que não condizem com um atleta multicampeão de 43 anos. Pois em J-Bay eles voltaram aos bons tempos, inclusive fazendo uma das melhores baterias do ano.

Não me incluo no rol de especialistas de surf ufanistas, por isso concordei com o resultado da vitória de Slater sobre Medina nas quartas pelo simples motivo de que enquanto o americano usou de extrema velocidade, variando as manobras, fazendo base/lip e escolhendo ondas melhores, o atual campeão mundial teve que quicar sua prancha para pegar embalo em alguns momentos mostrando perda de “time”, sendo obrigado a usar os floaters nas partes mais cheias da onda para passar pelas seções. Mesmo desferindo algumas belas batidas de back, o brasileiro ainda não tem um drive vertical como Owen Wright ou Ace Buchan, utilizando-se de um truque bem comum aos surfistas acostumados a beach breaks que consiste no famoso pêndulo (faz uma cavada com menos ângulo e pisa na rabeta para jogar a prancha contra o lip). Em picos como Jeffrey´s Bay o truque é saber usar a velocidade da onda para fazer a linha ideal. De frontside é mais fácil e o grau de dificuldade de harmonizar tantos movimentos poderosos sem perder o gás é altíssimo. A derrota não diminuiu a performance de Gabriel, que voltou a ter sangue nos olhos e deu um upgrade sólido em seu surf de costas para a onda. Creio que mais um ou dois anos ali e vão ter que ralar coco para vencê-lo. Já Kelly, esteve solto, executou os movimentos mais potentes do evento, curtiu uma de suas ondas prediletas e mostrou que vai incomodar mais um pouquinho a nova geração.

Outro que demoliu tudo ao seu redor, principalmente no último dia, foi Fanning. É notório que seu surf de arcos longos e extrema rapidez casam perfeitamente com a locomotiva gelada que é J-Bay. Mas em sua vitória na semi contra Kelly, foi taticamente perfeito, ainda mais no meio da bateria, quando Kelly ameaçou ir numa onda intermediária e Mick o bloqueou, trocando sua segunda nota que era um 8,20 por 8,23, não deixando a porta aberta para uma provável virada de Slater, que necessitava de apenas 7,27 e voltaria para o outside na liderança e com uma pressão enorme para cima do aussie. Um belo trabalho tático que culminou com uma onda da série surfada no final onde praticamente nocauteou seu maior rival até então.

O último surfista que destaco é Julian Wilson, um competidor demasiadamente inteligente, que sabe disputar uma bateria como se fosse mestre de xadrez. Não abusa da sorte, faz o feijão com arroz com estilo e competência e quando se sente seguro é capaz de tirar da cartola manobras incríveis. Não chegou a sua terceira final a tôa este ano e é para mim o cara a ser batido. Sem contar que sua atitude de prestar socorro a Fanning quando o companheiro largou sua prancha e nadou fugindo mostra o quanto este rapaz tem bom caráter, pois são em situações como essa que vemos o melhor das pessoas. Muitos brasileiros detestam Julian por causa das cagadas que os juízes fizeram no passado. Ele e qualquer outro Top da WSL não tem nada a ver com erros dos outros. Sua atitude foi bonita, corajosa e heróica, digna de um surfista companheiro de profissão.

Quando aos outros brasileiros, quem realmente encheu meus olhos foi Wigolly Dantas. Nem parece que é seu primeiro ano de Tour. Com um backside forte e limpo, ele chegou ao 9o lugar e mostrou surf de ponta. Alejo Muniz mandou bem quando o mar esteve mais para Brasil do que para África do Sul. Não sei se usou a prancha indevida para as condições do último dia, mas o que ficou na minha cabeça foi como ele não soube surfar as perfeitas direitas de 6 pés de Jeffrey’s. Já Adriano de Souza pecou com erros tolos de prioridade e não soube executar as manobras certas sucumbindo nas quartas para Wilson numa bateria que esteve equilibrada nos primeiros 20 minutos. Ainda é líder, mas não está surfando como tal. É visível a queda de rendimento. Menos mal que esta 5a colocação mantém uma boa média e entrará em seu somatório. Mas com a chegada de Julian e principalmente Fanning em seus calcanhares, não será surpresa se perder a posição em Teahupoo. A volta de John John, o crescimento de Kelly e o apetite de Mick tornam o Circuito perigoso para as chances de um repeteco do título para o Brasil em 2015. Faltam mais cinco etapas e tudo está aberto nesta que promete ser uma das temporadas mais acirradas do Circuito Mundial.

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