Palmas, de pé, para ele!

Depois de duas semanas de momentos inesquecíveis durante a Rio 2016, quando eu pensava que nada mais me faria empolgar diante da TV, eis que ressurge das cinzas, Robert Kelly Slater, aos 44 anos, tendo uma das performances mais perfeitas da história do surf competitivo num dia final de evento. Foram quatro baterias, 77,34 pontos em 80 possíveis, o que dá uma média de 19,335 por bateria ou duas notas 9,66 por disputa. Não me lembro de algum surfista ter números destes no último dia de uma etapa do Circuito Mundial.

O que Slater fez em cima de sua prancha triquilha cheia de envergadura (que mostrou-se ideal para os drops rápidos, estoladas e controle no foam ball) foi uma das maiores performances que tive o privilégio de assistir. E dessa vez, na minha TV de led, no escurinho, em casa, coisa de cinema.

Sei que estamos diante de uma mais que provável disputa entre os dois melhores surfistas do planeta atualmente – Gabriel Medina e John John Florence – pelo título mundial da temporada. Mas a cada saída mágica de algum tubo, Kelly simplesmente me fez esquecer o ranking e me lembrar da qualidade, da genialidade, do prazer de apreciar gente como Michael Jordan, Pelé, Federer, Phelps, Bolt… Não soa exagero, mas Slater, para mim, está no mesmo patamar deste caras, com um adendo, nenhum destes citados acima manteve o nível apurado durante mais de 25 anos.

O maior nome do surf mundial deu show em Teahupoo.

O maior nome do surf mundial deu show em Teahupoo. Foto: WSL – Cestari

Penso que o universo conspira a favor de certas pessoas. E tanta harmonia. aliada ao mínimo detalhe dentro de uma onda, tornaram Kelly hoje (quando escrevo) numa obra prima da natureza, parte do mar, como se fosse um golfinho pulando e mergulhando em sua dança frenética e linda, sabendo que toda aquela movimentação e energia quebrando numa bancada rasa de coral a 1500 metros da costa fosse um palco preparado para o maior espetáculo da Terra. Kelly não é bailarino, mas ele dançou nas ondas de forma tão perfeita que até uma sereia seria capaz de jurar que ele mora lá.

Por alguns momentos, deveríamos deixar de falar sobre juízes e suas opiniões, de garfos, rodeios ou assaltos. Vamos dar destaque a perfeição “Do Surfista”, no seu segundo habitat, o mar. A vitória no Tahiti deu um pouco mais de emoção e quem sabe o toque final, demonstrado pelo choro copioso de Slater, como uma criança, na premiação. Se fossem outros tempos, talvez a cara arrogante estaria ali. Mas não agora. O maduro Freak, ET ou seja lá como você o define, voltou a ser de carne e osso, apesar de vestir a lycra dos deuses.

Abençoados somos nós, que podemos ver, ao vivo e a cores, a genialidade de um mito. Desculpem-me Medina e John John, mas hoje os louros reaparecem na cabeça lisa e oval dele. A coroa é velha, mas tem dono. Aos outros restam admirá-lo e quem sabe aprender: A saber ganhar, a se motivar, a surfar. A nós, cabe agradecer por fazer parte de uma geração que viveu na mesma época. Daqui há 20 anos, certamente vou poder dizer: “Eu vi Kelly Slater!”

Quatro notas 10 e várias notas próximas desse patamar. Um verdadeiro ET. Foto: WSL - Cestari

Quatro notas 10 e várias notas próximas desse patamar. Um verdadeiro ET. Foto: WSL – Cestari

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