Recordar é viver

Se o surf brasileiro chegou ao patamar de potência mundial, temos que agradecer a muitos que trabalharam para isso acontecer. Muito se falou sobre esse assunto quando Medina recebeu o troféu de campeão, mas no momento seguinte todos esqueceram. Foi uma hora de exaltação, que trouxe a lembrança de grandes nomes que fizeram a história do esporte nas últimas cinco décadas. Confesso que fiquei extremamente feliz com o “recordar é viver”, afinal, não teríamos chegado ao tão sonhado título sem o caminho percorrido pelos ícones do surf nacional. O que me deixou pensativo foi o porquê de exaltá-los somente em ocasiões como essa. Entendo que a mídia especializada não tem muito espaço para lembrar daqueles que fizeram tanto pelo nosso esporte, mas é de uma importância tão grande, que poderiam arrumar uma forma de solucionar essa equação. E mais, precisamos deixar algum espaço para os futuros atletas que vão nos representar em breve. Parece que só temos os surfistas do tour, que estão em evidência, e alguns free surfers, que botam pra baixo nas ondas grandes e tubulares. Alguns podem discordar, mas não conheço nenhum esporte em evidência que não reverencie os seus ídolos. É uma forma de fortalecer e perpetuar a imagem do esporte através dos anos. Em novembro passado comecei a postar na página do Surf 100 Comentários, no Facebook, algumas pequenas homenagens aos fotógrafos brasileiros que fazem um trabalho artístico muito importante para as revistas e mídias do surf nacional. Senti que era uma chance de dar um pouco mais de visibilidade a esses profissionais que fazem tanto pelo esporte, mas que não recebem o destaque que seria merecido pela sua importância. Percebi que nossos seguidores ficaram impressionados com a qualidade dos trabalhos, das fotos.

Dadá era um dos grandes nomes do surf brasileiro, dos anos 80.

Dadá era um dos grandes nomes do surf brasileiro, dos anos 80.

Com a conquista de Gabriel Medina e a exaltação dos ídolos do passado, também resolvi falar um pouco sobre eles no Face. Para a minha grata surpresa, constatei que a aceitação foi bem grande. Isso mostra que eles nunca sairão das nossas melhores lembranças. Tenho 50 anos de idade com 38 de surf, e muitos dos garotos que hoje acompanham o esporte não viram aquilo que tive o prazer de acompanhar. Tenho certeza que eles ficariam fascinados com as histórias de Dadá Figueiredo, Pepê Lopes, Rossini Maranhão ou Rico de Souza, apenas para citar alguns exemplos. Poderiam entender a importância de ser TOP 16 da ABRASP nos anos 80; aprenderiam o que representou o fenômeno Fabio Gouveia para o surf nacional; e como Teco Padaratz teve a primeira carreira planejada para levar um surfista brasileiro ao topo do ranking mundial. Reconheceriam os irmãos Paulo, Neno e Amaro do Tombo; conheceriam a ginga do surf brazuca nos pés de Tinguinha Lima e de Jojó de Olivença; saberiam um pouco do que representaram Cauli Rodrigues, Daniel Friedmann, Ricardo Bocão, Otávio Pacheco, Roberto Valério e Valdir Vargas para o surf profissional. Ficariam chocados com a quantidade de títulos que Picuruta Salazar conquistou; com a garra de Sergio Noronha, Peterson Rosa e Neco Padaratz; com a determinação dos baianos Armando Daltro e Christiano Spirro; com o talento de Fred D’orey,Victor Ribas e Renato Wanderley; com a consistência e a frieza de Pedro Muller, Ricardo Tatuí, e Wagner Pupo, em suas baterias. Aprenderiam muito com a volta por cima de Andréa Lopes, e com as dificuldades que Tita Tavares e Fabinho Silva tiveram no circuito mundial. Entenderiam o que representou o tubo nota 10 de Renan Rocha em Pipeline e a importância das performances de Guilherme Herdy e Binho Nunes em ondas tubulares. Apreciariam a beleza do estilo de Rodrigo Dornelles. Veriam como Carlos Burle, Eraldo Gueiros e Rodrigo Resende tiveram resultados expressivos em eventos de ondas grandes. Aplaudiriam a vitória de Bruno Santos em Teahupoo. Poderiam sentir a mesma admiração que tenho por Pepê Cesar, Ricardo Toledo, Piu Pereira, Joca Junior, Nelson Ferreira, Rodolfo Lima, Paulo Kid, Almir Salazar, Luis Neguinho, Saulo Lira, Julio Adler, Bilo, Bita, Hemerson Marinho, Paulo Rabelo, Renato Phebo, Marcelo Bôscoli, Guto Carvalho, Sávio Carneiro, Cesar Ferrugem Baltazar, Fernando Bittencourt, Sergio Testinha, Aldemir Calunga, Mica, Paulo Motta, Marcos Brasa, Roberto Casquinha, Alexandre Herdy, Felipe Dantas, David Husadel, Claudio Marroquim, Rodrigo Osborne, Fabio Quencas, Beto Cavalero, Paulo Zulu, Leo Chinês, Tadeu Pereira, Icaro Cavaleiro, Alex e Fred Guaraná, Jair de Oliveira, Eduardo Coutinho, os irmãos Argolo, Olimpinho, Guilherme Gross, Eduardo Fernandes, Taiu, e muitos outros grandes nomes do surf brasileiro, que presenciei dando espetáculo, nos primórdios do circuito brasileiro. Enfim, uma enorme quantidade de fatos e lembranças que nós não podemos esquecer. Quem fez muito pelo nosso esporte tem que ser lembrado, sempre.
Continuarei com as minhas postagens tentando passar um pouco do que pude presenciar. Sei que não falei de todos, mas lembrem-me, por favor. Afinal, cada um tem suas próprias memórias.

Fred D'orey, Roberto Valério, Rico de Souza e Valdir Vargas, todos legends do surf brasileiro.

Fred D’orey, Roberto Valério, Rico de Souza e Valdir Vargas, todos legends do surf brasileiro.

Daniel Friedmann é um dos grandes nomes da história do surf brasileiro. Foto ; Arquivo Alma Surf

Daniel Friedmann é um dos grandes nomes da história do surf brasileiro. Foto ; Arquivo Alma Surf

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