Pitacos na colcha de retalhos

Caramba, faz tempo que não escrevo nada. Acho que tem uns 25 anos desde que fiquei mais de dois meses sem fazer nenhuma matéria. O motivo é realmente falta de tempo e de saco pra sentar e digitar. Até que ocorreram diversos fatos relevantes e merecedores de opinião, só que com a crise cravada no Brasil, tenho que priorizar onde sai meu sustento, que para quem não sabe não é este espaço aqui. Dada a devida explicação, resolvi dar meu pitaco nas coisas mais importantes que rolaram, para mim, no começo deste ano, sem nenhuma ordem específica.

Montanhas de água

Foi complicado sair da tela do smartphone e, depois do notebook ontem, dia 25 de fevereiro. O Eddie Aikau é um evento à parte, não só pela tradicão envolvida mas principalmente por ser realizado nas desafiadoras direitas de Waimea. Há muito a qualidade da transmissão pela internet vem evoluindo, em parte pela ASP e agora WSL. Pois este campeonato de ondas grandes certamente foi o mais assistido. A quantidade de posts e citações sobre os destemidos competidores que encararam um dos maiores mares em Oahu foi imensa. E a vitória do jovem John John, deixando pra trás lendas do big surf como Ross Clarke-Jones, Grant Baker e Greg Long, demonstra, ao menos pra mim, que obviamente a experiência conta bastante porém a genialidade de qualquer excepcional surfista com coragem faz a diferença. Entre os 5 primeiros, 3 são ou foram Top da elite (JJF, Shane Dorian e Kelly Slater). Destes, apenas Dorian é, de uns 10 anos pra cá, um caçador de emoções. Slater, que inclusive já venceu o Eddie e foi vice na última edicão, a cada dia que passa, mostra que se quiser pode se tornar um ET também nas big waves, enquanto Florence, um diamante bruto de talento, marca seu nome como o surfista mais completo da atualidade. Bonito de ver também o baiano Danilo Couto botando pra baixo, mesmo que aparecesse mais tomando uma das piores vacas do dia. Só cai quem tá lá fora! Foi um grande dia de surf!

John John Florence e Mason Ho no limite. Foto: WSL/Keoki

John John Florence e Mason Ho no limite. Foto: WSL/Keoki

Kelly rules

O Volcom Pro, realizado em Pipe no início de fevereiro foi o verdadeiro Pipe Masters (ao menos no que diz respeito as ondas). Talvez por não ter o azarado (alguns dizem incompetente) Kieren Perrow definindo os dias de competicão. O que importa é que os tubos plásticos de Pipe e Backdoor deram o ar da graça em todos os dias e Slater, há dois anos sem vencer nem purrinha, deu um show e levou o caneco com sobras. Não teve pra Jamie O’Brien nem JJF. O careca entubou de tudo que foi forma e parece que chegará zerado pra primeira etapa do Tour na Austrália. Nada como uma vitória convincente em Pipeline pra mudar o astral. Fiquei a procura de brasileiros de ponta na água. Não vi. Uma pena! Dado o devido desconto a Mineirinho, que até chegou a final deste evento em 2015 e merecia um descanso, acho que uma oportunidade dessas de surfar com outros 3 caras em ondas daquelas não pode ser desperdiçada!

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Descanso merecido

Mick Fanning anunciou que vai dar um tempo de boa parte do Circuito em 2016. Afirmou que irá correr as duas primeiras etapas da WSL e depois vai ficar um tempo de bobeira. Eu particularmente acho que ele merece, e muito, qualquer aliviada dos manda-chuvas da entidade, pois o que este cara passou ano passado só um masoquista. Quase foi engolido, perdeu o segundo irmão e de quebra não tem mais esposa, já que está se divorciando. Isso, sem abalar sua mente, já que por dois anos seguidos disputou palmo a palmo o título mundial com Medina e Mineiro. Vi muita gente falando que não concorda e tal, que ele tem que se reclassificar pelo WQS caso não consiga manter-se pelo Tour… Nego é muito murrinha! Deixa o cara! Ele é um ícone do esporte, e além de tudo o cara mais gente boa do Circuito. Um exemplo de profissional! Além de ser tricampeão do mundo! Aliás, meu parceiro Tulio Brandão escreveu um ótimo texto a respeito no site Waves, vale uma lida!

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Quem leva o caneco?

Se eu tivesse que botar meu dinheiro em alguém para apostar num título mundial em 2016 ele iria todo pra Gabriel Medina. E com a saída de Fanning de boa parte da temporada, acho que fica mais fácil. Gabriel terminou 2015 de forma contrária de como iniciou. Centrado, com a faca nos dentes e o surf no pé. Se tivesse mais uma etapa, ele tinha levado o bi. Tava complicado vencer o menino. Logicamente, muita coisa pode acontecer, mas não consigo enxergar alguém mais favorito do que ele. Filipe Toledo e John John são os caras que talvez mais ameacem o reinado de Gabriel. Filipe, se conseguir resultados mais consistentes em Teahupoo e Fiji vai incomodar, desde que mantenha seu arsenal de manobras mágicas na cartola. Florence, precisa decidir se tá dando uma caidinha de fim de tarde ou disputando bateria… Sei que vem trabalhando bastante a parte física com o amigo Álvaro Romano e sua Ginástica Natural. Precisa melhorar o foco e tentar manter-se são, pois sua forte torção no tornozelo no Brasil ano passado comprometeu sua temporada. De qualquer forma, acho que em 2016 a nova geração enterra de vez a velha. A não ser que o ET se reinvente e faça mais uma vez o impossível. Bem, depois do tubo que tirou em sua última onda no Eddie Aikau, creio que a palavra impossível não consta em seu vocabulário, por isso, de olho nele!

Medina terminou o ano com surf de campeão Foto : WSL / Stephen Robertson

Medina terminou o ano com surf de campeão Foto : WSL / Stephen Robertson

Adeus ao papel

Se o surf dentro d’água vai bem, não se pode dizer o mesmo fora. Com uma crise sem tamanho no país, as marcas de surfwear estão se matando para viver enquanto as revistas especializadas parecem se tornar mortas-vivas. Tá dando pena de ver as últimas edicões da Fluir e Hardcore com poucos anúncios. Mídias que eram fundamentais se tornaram apenas sustento para seus donos. Não tem relevância, apesar de ainda mostrarem em suas páginas ótimas matérias. Culpa da internet? Talvez. Ou não! Quem sabe? O que importa é que pela primeira vez em minha vida não comprei nem uma nem a outra numa banca (ou na FNAC). E sou obrigado a dizer que não me fez falta. Uma pena!

Amadorismo nos palanques

É verdade! 2015 foi o ano dos “profissionais amadores”. Foi um tal de promotor de evento dando cano em competidor e prestador de serviço… Em Saquarema, quem teve que pagar a premiacão dos surfistas foi a WSL, já que os organizadores do evento Prime do WQS não cumpriram com sua parte. Mesmo caso do 6 estrelas de Floripa, que também deu (ou tá dando) canseira em quem trabalhou. Culpa dos Governos dos Estados, principais patrocinadores dos eventos? Da WSL por permitir eventos sem saber se teriam condicões de pagar seus filiados? Dos promotores, por realizar os eventos sem terem a verba necessária? Sim, de todos! A moral da história é que Xandi Fontes é o novo representante da WSL no Brasil e que tem gente que não acredita mais em bla, bla, bla de promotor de evento. Sem contar que o SuperSurf, tão aclamado por voltar e dar peso ao Circuito Brasileiro, tá até hoje devendo neguinho pelo Brasil. Será que o exemplo dos safados dos nossos governantes pegou no surf? Tá parecendo que sim! Mais responsabilidade e menos malandragem é o que precisamos para levantar nosso esporte.

A volta do Super Surf foi motivo de orgulho para toda a comunidade do surf brasileiro. Foto: Pedro Monteiro

A volta do Super Surf foi motivo de orgulho para toda a comunidade do surf brasileiro. Foto: Pedro Monteiro

1 Response

  1. Rossi 7 de março de 2016 / 16:12

    Parabéns pela matéria. Verdades tem que ser ditas. Eu como leitor não sabia desses calotes. Se não bastasse os Governantes, estamos seguindo maus exemplos no surf. Nosso esporte não merece isso!!!!!!

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