“O”Evento

Gabriel Medina venceu. Kelly Slater e John John Florence deram show, mas o que ficou para a história neste épico Billabong Pro foi o principal ingrediente do surf: as ondas. Elas, que muitas vezes no WCT são deixadas de lado por vôos e outras manobras modernas, desta vez tornaram-se protagonistas pelo força e perfeição.

Em quatro dias de 6 a 12 pés, com séries maiores, sempre verdes e insanas, os Top 32 puderam se redimir da etapa de Fiji em 2013, quando resolveram não disputar as baterias com, talvez, as melhores condições de surf de todos os tempos no Circuito Mundial – Cloudbreak com 15 a 18 pés incrivelmente lindos.

Kelly Slater totalmente a vontade nas poderosas ondas de Teahupoo. Foto: ASP/ Will

Kelly Slater totalmente a vontade nas poderosas ondas de Teahupoo. Foto: ASP/ Will

Lógico que para Gabriel, esta conquista ficará para sempre em sua memória, pois vencer Slater, em Teahupoo, da maneira que foi, é para deixar qualquer um com estado de espírito divino. Ainda mais com uma vitória que praticamente lhe dá o tão esperado caneco de campeão mundial, o primeiro para um brasileiro, com enormes chances da consagração vir antecipada na Europa. Soa irônico o provável feito de Gabriel num ano onde o surf basicamente sumiu a nível nacional.

Eu, que por mais de 20 anos assisti campeonatos do Tour em condições das mais variadas, penso que não verei novamente algo parecido, ainda mais durante a semifinal entre John John e Kelly, onde ambos empataram em 19,77 pontos, com Slater vencendo no desempate por ter um 10 contra 9,90 de Florence. Aquela bateria foi a síntese de como eu gostaria que as etapas do Circuito fossem. Dois surfistas, aqui separados por mais de 20 anos de idade, se divertindo em condições épicas com um approach agressivo, tentando superar o limite do outro, mas com respeito e um sorriso no rosto.

John John Florence deu show nos tubos de Teahupoo. Foto ; ASP/ Kirstin

John John Florence deu show nos tubos de Teahupoo. Foto ; ASP/ Kirstin

Neste evento, algumas cenas não sairão de minha memória: os drops verticais de John John, as passadas por dentro dos canudos de Medina, o controle de Kelly no foam ball, as vacas horrendas de Dion Atkinson e Owen Wright, o tubo gigantesco de Nathan Hedge, a energia das baforadas… Tanta coisa incrível… Enfim, momentos marcantes que fazem do surf um esporte único.

Fico feliz por Gabriel, a quem tanto critiquei, sempre pensando no que deveria melhorar, simplesmente por enxergar nele o potencial para ser o que é. Fico feliz por John John, a quem tanto admiro, simplesmente por manter-se fiel ao seu espírito havaiano, querendo curtir ao invés de apenas vencer. Fico feliz por existir Kelly Slater e ele mostrar ao mundo que uma vida regrada e compromissada ao que ama faz um “coroa” de 42 anos manter a alma jovem, seja desafiando os mais novos, perdendo e ganhando, mas sendo feliz.

Você pode achar que Gabriel teve uma chave tranquila até a final ou que Florence venceu Kelly na bateria equilibrada, mas o que importa, ao menos para mim, foi ir dormir com o sorriso estampado no rosto e o pensamento orgulhoso de fazer parte desta tribo. São por situações como essa, onde o homem domina a rainha natureza, que o surf é o esporte dos reis. Hoje, 25 de agosto, deu orgulho de ser surfista. Parabéns Top 32! Parabéns Gabriel! Parabéns para nós!

A felicidade com a conquista da etapa e a liderança isolada do ranking, estava estampada no sorriso de Medina. Foto:ASP/Will-Hs

A felicidade com a conquista da etapa,e a liderança isolada do ranking, estava estampada no sorriso de Medina. Foto:ASP/Will-Hs

1 Response

  1. Márcio Guru 24 de junho de 2016 / 11:47

    Parabéns Guaraná,continua dominando a arte de traduzir em palavras escolhidas como se escolhe a melhor onda da série,o sentimento de nós que temos o surf na alma!Abraço do Guru!

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