Supremo Toledo

Estou há quase dois meses sem escrever por aqui. Além do trabalho contínuo, não achei muita coisa interessante para colocar neste espaço. Pensei em falar sobre os favoritos ao título de 2015 na World Surf League, mas depois de tantos anos fazendo a matéria dos Top na FLUIR, que sempre causou muita polêmica, resolvi esperar o evento rolar para emitir minha opinião, ao menos com a performance fresca nas ondas da Gold Coast aussie em minha mente. E acho que fiz o certo. Mesmo com tantos adiamentos pela falta de ondas, no final valeu a pena esperar. Foram diversos assuntos: desde a enorme mídia em cima do campeão mundial Gabriel Medina até a vitória incontestável e facílima do furacão Filipe Toledo.

Apenas algumas vezes nestes 30 anos que acompanho eventos de surf, tive a certeza da vitória de um surfista desde a primeira fase. É lógico que as ondas de Snapper Rocks nesta etapa, pequenas e manobráveis, foram um palco mais do que perfeito para o estilo, velocidade e variedade que o local de Ubatuba possui (não estou dizendo que ele é maroleiro, apenas constatando que em ondas menores para a direita fica ruim de derrotá-lo). Só que somos obrigados a lembrar de que Filipe tem apenas 19 anos ainda com aquele corpinho de menino. E o que me surpreendeu, foi a potência com que ele agrediu as perfeitas direitas de Rainbow Bay (a 2a base do famoso Superbanks, que começa na pedra de Snapper, onde a maioria dos surfistas ficou). Sempre cultuado pelos aéreos altíssimos e controlados, Toledo desta vez exibiu um repertório que me lembrou Martin Potter em 1989, quando venceu o título mundial com 7 vitórias na temporada e um passeio ante seus adversários. Foram rasgadas e carves jogando muita água, batidas no lip empurrando a rabeta e as manobras mais modernas e difíceis executadas em todo o evento. Um show digno de um Kelly Slater ou o próprio Pottz no auge de suas carreiras.

Filipe Toledo surfou om muita velocidade e pressão. Foto: WSL

Filipe Toledo surfou com muita velocidade e pressão. Foto: WSL

Performances assim aparecem em algumas ocasiões, vide Medina em Fiji ano passado ou John John Florence em Trestles (mesmo perdendo para Jordy Smith na final). E para mim, o segredo para levar o caneco obviamente é manter este nível durante o maior tempo possível. E se faltava para Filipinho o gostinho de chegar numa final, isso acabou. Agora, ele não só sentiu o gosto como tenho certeza de que adorou o sabor. Os grandes campeões sobressaem pela fome de vitórias e não só pela genialidade e inteligência.

A destacar, no meu ponto de vista, outros três surfistas: Miguel Pupo, que finalmente rompeu a barreira das quartas e chegou perto de disputar o ponto alto do pódio. Mostrou segurança e estilo limpo de backside e, junto com Owen Wright, tem o melhor surf de costas do Tour. Wigolly Dantas, o Guigui, pode ter sido surpresa para muitos, não para mim. Há tempos observo seu talento e cravo aqui que ele brigará para ficar entre os Top 16 na temporada, com grandes chances de ser o Roockie of The Year. Guigui, além de surfar muito, é um mestre na arte de entubar, principalmente para a esquerda. E se Cloudbreak ou Restaurants, Teahupoo e Pipe quebrarem de jeito, ele tem tudo para fazer história.

Wiggolly Dantas foi o melhor novato na primeira etapa do WCT 2015. Foto:WSL

Wiggolly Dantas foi o melhor novato na primeira etapa do WCT 2015. Foto:WSL

O outro atleta é o australiano Julian Wilson. Muito se falou, e se fala, do duelo virtual dos gênios Medina e JJF, mas na prática, Wilson fez duas finais nos dois últimos eventos (venceu em Pipe e agora foi vice no Quik Pro) mostrando versatilidade e consistência. Mal visto pelos brasileiros, depois daquela vitória mequetrefe contra Gabriel em Portugal, na verdade o garoto tem um estilo bonito, é excepcional nas manobras aéreas, é um excelente tube rider e parece ter amadurecido horrores ano passado, quando teve que suar a camisa no Hawaii para garantir sua vaga na elite em 2015. Muitos campeões surgiram depois de um ano ruim. Convém não menosprezar Julian Wilson.

Julian Wilson entra forte na briga pelo caneco de 2015. Foto: WSL

Julian Wilson entra forte na briga pelo caneco de 2015. Foto: WSL

Assim como 2014, um brasileiro inicia a temporada na ponta do ranking. Mas Filipe tem uma vantagem sobre o Medina do ano passado por ser regular e encarar Bell’s Beach de frente, um dos spots mais complicados de surfar pelo volume e linha proporcionada na onda. Se mantiver o que fez em Coolangatta, vai ter australiano se tacando de cabeça na parede, pois Filipe Toledo está com um surf digno dos grandes surfistas aussies, sempre irreverentes e potentes. Treinado nas ótimas ondas de Ubatuba, Filipinho deixou de ser cidadão brasileiro para se tornar ídolo do mundo. Um super herói, cheio de truques, um ser supremo! Ao menos em Snapper Rocks. Que continue assim!

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