A vitória da paixão

E o mundo do surf tem um novo rei. E ele saiu das favelas do Guarujá. Uma vitória, como ele mesmo falou, “impensável” para a maioria absoluta da comunidade surfística. Mas enfim, ela veio. As pessoas podem associar um título mundial, ainda mais este que foi tão disputado, às atuações na etapa derradeira, no caso em Pipeline. Mas não podemos esquecer que Adriano de Souza liderou o Circuito Mundial por cinco etapas e sempre se manteve entre os três primeiros do ranking desde o evento de abertura na Gold Coast australiana.

Uma vez dito isso, vamos ponderar que realmente ele pegou um lado da chave de baterias muito mais fácil, em que Slater, Florence, O’Brien, Medina e o próprio Fanning, se mataram na parte de cima. Porém, suas atuações seguras quando as ondas beiraram os 12 pés foram suficientes para mantê-lo na briga. Até que chegou o dia final em condições que acabaram mostrando-se favoráveis. Não que ele seja maroleiro ou não saiba entubar, mas o fato é que seu nome nunca foi e talvez, mesmo sendo o campeão do Masters de 2015, nunca estará no rol dos favoritos em Pipe. Mas o que importa? Bede Durbidge, Taj Burrow e até o atrapalhado comissário da WSL Kieren Perrow já venceram ali em condições fracas sem estar no topo das apostas.

Vencendo Medina na final, Mineiro também diminuiu um pouco a surpresa com a virada pra lá de polêmica de Gabriel sobre Mick Fanning na semifinal que deu o título mundial ao brasileiro. Um 6,5 overscore acabou com qualquer dúvida em relação as conspirações contra os brasileiros na WSL. Para mim, um erro que serviu como uma facada no coração de um digníssimo Mick Fanning, que dramas à parte, teve um ano de 2015 para esquecer. O head judge Richie Porta e seus fracos comandados parecem querer aparecer mais que os atletas e ao invés de fazer uma disputa justa entre os dois últimos postulantes ao caneco, resolveram se intrometer e quebrar uma tradicão sagrada em Pipe, onde o que conta são os tubos e nada mais do que os tubos. E nunca um full rotation, numa marola, completado forçadamente poderia valer mais que um barrell na Rainha do North Shore. E olha que já vi Tom Carroll aplicando uma rasgada insana em morras de 12 pés! Adriano tinha toda a condicão de vencer qualquer um neste dia, e penso que seu título, no exterior, pode ter esta pequena mácula, imerecida pela tremenda temporada do único competidor que fez quatro finais (vencendo duas). Nós merecíamos ver Mick X Mineiro!

Na maré de maus exemplos que acontecem no Brasil, Adriano de Souza mostra que com muita dedicação, profissionalismo e talento, pode-se chegar ao topo. Mineirinho é a consagração do brasileiro honesto, que não desiste de seus sonhos e nem se deturpa para realizá-los. Assim como Medina, Adriano é o Brasil que dá certo, mesmo por caminhos tortuosos, onde a remada contra a maré é forte e cansativa.

MICK FANNING

Para finalizar, gostaria de destacar a forma com que Fanning, que quase foi engolido por um tubarão, que perdeu outro irmão de forma repentina, que pelo segundo ano perde a oportunidade de conquistar seu quarto título mundial, soube ser derrotado. É na hora mais escura que você conhece a alma e o caráter de um homem. E Fanning está, a cada dia que passa, se mostrando um ser iluminado, humilde, bondoso. Uma pena que o mundo não tenha mais seres humanos como ele. E tenha certeza, de que tanto Gabriel quando Adriano se espelham nesta figura bacana que é Mick Fanning. E ainda tem Filipinho Toledo, que numa aula de fidalguia após sua conturbada derrota no Round 3, mostrou ser um garoto de bom senso e um dos meus favoritos para o caneco em 2016.

Parabéns Mineiro, há muitos anos o escolhi, bem moleque, para ser a capa da Fluir comemorativa de 20 anos, porque acreditava que você seria o surfista responsável pela mudança brasileira no Tour. Gabriel foi o primeiro a vencer o título, mas você é o grande líder, o cara que mostrou o caminho a ser seguido, longe das drogas, com dedicacão, seriedade, profissionalismo e acima de tudo paixão. Você pode não ser um ET como Slater ou um mago como Medina, mas ninguém é mais apaixonado pelo surf do que ti!

MINEIRO CAMPEÃO

 

 

 

2 Responses

  1. Provos Brasil 18 de dezembro de 2015 / 01:44

    Não existe macula nesta trajetória… se tem um que merece é esse cara, por tudo que ele dedicou ao esporte… Parabéns Adriano!!!

    Cara nunca vi um cara para ser paga-pau como esse Renan Rocha, o cara tem que apreender (vale para o Edinho), não é porque foi surfista que todo mundo que esta assistindo é idiota, no discurso vem falar de “problemas com o localismo”, tenha a santa paciência….

    Concordo com o Guaraná, lá não existe aéreo, mas JJFlorence teve uma de suas notas elevada por “ele”… o o “tubo” que ajudou o Medina passar para a semi foi bem inferior ao do Felipinho, que não veio a nota contra um local né Renan?

    Como sempre o blog está ótimo…

    Salut
    Provos Brasil

  2. Henrique Knevitz 14 de janeiro de 2016 / 15:04

    Boa tarde Guarana,

    Respeito muito todas suas colunas. Gosto de suas opiniões fortes, que demonstram personalidade. Mas nesta coluna, sou obrigado a colocar duas observações importantes: colocar o Kieren Perrow no mesmo patamar de vitórias do Bede e Taj em Pipe, ao meu ver é um erro. KP sempre foi um surfista limitado em comparação aos grandes nomes do tour, mas se existiam condições onde ele era um real postulante, eram em ondas pesadas e tubulares, portanto seu título em Pipe não foi surpress nenhuma.
    Outra observação é em relação à nota do Medina. Concordo totalmente que foi overscore. Mas é importante afirmar que o Fanning, apesar de ter sido um dos melhores surfistas do campeonato, vinha tendo seus scores julgados sempre para cima e, na minha humilde opinião, foi ajudado quando não deram a nota pro Slater naquele tubaço com drop bizarro na última onda do round 4.
    No mais parabéns e digo que sinto falta de sua opinião nas revistas especializadas também. Abraço

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