Gold Coast e suas bolas pretas e brancas

E começou o Circuito Mundial de Surf Profissional. O palco de estréia foi a cidade de Coolangatta, no Gold Coast australiana, no famoso Superbanks, enorme bancada de areia que linka Snapper Rocks, Rainbow Bay e Greenmount. Muito foi dito e escrito sobre a abertura da WSL mas não posso deixar de dar meus pitacos no que gostei e detestei neste evento, que para mim, é um dos mais bacanas de todo o tour.

Vamos as bolas brancas.

As ondas

Há muito tempo que não rolavam ondas tão boas neste início de Circuito. O evento rolou quase que direto, com os homens e mulheres, e apesar do vento atrapalhar um pouco, principalmente nos dois últimos dias, tiveram horas em que era impossível o mar estar mais perfeito. Com a pista ideal, o que se viu foram performances de alto nível, inclusive dos goofies, que sempre tinham dificuldade em surfar estas ondas rápidas, ocas e de difícil leitura.

Backside ataque

É inegável que alguns surfistas se sobressaíram com suas pontadas verticais nas direitas de Snapper. Para mim, a velocidade de Ítalo Ferreira, a precisão de Owen Wright e a força de Gabriel Medina foram os destaques. Connor O’Leary e Matt Wilkinson, surfaram bem, mas não variaram nada, passando baterias muito mais por um anticritério de julgamento do que por realmente estarem arrepiando.

Gabriel Medina mostrou um forte ataque de backside. Foto :WSL

Gabriel Medina mostrou um forte ataque de backside. Foto :WSL

O retorno de Owen

O australiano parece ser um cara gente fina. Seu drama no final de 2015, em Pipeline, e a complicada recuperação ano passado, encheram os olhos de todos com muitas lágrimas. A fé, paciência e claro, o enorme talento, foram os motivos de Owen mostrar tanto surf, mesmo muitos quilos abaixo de seu peso no seu comeback. Surfou bem, mas não o suficiente, na minha opinião, para vencer um evento tão equilibrado. Ficou para mim, a partir do Round 3, a intuição que ele venceria de qualquer forma…

Depois de um ano parado por uma contusão, Owen Wright voltou com tudo para o tour. Foto: WSL

Depois de um ano parado por uma contusão, Owen Wright voltou com tudo para o tour. Foto: WSL

Parko e Slater

Sim, eles estão mais velhos (Slater então…), com manobras mais modestas, porém quando vem a boa… Tanto Parko quanto Kelly poderiam ter vencido o campeonato. Joel porque além de conhecer como poucos aquela onda, tem um surf que se encaixa como uma luva nas condições locais, com muitos carves fortes e pancadas no lip. Já Kelly, estava bem veloz e com mais pressão do que antes. Parece estar dominando melhor seu equipamento. A concentração e vontade com que disputou sua bateria contra Medina, quase vencendo, mostram o quanto ele quer seu 12º título mundial. Num evento onde era considerado azarão, nada mal um 5º lugar. Lembrando que temos agora as bombas de Margaret River, as pesadas direitas de Bell’s e ainda Fiji, Teahupoo e Pipe. Se derem mole pro careca…

Mesmo com 35 anos, Joel Parkinson continua arrepiando. Foto: WSL

Mesmo com 35 anos, Joel Parkinson continua arrepiando. Foto: WSL

Medina, JJF e “Happy” Gilmore

Estes três personagens foram os protagonistas do Quiksilver Pro e Roxy Pro. Medina foi o melhor surfista do evento até o vento atrapalhar as condições do mar. Não deve ter tido uma lesão muito séria, pois surfou muito bem, provavelmente a base de analgésicos, mas quando o mar ficou mexido, visivelmente teve dificuldade. Seu ataque ao lip de costas para as ondas me lembrou Occy, o Destruidor, em 2002, quando estive pela primeira vez no pico. Medina melhorou muito seu backside, que eu mesmo tanto critiquei. E isso pode ser o diferencial num segundo título mundial. John John está confiante. Foi quase perfeito em todas as baterias, escolhendo a dedo suas ondas e surfando como um verdadeiro campeão mundial. Teve o repertório mais completo, melhorou seu estilo e cometeu um único erro, nas semis, quando caiu numa onda que certamente seria high score e não daria margem para a trapalhada dos juízes em sua derrota para Wilkinson. Para quem pensava que o havaiano iria ficar satisfeito com seu caneco, pode tirar o cavalinho da chuva, pois Florence está mais focado que em 2016. Por último, não dá para esquecer o que Stephanie Gilmore fez na sua bateria nas quartas-de-final. As três pancadas no outside de sua quarta onda seriam nota 10 em qualquer categoria. Acho que foi um dos 10 mais fáceis já dados na história das competicões. Esta mulher não surfa como homem, e sim como uma grandíssima hexacampeã mundial.

Stephanie Gilmore não deu chance para as adversárias, conquistando mais um título em sua vitoriosa carreira. Foto : WSL

Stephanie Gilmore não deu chance para as adversárias, conquistando mais um título em sua vitoriosa carreira. Foto : WSL

 

Agora, as bolas pretas.

Filipe Toledo

Que Filipinho é um monstro no surf todos sabem, mas até por ser isso tudo, sua derrota no Round 2 foi supreendente, ainda mais perdendo para um surfista limitado como Ezequiel Lau. Favoritaço em todas as apostas, Toledo teve as boas ondas a seu favor, estrutura mas faltou talvez um pouco mais de horas no crowd ou quem sabe, sorte. Se esta prematura derrota doeu em mim (ainda mais pelo meu Fantasy), imagine nele! Fiquei decepcionado.

Filipe Toledo era considerado o maior favorito para a etapa de Snapper, mas foi eliminado no round 2. Foto: WSL

Filipe Toledo era considerado o maior favorito para a etapa de Snapper, mas foi eliminado no round 2. Foto: WSL

As entrevistas pós baterias

Sei que a WSL é uma entidade privada, que cerceia um pouco as informações negativas sobre seu produto, mas estas entrevistas sem graça após as baterias são um pé no saco. Porra, vamos botar bons jornalistas ou então alguém mais preparado para criar perguntas mais interessantes. Ninguém aguenta mais saber como foi a bateria, como foi aquela manobra ou onda. Queremos saber o que o derrotado achou de julgamento, se sentiu-se prejudicado, qual a estratégia dos vencedores, o que eles acham das condicões do mar, se concordam com o comissário Kieren Perrow… Enfim, sei que isso não vai rolar mas tá na hora de apimentar um pouco as coisas, pois basta ter pouco surf em 30 minutos. Quando nego sai da água ainda vem perguntas e respostas tipo “chove não molha”… Chato pra cacete!!! Exceção para a reunião entre Slater e Medina aguardando as notas que definiriam a vitória do brasileiro. Isso sim é informação!

A Escolinha do Professor Porta

E quando você acha que já viu tudo de ruim no julgamento eis que surge o Professor Porta e seus alunos. Na boa, não sei para que mostram aquele gráfico bacana nas transmissões com os 5 mandamentos do critério de julgamento: Tu variarás as manobras, Tu terás comprometimento, fluidez, força, velocidade, Tu farás manobras mirabolantes… E Matt Wilkinson e Owen Wright chegam à final. Se existe um anticristo dos mandamentos do julgamento este chama-se WILKINSON. Ele não varia manobra alguma, não tem força nem velocidade e a fluidez em seu vocabulário só serve na hora de urinar seu fluido vindo da bexiga. Owen é quem mais bate reto usando a borda, mas pesando uns 5 a 8 quilos a menos parecia um frangote em engorda, soltando pouca água comparado ao Medina por exemplo, e variando menos ainda que seu colega Matt. A bateria entre John John e Wilko, nas semis, tinha que servir de lição de casa para todos os juízes do planeta, mostrando como não se deve julgar. Comparar a nota 6 de JJF com o mítico 8,07 que fez o australiano vencer a semi, beirou a loucura. Creio que se deveria pensar seriamente em pegar os alunos (juízes) e o teacher (head), trancá-los numa sala escura, apenas com monitores, sem áudio, e inibir a ação externa de locutor, público, competidores e até dos próprios “árbitros”. Talves assim eles consigam julgar apenas aquilo que veem e não usem os outros sentidos. Com tanto a ganhar e perder, está na hora de dar um basta a disparates como a derrota de Florence e outras polêmicas baterias, sempre por absoluta fuga dos próprios critérios definidos por eles mesmos. Fica difícil até saber se é burrice, incompetência ou má vontade. Ou quem sabe tudo isso e mais? Pra quem acha que os brasileiros são perseguidos, tá aí uma prova que a incapacidade é pra todos.

 

 

 

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